SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após mais de um ano de negociações, Brasil e Suécia assinaram neste sábado (9) uma carta de intenções para promover um negócio casado no qual a FAB comprará mais caças Saab Gripen, enquanto o país nórdico irá adquirir aviões de transporte tático Embraer KC-390.
A discussão foi revelada pela Folha em setembro do ano passado. Agora, os ministros da Defesa de ambos os países, José Mucio Monteiro e Pal Jonson, colocaram o compromisso no papel durante uma visita do sueco a Natal.
A capital sedia o exercício Cruzex, da Força Aérea, que reúne aeronaves como o poderoso F-15 americano, F-16 do Chile, o próprio KC-390 de Portugal e modelos de outros países. No caso do Brasil, é a estreia de seu novo caça, o sueco Gripen, com 7 de suas 8 unidades no país em ação.
“A cooperação aeroespacial é importante para a Suécia e o Brasil. A nova carta de intenções fornece uma base para aprofundarmos ainda mais essa cooperação”, disse Jonson.
Como o nome diz, ainda há muito a negociar, mas o documento dá materialidade a um negócio que vinha se arrastando por motivos diversos, a começar pela resistência de setores da Força Aérea sueca de substituir o modelo americano C-130 Hércules pelo KC-390.
Insatisfeita, a FAB divulgou que estava estudando a compra de um lote de caças americanos F-16 de segunda mão, provavelmente de algum estoque europeu mais barato, para cobrir primariamente a falta que farão os aviões de ataque AMX, que vão ser aposentados no ano que vem.
Na prática, era mais pressão: para fazer um F-16, um avião nascido para combate ar-ar, virar um avião de ataque, é necessário um pacote específico de aviônicos e de armas que tornaria qualquer compra em algo bem mais complexo e dispendioso.
Questões orçamentárias brasileiras, que já vêm rondando novamente o programa do Gripen, estavam à mesa. A proposta que está na mesa prevê um aumento na frota brasileira do caça sueco dentro dos 25% permitidos como aditivo sobre o contrato assinado em 2014.
Em valores atuais, isso daria algo como R$ 4 bilhões a mais, a serem amortizados em 25 anos, mas com desembolsos anuais prévios. No momento em que o corte de gastos está na ordem do dia, viabilizar isso parece complexo.
Nada garante o modelo final. No ano passado, o presidente Lula (PT) chegou a negociar diretamente com os suecos durante uma visita de delegação a Brasília, sem sucesso.
Fala em favor do Gripen o fato de, com todos os atrasos até aqui, o programa ser único em termos de transferência tecnológica. O avião é o mais avançado da América Latina e já tem unidades suas sendo montadas na fábrica da Embraer, parceira da Saab, no interior de São Paulo.
Críticos no mercado veem um horizonte estreito para o modelo, dada a mudança do panorama de segurança europeu com a Guerra da Ucrânia, que provocou uma corrida de países do continente pelo F-35 de quinta geração americano.
Ainda assim, após perder contratos importantes, o Gripen conseguiu um segundo cliente externo para sua nova geração, a E/F, depois do Brasil: a Tailândia, que opera o modelo anterior da aeronave, anunciou que irá comprar novos aviões.
Críticos da modelagem do programa brasileiro dizem que a transferência adquirida pela Embraer e outras empresas brasileiras, além da FAB, terá utilidade reduzida se o Gripen não conseguir mercado na América Latina, onde principalmente Colômbia estuda sua aquisição.
Para a Embraer, a carta é ótima notícia, pois confirma mais um país da Otan, a maior aliança militar do mundo, como seu provável cliente. O KC-390, na versão KC de reabastecimento aéreo, o C, apenas de transporte, já foi vendido para Portugal, Hungria, Holanda, República Tcheca, todos membros do clube liderado pelos EUA, e Áustria, que é próxima dele.
O avião também está na lista de compras da Coreia do Sul e, naquilo que representará um ganho de escala enorme se ocorrer, da Índia e da Arábia Saudita. Qualquer um desses países obrigará a abertura de uma linha do avião no exterior.
O Brasil, o cliente de largada, reduziu sua encomenda de 28 para 19 aeronaves. Sete deles já voam no país, além de duas unidades portuguesas e outra, húngara. Estão na mira da fabricante paulista também os Emirados Árabes Unidos, Marrocos e o Chile.
IGOR GIELOW / Folhapress