SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil chegou, nesta sexta-feira (5), à marca de 1.078 mortes por dengue este ano. O número corresponde a uma média de 11 pessoas mortas por dia pela doença.
O Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde ainda registra 1.593 óbitos em investigação.
Com essa marca, o país se aproxima, em abril, do recorde de mortes por dengue em um ano. Em 2023, foram 1.094 vidas perdidas no total, segundo o Ministério da Saúde. O recorde anterior ocorreu em 2022, com 1.053 óbitos.
O terceiro ano com mais mortes foi 2015, com 986 vítimas. O início da série histórica foi em 2000, quando o país registrou quatro mortes.
Nada justifica essa quantidade de mortes, afirma a infectologista Fernanda Grassi, pesquisadora na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Bahia. “Dengue é uma doença determinada socialmente também, porque a partir do momento que não tem coleta de lixo e distribuição de água regular, tudo isso facilita a proliferação do mosquito”.
Artigo recente publicado pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz analisa os óbitos por dengue e aponta ainda que a desassistência e a desatenção ao potencial agravamento que os pacientes podem apresentar são as principais razões associadas às mortes por dengue.
“Há o fato também de as pessoas não estarem procurando precocemente os serviços de saúde”, diz Grassi, levantando a hipótese de um atraso nas campanhas governamentais.
“A dengue é uma doença que pode agravar, mas é de fácil manejo se a gente faz a intervenção precoce, temos muitas chances de salvar alguém. Quando o indivíduo morre, é porque já passou do momento crítico em que a gente pode intervir. A intervenção é simples: é hidratação”.
A dengue grave é uma evolução dos casos mais brandos e pode ser percebida muito cedo no curso da doença, diz ela. Nesses casos, no terceiro ou quarto dia de sintomas, o paciente começa a apresentar os sinais de alerta: tontura, dor abdominal e vômitos. Nesses casos, deve-se procurar atendimento médico.
O país ultrapassou em março o recorde de casos prováveis em um ano. Nesta sexta (5), a marca já chega a 2.747.643 casos.
A projeção é que o país atinja 4,2 milhões de casos de dengue em 2024, segundo a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.
Segundo o médico Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, as condições climáticas típicas do início do ano no Brasil, caracterizadas por calor e chuvas, criam um ambiente propício para a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Além desse fator, a circulação de diferentes tipos do vírus da dengue aumenta a vulnerabilidade da população à doença, uma vez que a imunidade adquirida após a infecção por um tipo não confere proteção contra os demais.
Esses fatores poderiam ter sido previstos com antecedência, diz ele. “O Brasil poderia ter adotado estratégias mais eficientes na preparação contra a dengue, o que potencialmente reduziria o número de casos e mortes”. Especialistas e infectologistas já previam um cenário de explosão de dengue para 2024.
Além das campanhas de orientação à população sobre a eliminação dos criadouros do mosquito durante todo o ano -como estratégia para interromper o ciclo de vida do inseto-, ele menciona a ampliação do acesso à vacinação, melhorias na infraestrutura urbana e investimentos em vigilância epidemiológica para detecção e resposta rápida aos surtos como medidas essenciais para preparação contra a dengue.
A vacina, hoje, está disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que vivem em municípios com população maior ou igual a 100 mil habitantes, alta transmissão de dengue nos últimos dez anos e predominância do sorotipo 2 do vírus. Devido à baixa procura, o Ministério da Saúde estabeleceu uma estratégia de remanejamento de doses para mais cidades.
Na terça-feira (2), durante entrevista a jornalistas, o Ministério da Saúde afirmou que o Brasil vive um momento de declínio da epidemia de dengue.
Em sete estados e no Distrito Federal, o pico já foi atingido e a curva da doença é agora decrescente, segundo a pasta da Saúde. Outras 12 unidades da federação estão em estabilidade. Mas sete estados, especialmente no Nordeste, têm tendência de aumento de casos e óbitos.
Os estados em tendência de alta dos casos são Alagoas, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. As tendências históricas, no entanto, indicam que o pico das epidemias ocorre mesmo entre março e abril.
A queda, considerada consolidada pela pasta, ocorre no Acre, Amazonas, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Roraima.
Estão em estabilidade Amapá, Ceará, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul e Tocantins.
LUANA LISBOA / Folhapress