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BRB, antes banco regional, multiplica base de clientes com Flamengo e competição no crédito

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A recente compra de 58% do Banco Master é um novo episódio da peculiar expansão de negócios do BRB (Banco de Brasília). Nascida no Distrito Federal e por muito tempo voltada ao funcionalismo local, a instituição passou a ambicionar uma atuação nacional e já multiplicou por 14 sua base de clientes desde 2018–com iniciativas como patrocínios esportivos e taxas agressivas no mercado de crédito.

Apesar do crescimento, representantes do mercado financeiro e do poder público têm dúvidas sobre o real retorno da expansão e temem o uso político da empresa. A diretriz que mira um BRB nacional está em execução desde a posse do presidente-executivo Paulo Henrique Costa (ex-vice-presidente da Caixa), que assumiu o cargo após a chegada de Ibaneis Rocha (MDB) ao governo do Distrito Federal.

O governo do Distrito Federal tem 65% das ações do BRB, e outros 15% são do Instituto de Previdência da unidade administrativa. Uma outra fatia restante de 19,3% é negociada na Bolsa. Por ser controlada pelo poder público mas também ter papéis nas mãos de investidores privados, é uma empresa de economia mista (assim como a Petrobras, por exemplo).

O banco foi criado em 1964, quatro anos após a fundação da nova capital do país, com o objetivo de captar recursos para o desenvolvimento do Distrito Federal. O foco ficava evidente até no nome: Banco Regional de Brasília. O Regional foi eliminado quase duas décadas depois, mas a sigla BRB –assim como o espírito local– permaneceu.

Foi assim até o fim de 2018, quando o banco ainda tinha 625 mil correntistas. Esse quadro começou a mudar em 2019, com a troca de comando na política do DF. Atualmente, já são 9 milhões de clientes.

A grande virada foi em 2020, com a assinatura de um contrato de patrocínio com o Flamengo por R$ 32 milhões anuais, que fez as letras do BRB estamparem as camisas do clube de maior torcida do país.

A iniciativa veio acompanhada do “Nação BRB FLA”, plataforma que dá acesso a cartões de crédito com o emblema do time, conta digital gratuita, descontos na loja online do Flamengo e programa de relacionamento com pontos para trocar por benefícios. O banco ganhou 3,7 milhões de novos clientes com a parceria desde então e já expressou a intenção de renovar o contrato.

Opositores de Ibaneis afirmam que o trato entre o banco distrital e o clube carioca teve interferência política, já que o governador é torcedor do Flamengo. Ibaneis já foi fotografado em diversos jogos do time rubro-negro, inclusive em camarote do Mané Garrincha –ou Arena BRB, como é chamado o estádio brasiliense desde 2022, quando o banco comprou os direitos sobre o nome do espaço (“naming rights”).

Em 2023, o banco assinou contrato para patrocinar a BWT Alpine, equipe da Fórmula 1. A marca é exibida nos dois carros da escuderia e nos capacetes dos pilotos. No ano passado, Ibaneis viajou a São Paulo para assistir à corrida de F1 após o banco comprar uma série de ingressos VIP para o evento no autódromo de Interlagos.

“O objetivo dos patrocínios é o de nacionalização e fortalecimento da marca, geração de negócios, divulgação de produtos e ampliação de relacionamentos. Posiciona, ainda, a instituição junto a clientes e concorrentes. As ações seguem, também, prática do mercado bancário nacional”, afirma o BRB.

POLÍTICA

Sob a gestão de Paulo Henrique Costa, o BRB passou a participar cada vez mais do governo do Distrito Federal, em dobradinha com o governador. Além do nome do estádio, assumiu a gestão da Torre de TV, cartão postal com vista panorâmica de Brasília, e do autódromo da cidade.

Depois, avançou para áreas ainda mais diversas: desde a entrega de medicamentos de alto custo, em parceria com o governo local, até a operação do sistema de bilhetagem do transporte público da capital federal.

