SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Supercentenários são aqueles idosos que já passaram dos 110 anos. De acordo com rankings mundiais, o Brasil possui, ao menos, 14 pessoas vivas nessa faixa etária no mundo todo, são 310, de acordo com o GRG (Gerontology Research Group, ou Grupo de Pesquisa em Gerontologia, em português),
A segunda pessoa mais velha viva atualmente é a freira brasileira Inah Canabarro Lucas, de 116 anos, nascida em São Francisco de Assis, no Rio Grande do Sul. A primeira também é uma mulher, a japonesa Tomiko Itooka, nascida menos de um mês antes de Inah.
Neta de Noemia Vieira de Souza, uma brasileira supercentenária que viveu até os 111 anos e morreu em 2023, Iara Souza começou a se interessar pela pesquisa das pessoas mais velhas do país. Hoje ela é voluntária no LongeviQuest, um instituto internacional que valida quem são as pessoas mais velhas do mundo.
“Como era necessário o envio de alguns documentos que nós não tínhamos posse, fiz o trabalho de pesquisa, que nos revelou a verdadeira idade da nossa matriarca (111 anos), levando-a a ser reconhecida, na ocasião, como a pessoa mais longeva do estado do Rio de Janeiro e a quinta do Brasil”, relata Souza.
Atualmente, a lista do LongeviQuest contabiliza 14 supercentenários brasileiros, a maioria mulheres.
Waclaw Jan Kroczek, diretor do GRG na divisão de pesquisas em supercentenários, diz que além de verificar, validar e registrar supercentenários, o grupo também atua em diversos campos da geriatria, longevidade humana, saúde pública e demografia.
Na lista mundial do GRG, das cinco pessoas mais velhas vivas atualmente, apenas uma é homem. De acordo com Kroczek, isso acontece porque mulheres tendem a viver mais do que homens por uma combinação de razões biológicas, sociais e de estilo de vida.
“Um fator chave é que as mulheres geralmente têm um menor risco de doenças cardíacas mais cedo na vida devido a diferenças hormonais, especialmente os efeitos protetores do estrogênio”, afirma Kroczek.
As mulheres também costumam ter comportamentos mais conscientes em relação à saúde, como visitas regulares ao médico e alimentação saudável, o que pode contribuir para sua longevidade, segundo o pesquisador.
“Supercentenários frequentemente levam vidas relativamente ativas e engajadas. Muitos têm estilos de vida equilibrados que incluem hábitos alimentares saudáveis, atividade física regular e fortes conexões sociais. Manter uma atitude positiva e lidar eficazmente com o estresse também são traços comuns. No entanto, não há uma fórmula de estilo de vida única que garanta alcançar essa idade.”
Médico e vice-presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), Leonardo Oliva explica que para se tornar um supercentenário e, além disso, viver bem, é fundamental ter uma alimentação saudável, praticar atividade física regularmente, não fumar e não consumir grandes quantidades de álcool, controlar doenças que eventualmente surjam como exemplo cita hipertensão, diabetes e colesterol alto, controlar o estresse e dormir bem.
“Esses pontos extraímos de pessoas que vivem em ‘bluezones’ [ou zonas azuis, em português, que são as regiões onde é mais comum encontrar alta proporção de pessoas centenárias]. Eles praticam muita atividade física, não necessariamente um esporte, mas no trabalho em lavoura, por exemplo”, afirma Oliva.
Nessas regiões, geralmente afastadas das grandes cidades, as pessoas costumam ter uma alimentação mais saudável e à base de alimentos naturais, sem o consumo de ultraprocessados e industrializados. No Brasil, uma das regiões estudadas para ser considerada uma “bluezone” é a cidade de Vernanópolis, no interior do Rio Grande do Sul.
“A mulher pode viver mais porque o homem tem um fator de risco cardiovascular maior, mas não é só isso. Tem questões comportamentais também. O homem, de maneira geral, se cuida menos do que a mulher. Vai menos ao médico, toma remédio de forma irregular e cuida menos da sua saúde”, afirma Oliva.
Segundo Oliva, o corpo humano depende de três fatores para envelhecer bem: 20% do ambiente em que se vive, 20% da genética e 60% das escolhas feitas ao longo da vida. No entanto, ao falar dos superidosos, especialmente aqueles acima dos 100 anos, a genética passa a ter uma influência muito grande.
“As pessoas das quais temos conhecimento que têm idade posterior aos cem anos, geralmente, vêm de famílias muito longevas, então esse é um aspecto importante”, afirma Oliva.
Para Kroczek, o argumento é o mesmo. Ele acrescenta ainda que fatores genéticos podem proteger contra doenças relacionadas à idade e contribuir para processos de envelhecimento mais lentos, embora pesquisas para entender esse aspecto ainda estejam em andamento.
