RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O rosto de Rafaela Scheverdin, 29, é tomado por lágrimas assim que ela começa a contar o pânico que viveu na última semana. Moradora de Israel há quatro anos, a brasileira temeu pela segurança da filha de seis meses após ver o ataque praticado por terroristas do Hamas.
“Eu tenho uma bebê, me imaginei naquela situação. A todo momento eu pensava: ‘Eles vão vir aqui [em casa] e pegar minha bebê, eu tenho que ir embora'”, afirma, chorando.
Para garantir a segurança da filha, Scheverdin deixou o Oriente Médio neste final de semana, a bordo do quinto voo da operação realizada pela FAB (Força Aérea Brasileira) para repatriar brasileiros que estavam em Israel em meio ao conflito do país com o Hamas. A aeronave KC-30 pousou no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, por volta de 1h45 deste domingo (15).
Scheverdin afirma que segue, no entanto, aflita, uma vez que o marido ficou em Israel para servir ao Exército local na guerra contra o Hamas. “Eu me sinto feliz por ela [filha], mas estou incompleta”, disse a brasileira, enquanto carregava a menina em um salão do aeroporto do Galeão por volta das 3h deste domingo.
Formada em ciências aeronáuticas, Scheverdin vivia com a filha e o marido na cidade de Netanya, a cerca de 30 km de Tel Aviv. Ele é russo, mas, como tem nacionalidade israelense, foi chamado para se juntar às tropas locais.
“Pensei várias vezes: Como quebro a perna dele? Como quebro o braço dele para ele não sair daqui?. Ele dizia que, mesmo com o braço quebrado, iria”, diz a brasileira.
Depois de chegarem ao Rio, ela e a filha voariam para Recife. Scheverdin afirma que pretende retomar a vida em Israel assim que possível. “Tinha que vir [para o Brasil] pela minha filha. Estava sozinha com ela. Não tenho família em Israel.”
A paulista Geysa Rodrigues, 35, também chegou ao Rio na madrugada deste domingo no voo da FAB. A exemplo de Scheverdin, ela precisou deixar o companheiro em Israel, mais um que se juntou ao Exército local. Há sete anos no Oriente Médio, Rodrigues diz que viu três mísseis caírem perto de sua residência.
“O Brasil é minha pátria, mas Israel é minha casa. Não queria voltar para o Brasil”, conta. Ela afirma que acabou optando pelo retorno em razão de sua família e da saúde emocional. “Fiquei dias sem comer, sem tomar água. Nada descia.”
Outro passageiro que desembarcou no Rio foi o gaúcho Bruno Treiguer, 35. Ele vive há três anos perto de Tel Aviv, onde trabalha como chefe de cozinha.
Treiguer relata que decidiu morar em Israel em busca de segurança. O que ele não imaginava era um ataque com a proporção do cometido pelo Hamas. Bruno perdeu um amigo nas ações do grupo terrorista, o jovem gaúcho Ranani Glazer. “A gente nunca espera uma coisa dessas. Foi um choque”, afirma.
O voo que pousou no Galeão neste domingo saiu de Tel Aviv no sábado (14), por volta de 11h55 do horário de Brasília (17h55 da hora local). Segundo o governo federal, o avião da FAB trouxe 215 passageiros, incluindo nove bebês, além de 16 pets.
Um lanche foi organizado para os viajantes após o desembarque no Galeão. Os passageiros que iriam para outras cidades do país foram levados para o outro grande aeroporto do Rio, o Santos Dumont.
O voo finalizado neste domingo integra a operação batizada pelo governo como Voltando em Paz. Com a quinta aeronave, a ação abarca 916 brasileiros repatriados e 24 animais de estimação trazidos para o Brasil, conforme informações divulgadas pelo Planalto no sábado.
LEONARDO VIECELI / Folhapress