Em 2021, o BRB ganhou os holofotes do noticiário político por ter financiado a mansão de R$ 6 milhões comprada em Brasília pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

O Ministério Público do Distrito Federal chegou a abrir um procedimento para investigar as condições da operação, melhores que as do mercado: entrada de R$ 2,87 milhões e outros R$ 3,1 milhões financiados em 360 meses, com taxa de juros nominal de 3,65% ao ano. Uma ação sobre o caso está em fase de conclusão no Tribunal de Justiça do DF.

CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Além da presença no esporte, o BRB tem executado uma estratégia agressiva no financiamento imobiliário, com taxas que chegam a ganhar da Caixa, que é tradicionalmente conhecida pelos baixos juros nessa área. O banco diz ser líder do segmento no Distrito Federal e o sexto colocado nacional.

A carteira de crédito do BRB cresceu 30% em 12 meses até setembro de 2024 (último dado disponível), para R$ 11 bilhões. A Caixa cresceu menos da metade (14,7%), embora continue a líder absoluta (com mais de R$ 800 bilhões no portfólio).

O BRB também tenta explorar o segmento premium, com o cartão de crédito BRB Dux. Cada dólar gasto em compras nacionais gera o acúmulo de cinco pontos e, para compras internacionais, sete pontos –o que o coloca no topo de rankings dos que mais pontuam no mercado. A anuidade é de R$ 1.680,00, que cai pela metade ou é eliminada quando há despesas acima de R$ 20 mil ou R$ 35 mil por mês (respectivamente).

INDICADORES FINANCEIROS

O crescimento da base de clientes elevou a inadimplência do banco em alguns casos, mas os números ainda ficam abaixo do setor bancário como um todo.

Até meados de 2021, a inadimplência da carteira da pessoa física, por exemplo, não chegava a 2%. Escalou para 5,44% em meados de 2024, mas recuou ao fim do terceiro trimestre (mais recente disponível) para 2,33%. No setor bancário em geral, o índice foi de 5,6%.

O banco afirma em seus relatórios que a baixa inadimplência é resultado da composição da carteira. Do total, 65% está nos segmentos imobiliário e de consignado –considerados de menor risco.

No mesmo trimestre, o Índice de Basileia –que mostra se o banco tem dinheiro suficiente guardado para cobrir os riscos e continuar funcionando com segurança– do BRB foi de 13,4%, uma redução de 1,13 ponto percentual em relação ao ano anterior. O número supera em 2,9 pontos a soma dos requisitos mínimos. Um ano antes, o número superava em 4,03 pontos.

O lucro líquido recorrente no acumulado de três trimestres em 2024 foi de R$ 180 milhões, 58% a mais que no mesmo período do ano anterior.

Apesar de buscar uma expansão, o banco tem na burocracia pública —foco original da instituição— um forte financiador para seus planos. Um dos grandes trunfos é a administração de depósitos judiciais, principal fonte de recursos do banco. No terceiro trimestre de 2024, foram R$ 15 bilhões captados –34% do total.

O BRB gerencia os depósitos judiciais dos Tribunais de Justiça do Distrito Federal, da Bahia e do Ceará. Recentemente, assinou contato para fazer o mesmo na Paraíba e venceu licitação para Alagoas.

BANCO MASTER

Com a compra do Banco Master, o BRB voltou para a mira do Ministério Público do Distrito Federal, do Ministério Público de Contas, da Câmara Legislativa do Distrito Federal e do Senado, que aprovou um pedido de informações ao Banco Central.

Nesta quarta (2), o Sindicato dos Bancários de Brasília apresentou uma reclamação à autoridade moneretária em que questiona potenciais irregularidades: a ilegalidade do ato, a inadequação do preço e do procedimento de escolha, e o risco ao sistema financeiro.

O governador do Distrito Federal respondeu a boa parte das críticas dizendo ter recebido a chave do banco das mãos da Polícia Federal.

“Quase quebraram o BRB na gestão deles”, disse Ibaneis à reportagem sobre as críticas do presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Ricardo Capelli, aliado do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB).

FÁBIO PUPO E THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress

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