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CONHEÇA DEZ BRASILEIROS SUPERCENTENÁRIOS VIVOS
Inah Canabarro Lucas, 116 anos
A freira é a segunda pessoa mais velha do mundo. Nascida em de junho de 1908, em São Francisco de Assis (RS), ela frequentou internato e, em 1928, se mudou para o Uruguai, onde se tornou freira. Retornou ao Brasil em 1930 e lecionou português e matemática no Rio de Janeiro.
Hoje vive em Porto Alegre e também é verificada como a eclesiástica mais velha de todos os tempos e a pessoa mais velha da América do Sul e da América Latina desde 2022.
Yolanda Beltrão de Azevedo, 113 anos
De Coruripe (AL), Yolanda nasceu em 13 de janeiro de 1911 e é a mais velha de 15 irmãos.
Quando foi vacinada contra Covid, em janeiro de 2021, tornou-se uma das pessoas mais velhas a receber o imunizante no Brasil. Hoje é a pessoa mais velha conhecida no estado do Alagoas.
Maria Paschoalina de Castro, 113 anos
Nascida em 2 de maio de 1911, no município de Conceição do Rio Verde (MG), Maria Paschoalina é descendente de povos nativos e seus pais e avós eram ex-escravizados libertos.
É mãe de 13 filhos e, até os 107, cinco deles ainda estavam vivos. Hoje ela é avó de 22 netos e de um número não especificado de bisnetos e tataranetos.
Toshi Arashino, 112
Natural de Okinawa (uma das atuais “bluezones” mundiais), no Japão, Toshi Arashiro nasceu em 6 de julho de 1912. Não é especificado, ao certo, quando ela se mudou para o Brasil, onde vive atualmente.
Maria Alaíde Menezes, 112
De Sergipe, hoje é a pessoa mais velha do estado nordestino. Maria nasceu 5 de julho de 1912. Ao longo da vida se casou, teve três filhos e lecionou por mais de 30 anos. Hoje é aposentada.
Em 1933, leu a carta de emancipação da cidade de Ribeirópolis (SE). Cinquenta e seis anos depois, uma escola no município recebeu seu nome.
Josino Levino Ferreira, 111
Homem brasileiro e sul-americano mais velho vivo, Josino Ferreira nasceu na Paraíba em 3 de abril de 1913. Trabalhou como fazendeiro durante toda a vida, casou-se, teve filhos e se mudou para o Rio Grande do Norte, onde vive atualmente.
Perdeu a esposa em 2001, aos 87 anos. Hoje tem três filhos vivos, 11 netos, 18 bisnetos e 5 tataranetos.
Em junho deste ano, Josino Ferreira também tornou-se o segundo homem mais velho vivo no mundo.
Maria Liesse Callou Duarte, 110
Natural da área rural do Ceará, Maria Liesse nasceu em 2 de janeiro de 1914. Ao longo da vida se casou e teve oito filhos destes, sete estão vivos e um deles é ex-senador e outro é juiz aposentado.
Nas décadas de 1950 e 1960 foi a primeira-dama da cidade de Barbalha (CE).
Em janeiro de 2021, foi vacinada contra a Covid e, durante o isolamento, manteve muitos de seus hobbies, como preencher palavras cruzadas e assistir televisão.
Primo Olivieri, 110
Natural de São Paulo, nasceu em 7 de março de 1914. Filho de italianos, trabalhou como mecânico de aviação, contribuiu com a manutenção de aviões durante a Segunda Guerra Mundial e recebeu medalha de honra por seus serviços da FAB (Força Aérea Brasileira).
No Brasil, também trabalhou na manutenção dos motores que impulsionavam os voos da VASP.
Por conta dos muitos anos trabalhando na aeronáutica sem acesso a dispositivos de proteção, Olivieri enfrenta problemas de audição há muitos anos.
Benvindo Ferreira de Oliveira, 110
De Minas Gerais, Benvindo de Oliveira nasceu em 10 de agosto de 1914. Ao longo de sua vida, casou-se e tornou-se viúvo duas vezes. No total, teve 24 filhos.
Por muitos anos, ele viveu na fazenda e era dono de um pequeno bar. Durante períodos de sua vida viveu no Paraná e em São Paulo.
Hoje tem sete filhos vivos, 47 netos, 86 bisnetos e 24 tataranetos.
Jandyra Faria dos Santos, 110
Natural de Ibiraçu (ES), Jandyra dos Santos nasceu em 23 de agosto de 1914. Aos seis anos, foi com os pais para Vitória e aos 18 formou-se como professora.
Na capital do estado tornou-se escriturária até atingir cargo de chefia no INPS (Instituto Nacional de Previdência Social, o atual INSS). Aos 41 anos, se casou e teve uma filha. Hoje Jandyra tem um neto, um bisneto e cinco irmãos vivos.
Fã do Botafogo, gosta de jogar palavras cruzadas, ir à igreja e assistir jogos de futebol.
ANDREZA DE OLIVEIRA / Folhapress