BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O primeiro grupo de brasileiros repatriados de Israel chegou a Brasília na madrugada desta quarta-feira (11) e trouxe relatos de pânico, mas demonstraram alívio por terem voltado para casa em segurança.
O voo da FAB (Força Aérea Brasileira) repatriou 211 cidadãos que solicitaram ajuda do governo brasileiro para deixar Israel após os ataques do grupo terrorista Hamas no último sábado (7) o país do Oriente Médio passa agora pelo mais grave conflito em décadas.
Outros quatro voos serão realizados até o final de semana, ao menos, quando deve chegar a última leva dos 900 repatriados.
O pastor Bueno Júnior, que liderava uma caravana de 36 pessoas em Israel, afirma que viveu momentos de pânico ao amanhecer no hotel com o disparo da sirene. “Fizemos toda nossa peregrinação, concluiu na sexta. No sábado, nós voltaríamos à tarde e, pela manhã, fomos surpreendidos com ataques do Hamas”, diz.
À tarde, no aeroporto tentando voltar para o Brasil, passaram por um novo susto. “Tivemos nova experiência, já no aeroporto, por vermos ataques, por vermos antimísseis sendo disparados, estrondos sobre a gente”, conta.
Já a nutricionista Gabriela Palma estava escovando os dentes quando ouviu a primeira sirene soar no sábado. Ela morava em Israel há cerca de um mês, onde participava de um programa de voluntário do governo israelense para auxiliar pessoas com autismo.
Voltou para o quarto no apartamento que dividia com mais duas voluntárias. Só deixou o lugar, quando os vizinhos bateram na sua porta ao perceber que a jovem não foi para o bunker, como deveria.
“Toda vez que soava a sirene, a gente tinha que descer para o esconderijo. Teve um dia que fui dez vezes”, disse Gabriela.
“Fiquei desesperada. No primeiro dia, tinha segurança de estar num bunker. Depois que vi que tinha infiltração de terroristas no país, comecei a ficar desesperada. Podiam chegar na minha cidade. Não eram apenas bombas e misseis, eram essas infiltrações”, completou. Agora a jovem embarcará para Limeira (SP), onde reencontrará sua família e seu namorado.
O empresário Juliano Campos, de Loanda (PR), também relatou momentos de pânico quando ouviu os primeiros alertas dos ataques em Israel.
“Há certo pânico, aquela correria, aglomeração, principalmente no hotel em que eu estava, para você já poder se esconder no bunker. Você tem prazo de um minuto, um minuto e meio para fazer isso”, afirmou.
O carioca Ricardo Faissol Pinto tampouco estava acostumado com as sirenes e minimizou os alertas, num primeiro momento. Surgiu o medo e o entendimento de que estavam mesmo em conflito quando viu as colunas de fumaça no horizonte do apartamento em que alugou, em Jerusalém.
Decidiu então abandonar a produção e deixar o país, dando início a uma saga de dois voos cancelados e um taxista palestino, que chamou de “anjo”.
“Compramos passagem para Istambul [Turquia]. A 15 minutos do aeroporto, voo foi cancelado. Procuramos passagem para qualquer lugar, encontramos uma para Hungria e compramos. No aeroporto, fui no banheiro, quando voltei, o aeroporto que estava lotado ficou vazio. Mensagens dizendo para procurar lugar seguro, barulho de bomba. Esse foi o momento mais assustador”, disse.
“A gente resolveu voltar para o táxi, que nos levou de volta para o apartamento alugado. O motorista palestino foi nosso anjo da guarda”, completou. O grupo, então, entrou em contato com a embaixada e voltou no voo da FAB.
De Brasília, Ricardo embarcou para o Rio de Janeiro, onde se reunirá com a família. “Tenho uma filha de 1 ano e 4 meses, tudo que eu quero agora é dar um beijo nela”, disse, emocionado.
A maioria dos 211 brasileiros que chegaram a Brasília nesta madrugada é de turistas, muitos desses, religiosos.
O governo brasileiro disponibilizou ainda duas aeronaves para levar cerca de cem pessoas para o Rio, de onde embarcarão para suas cidades. A companhia Azul firmou parceria para levar os repatriados aos seus destinos finais.
Outra metade dos repatriados ficou em Brasília e foi encaminhada para o desembarque internacional comum do aeroporto eles chegaram na base aérea da FAB.
No local, eles foram recepcionados por familiares e amigos, com faixas, lágrimas e relatos de alívio. A família Aguiar se fez presente para receber a pedagoga Neyara Aguiar. Ela havia chegado a Israel no último sábado com um grupo de 40 pessoas de uma igreja católica de Brasília para uma peregrinação religiosa, mas preferiu antecipar o retorno ao Brasil após o início do conflito.
O genro de Neyara, Leonardo Aguiar, disse que a família está feliz por receber sua parente de volta. “Sensação de alívio”, resumiu.
MARIANNA HOLANDA E MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress