SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) aproveitou o primeiro discurso como presidente do G20 para voltar a lamentar a guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza e criticar o que ele considera inação por parte dos países-membro.
O QUE LULA DISSE
Lula tem sido uma das principais vozes internacionais pelo cessar-fogo desde o início do conflito, em outubro. Ele tem questionado em especial a morte de mulheres e crianças, maior número de vítimas entre os mais de 18 mil civis palestinos e 1,2 mil israelenses mortos.
Na fala, que marca o encontro a área financeira do G20, Lula afirmou que “não convém um mundo marcado pelo recrudescimento dos conflitos e crescente fragmentação” ao lamentar a guerra em Gaza. O presidente citou ainda a “violação cotidiana” do direito humanitário nos ataques de Israel à Palestina, e destacou a importância de libertar os reféns israelenses capturados pelo Hamas em 7 de outubro.
“O Brasil segue de luto com o trágico conflito entre Israel e Palestina. A violação cotidiana do direito humanitário é chocante, e resulta [na morte de] milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças. O Brasil continuará trabalhando por um cessar-fogo permanente, que permita a entrada da ajuda humanitária em Gaza e pela libertação de todos os reféns [tomados] pelo Hamas”, disse Lula, em encontro do G20.
O presidente afirmou ser “fundamental” que a comunidade internacional trabalhe para a construção de dois estados, um de Israel e outro da Palestina, que possam viver “lado a lado em segurança e em harmonia”, e ressaltou que, se não houver “harmonia”, as crises vivenciadas hoje, podem “se multiplicar”.
Lula abriu a reunião de sherpas (os representantes pessoais dos líderes das 20 maiores economias) com vice-ministros de finanças e representantes de Bancos Centrais do G20. Além de criticar a guerra em Gaza, o petista também reforçou a necessidade do combate às desigualdades que, afirmou, “estão na raiz dos problemas que enfrentamos ou contribuem para agravá-los”.
BRASIL NA PRESIDÊNCIA DO G20
Este foi o primeiro evento do grupo Lula como presidente do G20. O Brasil assumiu a presidência oficialmente neste mês e vai comandar o bloco durante 2024. Reassumir protagonismo internacional é uma das prioridades de Lula neste terceiro mandato.
O Brasil já estabeleceu três prioridades para a sua gestão, salientadas por Lula no discurso:
Inclusão social e combate à fome e à pobreza
Promoção do desenvolvimento sustentável em suas dimensões social, econômica e ambiental e as transições energéticas
Reforma das “instituições de governança global”, para reduzir a desigualdade entre os países
“Quase metade da população mundial – 3,3 bilhões de pessoas – vive em países que destinam mais recursos para o pagamento do serviço da dívida do que para a educação ou a saúde. Isso constitui uma fonte permanente de instabilidade política. Soluções efetivas pressupõem que os devedores, sejam eles de renda baixa ou média, possam se sentar à mesa para resguardar suas prioridades nacionais”, disse Lula, sobre combate à desigualdade entre países.
Em sua fala, Lula também destacou que a “crescente fragmentação” com a formação de blocos protecionistas, somada à destruição ambiental e às guerras, pode resultar em um cenário de instabilidade geopolítica com “consequências imprevisíveis” para a estabilidade da comunidade internacional.
Ele disse ser necessária “uma nova globalização que combata a desigualdade”, que tenha compromisso com as causas ambientais e que representem a pluralidade, em uma nova crítica à atual formação do Conselho de Segurança da ONU, em que apenas cinco países exercem o poder de veto.
LUCAS BORGES TEIXEIRA E TIAGO MINERVINO / Folhapress