PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – “A gente chegou pra moer, pra pisar em cima.” Com esse espírito, o brasileiro Júlio César Agripino, 33, surpreendeu ao conquistar o ouro paralímpico nos 5.000 metros, categoria T11 (deficiência visual), com novo recorde mundial (14min48s85).
O dono da marca anterior (14min53s97), o também brasileiro Yeltsin Jacques, 32, ouro na mesma prova em Tóquio, superou a própria marca (14min52s61), mas ficou apenas com a medalha de bronze. O japonês Kenya Karasawa ganhou a prata.
Agripino foi diagnosticado com ceratocone, doença degenerativa na córnea, aos 7 anos de idade. Ele atribuiu boa parte do êxito ao trabalho dos atletas-guia, Edelson Almeida e Micael dos Santos, também corredores de fundo. Ambos estavam muito emocionados após a vitória.
“Além de serem os nossos olhos, eles nos ajudam também psicologicamente”, explicou Agripino. “A gente sempre conversa que isso aqui é um casamento. Não é todo dia que é mil flores, mil maravilhas, a gente briga, mas dentro da pista a gente faz a diferença.”
Agripino liderou a prova desde o início, seguido por Karasawa. “O Edelson falava: ‘O japonês vai passar, dá uma pancada.’ Aí dei uma pancada, já mexeu no psicológico do japonês. Aí ele falou de novo, ‘Júlio, o japonês está chegando de novo’, dei outra pancada e foi isso que aconteceu.”
O novo campeão paralímpico revelou ter enfrentado uma torção no pé direito, no começo do mês, ao pisar na borda da pista, durante a preparação na cidade francesa de Font-Romeu. Ele pisou na borda da pista. “Acabei virando o pé. Mas furei o protocolo médico e falei: ‘A gente vai ganhar essa bagaça.'”
O medalhista de bronze Yeltsin atribuiu o desempenho aquém do esperado a uma microrruptura na panturrilha esquerda e a uma virose, contraída um mês e meio atrás. “Consegui reorganizar a casa e sair daqui com uma medalha, levar um pedacinho da Torre Eiffel para o Brasil.” As medalhas de Paris contêm 18 gramas de ferro original do monumento.
Agripino parabenizou o compatriota. “É um cara que tem muita história dentro do paradesporto. Respeito demais ele, mas sabia que hoje era o meu dia e ninguém ia passar por cima da gente.”
O nadador Gabriel Araújo foi o primeiro medalhista brasileiro nos Jogos. Na quinta-feira (29), no primeiro dia de competições paralímpicas, ele ficou com o ouro nos 100 m costas da categoria S2 (para nadadores com deficiência física severa), prova na qual ficou em segundo há três anos, nos Jogos de Tóquio.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress