Brasil pode perder bicampeã olímpica da vela para a ‘Fórmula 1 do mar’

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Capitã da equipe brasileira no SailGP, a “Fórmula 1 do mar”, Martine Grael aponta para uma virada de página na carreira.

Bicampeã olímpica na vela —venceu na Rio-2016 e Tóquio-2020 na classe 49er FX, ao lado de Kahena Kunze- Martine indica que o foco está na competição de catamarãs que atingem altas velocidades, e que tem uma equipe brasileira pela primeira vez. Os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028 não estão nos planos neste momento.

“Não está no meu horizonte. Eu, realmente, fiz muito tempo de campanha olímpica para ter essa segurança. Mas, ao mesmo tempo, não deixo de acompanhar os campeonatos. Teve agora um dos principais torneios, em Palma [de Mallorca, na Espanha]. Foram 14 anos, sei lá, em que corri todos os anos, e esse foi um dos poucos anos em que eu não corri. Acompanho, vejo a galera nova que está entrando, a galera antiga que ficou… Para mim, a dedicação com isso [SailGP] tem de ser muito grande para conseguir funcionar. É diferente dos outros times que estão aí há mais tempo. Precisamos nos esforçar mesmo para fazer o nosso time começar a conquistar resultado. Então, a dedicação está inteira para isso”, diz.

“Eu não vou dizer ‘nunca, jamais faria as Olimpíadas de Los Angeles’, mas, com certeza, não faria em uma condição que já fiz as outras campanhas olímpicas, com muito treino. Poderia dizer que não, mas não quero assinar embaixo ainda (risos).”

Martine é a primeira mulher a comandar um barco no SailGP, que está na quinta temporada e reúne 12 equipes nacionais competindo em catamarãs idênticos de 50 pés. O Time Brasil tem o fundo de investimentos Mubadala como patrocinador máster.

É um evento com bastante emoção, bem interessante. A primeira vez que eu vi, fiquei, realmente, chocada. É muito legal! É uma das coisas mais interessantes da qual já participei. É [um circuito] muito curto. Os barcos vão se encontrando o tempo inteiro, vão se cruzando e é muito desafiador para nós, velejadores. É muito interessante de assistir, até para quem não conhece a vela é fácil de assistir. Realmente, recomendo [acompanhar]. Martine Grael

A equipe conta ainda com Marco Grael, Mateus Isaac, o neozelandês Andy Maloney, e os britânicos Leigh McMillan e Richard Mason. Além disso, a parceira de Olimpíadas Kahena Kunze está no time como reserva.

“Estamos nos adaptando. É uma evolução contínua. Eu acho que o legal, como time, é você olhar para trás e estar satisfeito com a evolução. Estar nesse estágio, evoluindo da maneira em que estamos, de certa forma, é importante. Só que, ao mesmo tempo, o resultado ainda não está ali. Então, já estamos começando a esperar um pouco mais. Os times que estão aí [no tour], já estão na quinta temporada. Estamos entrando agora. É bastante difícil você conseguir aportar toda essa experiência que eles tiveram nas temporadas. Ainda mais indo para lugares novos”, contou.

A primeira etapa da temporada foi em Dubai, nos Emirados Árabes, em novembro. O torneio desembarcaria no Brasil pela primeira vez nos dias 3 e 4 de maio, no Rio de Janeiro, mas houve alteração no calendário devido a um problema na vela do Time Austrália durante a prova em São Francisco.

“O SailGP tomou a difícil decisão de cancelar o Enel Rio Sail Grand Prix 2025, que ocorreria nos dias 3 e 4 de maio, visando facilitar os reparos necessários antes do evento de Nova York (7 e 8 de junho) e do restante da temporada”, disse trecho do comunicado oficial.

Durante participação na CBC & Clubes Expo, em abril, Lars Grael, um dos grandes nomes da vela brasileira, demonstrou preocupação quanto à renovação na modalidade, e citou o momento da carreira da sobrinha. “Não podemos depender única e exclusivamente da Martine Grael e Kahena Kunze, elas vivem outra fase na carreira na vela profissional. É um momento muito importante de renovação”.

Martine seguiu a mesma linha. “Temos bastante preocupação, inclusive, até com o próprio rumo que a CBVela tomou no último ciclo. Mas isso não me pertence mais. Sentimos, desde depois do Rio, quando tivemos uma campanha olímpica de muito sucesso e conseguimos verba para trazer equipamento, que falta interesse de times novos entrarem. Não sei se um pouco amedrontados ou por já termos ganho uma medalha, mas em todos os outros países, quando uma pessoa ganha uma medalha, entram cinco outras pessoas querendo ‘roubar’ no próximo ciclo. Não vimos isso acontecer”, disse.

“Vejo isso com um pouco de preocupação, mas a vela, no Brasil, historicamente, vem de gerações. Gerações que vieram e foram embora. E, para fazer dar certo, tem de ter muito sangue no olho. A galera jovem tem de estar em um nível de competição já muito alto entrando na vela olímpica. Então, acho que é uma coisa um pouco geracional também”, completou.

CALENDÁRIO 2024-25 DO SAIL GP

Dubai (Emirados Árabes) – 23 e 24/11/2024

Auckland (Nova Zelândia) – 18 e 19/1/2025

Sydney (Austrália) – 8 e 9/2/2025

Los Angeles (EUA) – 15 e 16/3/2025

São Francisco (EUA) – 22 e 23/3/2025

Nova York (EUA) – 7 e 8/6/2025

Portsmouth (Inglaterra) – 19 e 20/7/2025

Sassnitz (Alemanha) – 16 e 17/8/2025

Saint-Tropez (França) – 12 e 13/9/2025

Genebra (Suíça) – 20 e 21/9/2025

Cádiz (Espanha) – 4 e 5/10/2025

Abu Dhabi (Emirados Árabes) – 29 e 30/11/2025

ALEXANDRE ARAUJO / Folhapress

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