SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Brasileiros repatriados de Israel chegaram em São Paulo por volta de 11h30 desta sexta-feira (13) na terceira aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) que integra os esforços do governo federal para retirada de cidadãos em um momento de crescimento das tensões no Oriente Médio, com uma possível invasão da Faixa de Gaza pelo Exército israelense.
A primeira pessoa a desembarcar foi uma mulher que segurava um bebê. Logo depois, Evelyn Crimerman desceu as escadas e correu em direção às grades que separavam a pista de pouso do hangar em que estava seu filho.
“Quebrei um pouco o protocolo”, disse ela, ao abraçar Tiago Marchesano. “Minha filha e primos moram lá e nunca viram algo parecido. É uma guerra desumana para todos os lados.”
Entre os brasileiros transportados pela FAB a São Paulo estavam bebês, adolescentes, idosos e duas grávidas uma delas com uma gestação de risco.
A aeronave, um KC-390 Millennium que transportava 69 repatriados, pousou inicialmente no Recife, capital pernambucana, onde desceram cinco pessoas. As outras 64 seguiram para a Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos. Delas, 29 tinham São Paulo como destino final o restante iria ser direcionado aos estados de origem com apoio da companhia Azul.
Brenda El Mann, que visitava familiares em Israel, disse que no voo havia médicos e psicólogos à disposição dos passageiros. Além das quatro refeições servidas a bordo, a FAB também preparou, no hangar, um bufê de almoço para receber os brasileiros e seus familiares. Entre as opções havia macarrão, legumes, carne e arroz e feijão.
“Arroz e feijão foi a melhor recepção da vida. Deu um quentinho no coração”, disse Brenda. Foram servidos cerca de cinco quilos de arroz e cinco de feijão prontos. De sobremesa, havia salada de frutas.
Entre os repatriados que almoçaram ali estava Rafael Graicer, que foi recebido pelas duas irmãs, pela mãe e pelo pai. Rafael, que morava em uma cidade próxima a Tel Aviv há quatro meses, só não foi à rave Universo Paralello porque não conseguiu carona até lá. “É uma festa brasileira, então muitas pessoas da comunidade vão”, diz.
A festa foi interrompida por ataques terroristas no último sábado (7) que deixaram 260 pessoas mortas, incluindo os brasileiros Bruna Valeanu e Ranani Glazer este último de quem Rafael era amigo.
“Tenho outro amigo que foi [à rave] e conseguiu sair com vida. Gostaria de estar com ele lá agora, mas voltei pela minha família”, diz. Rafael, que estudava hebraico como parte de um programa de Israel, disse que chegou a ir ao trabalho em um hotel no dia seguinte. “Na volta, vi o motorista que me levava acelerar e perguntei por quê. Ele disse: guerra”.
Rafael conta que se sentia seguro na cidade onde estava. “Eu só não queria ser sequestrado”.
As atletas Camila Caroline Miranda Silva e Beatriz Palmieri de Souza também regressaram no voo da FAB. As duas viajaram até Tel Aviv para jogar volêi em um clube da liga israelense.
“A gente estava dormindo em casa quando ouviu as sirenes pela primeira vez às 6h30. Ficamos desesperadas porque o bunker não ficava no subsolo, ele ficava a 50 metros de onde a gente estava. Então tivemos que correr para o bunker. A gente ouvia os mísseis, corria e tremia”, diz Camila.
“Depois disso, ficamos praticamente cinco dias sem dormir, até que conseguimos voltar”, diz Beatriz.
Até agora, 494 brasileiros foram repatriados em voos da FAB. A primeira aeronave trouxe 211 passageiros; a segunda 214 ; e a terceira 69 passageiros.
MARÍLIA MIRAGAIA / Folhapress