Britney Spears se separa, compra um cavalo e joga a sua autobiografia no lixo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bem que o Ruy Castro sempre avisa: “Não escreva biografias de gente viva porque a história ainda não acabou”. O exemplo que ele costuma dar é “Woody Allen: Uma Biografia”, de Erik Lax, um escritor americano que tem quatro livros sobre o cineasta publicados, e é um dos poucos que tem acesso irrestrito ao seu biografado.

Em 1992, o livro estava pronto, escrito, revisado, editado, checado e impresso. Lax havia conduzido mais de 40 entrevistas com o cineasta, e o título já seria o terceiro do autor sobre o homem por trás de clássicos como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan”, “Tiros na Broadway” e tantos outros. Não tinha como dar errado.

Mas eis que, semanas antes que a biografia chegasse às livrarias, a atriz Mia Farrow, então namorada do diretor, descobriu fotos de sua filha adotiva Soon-Yi nua no apartamento de Allen e o acusou de abuso sexual contra outra filha adotiva do casal, Dylan, então com sete anos.

O cineasta nega o abuso, já foi inocentado duas vezes na Justiça americana e passou a viver com Soon-Yi desde então. Os dois se casaram em Veneza em 1997 e continuam juntos, 26 anos depois. Mas o livro de Erik Lax estava ultrapassado antes mesmo de ter sido lançado e foi um fracasso de vendas.

“A Mulher em Mim”, a aguardada autobiografia de Britney Spears, que promete contar sua versão, sem censura, de como foi passar 13 anos sob a tutela do pai, sem autonomia sobre o próprio dinheiro, o próprio trabalho e o próprio corpo, também está prontinha para chegar às livrarias. Em pré-venda no mundo inteiro, já é um best-seller. Mas acabou de caducar.

Britney passou de 2008 a 2021 sem nenhuma autonomia. Tinha 26 anos quando foi forçada pela Justiça a ser tutelada por seu pai e 39 quando foi finalmente libertada.

Desde então, se casou com o seu treinador Sam Asghari, engravidou, teve um aborto espontâneo, fez muitos vídeos de dancinha no Instagram, escreveu textões sobre ter vivido em cárcere privado mesmo sendo uma das artistas mais bem pagas do mundo pop, voltou a gravar, lançou um single com Elton John, “Hold Me Closer”, há um ano, e outro, “Mind Your Business”, com will.i.am, no último mês.

Tudo parecia se alinhando para o clímax, o lançamento de “A Mulher em Mim”, em outubro. Até que, na última quarta-feira, dia 16, Asghari, de 29 anos, entrou com uma petição para terminar o casamento de 14 meses no Tribunal Superior de Los Angeles.

E assim Britney Spears, mais uma vez, virou tema de sites de fofoca em vez de recuperar seu lugar de direito nas editorias de cultura e entretenimento. Na mesma quarta-feira em que seu marido alegava “diferenças irreconciliáveis” como motivo para o pedido de divórcio, Britney postou no Instagram uma foto em cima de um cavalo, na praia, de shortinho preto e parte de cima de um biquíni amarelo com a legenda: “Comprando um cavalo logo mais!!! Tantas opções, difícil decidir!!! Uma égua chamada Sophie ou um cavalo chamado Roar??? Não consigo decidir!!!”.

No fim, dá a entender que optou por Roar. Dois dias antes, havia postado um vídeo em que testava, de biquíni de oncinha, um mastro rosa que havia acabado de comprar, desses de fazer pole dance, aqueles movimentos sensuais que se faz em uma barra vertical, comuns em casas de strip-tease e que acabaram chegando às academias de ginástica e dança do mundo todo.

Agora está oficialmente aberta a temporada de caça dos mínimos detalhes da vida pessoal de Britney. Ela teria sido filmada traindo o marido com um de seus funcionários e, confrontada por ele, começou uma discussão acalorada ouvida por outros funcionários e vizinhos. Sam Asghari estaria pedindo pensão para a cantora, assim como o pagamento de todas as despesas legais.

Asghari pode, na verdade, sair do casamento sem nenhum tostão da fortuna de sua ex-mulher por causa de um detalhe do acordo pré-nupcial assinado pelos dois, que estabelece que ele ganharia “US$ 1 milhão a cada dois anos em que ficasse casado, até o teto de US$ 10 milhões depois de 15 anos”. O casamento durou 14 meses.

Se ele conseguir mais dinheiro de Britney, isso pode gerar um efeito cascata e levar Kevin Federline, o ex-marido anterior da cantora e pai dos dois filhos dela, Sean, de 17 anos, e Jayden, de 16, que não veem a mãe há mais de um ano, a pedir ele também um aumento no valor da pensão que ela paga.

“Eu não conheço Britney fora do estúdio. Sei da vida dela como qualquer um. Não vejo a hora de ler a autobiografia que ela escreveu”, disse will.i.am à reportagem em uma entrevista por vídeo feita antes do anúncio do divórcio, para falar do lançamento do single “Mind Your Business”, que os dois fizeram juntos.

Will.i.am escreveu e produziu músicas para Britney no passado e os dois lançaram um single 11 anos atrás, “Scream and Shout”, um sucesso nas pistas na década passada. A letra diz que quando eles estão num clube, num bar, dançando, bebendo e se divertindo, todos os olhos se voltam para eles, que optam por ignorar isso e se jogar na pista.

Em “Mind Your Business”, o tom é mais raivoso e a presença de Britney é quase uma figuração. Will.i.am explica que “o mundo digital em que estamos vivendo hoje invade cada vez mais nossa privacidade. Essas grandes corporações estão nos observando o tempo todo, contando os passos que damos, vendo as fotos que tiramos e depois vendendo nossas informações para outras empresas. Isso não devia ser permitido”.

A música, no entanto, não explica essa questão de maneira tão eloquente. Will.i.am é um mestre em fazer hits com letras quase abstratas, às vezes só com duas frases e um bom arranjo. “Scream and Shout” não era assim, mas “Mind Your Business” lembra “I Gotta Feeling”, hit da banda liderada por ele, o Black Eyed Peas, que tinha praticamente uma frase: “Tenho a sensação de que a noite vai ser boa”. Mas era irresistível. “Mind Your Business”, nem tanto.

Pergunto a ele o que a Britney traz em uma colaboração dessas, em que ele parece ser o cérebro por trás de tudo. “Britney traz Britney”, ele responde. “Ela é única, é um unicórnio. Ela ama música e dança e trata isso como uma terapia, como eu. É uma honra trabalhar com uma pessoa que já contribuiu tanto para o universo pop.”

Will.i.am afirma que não percebeu nenhuma diferença na cantora quando gravaram juntos esse ano e em 2011, quando ela ainda vivia sob a tutela do pai, contra a sua vontade. “No estúdio, ela é uma artista apaixonada pelo trabalho e não deixa que nada do que esteja acontecendo na vida privada entre no caminho do que está lá para fazer”, diz o músico. “Imagine como ela tem que ser forte para fazer isso tendo passado por tudo que todo mundo sabe que ela passou.”

Enquanto sua vida pessoal descamba para mais uma série de escândalos e matérias caça-cliques de sites de fofocas de celebridades, na Broadway, o musical “Once Upon a One More Time”, que entrou em cartaz no último mês, e que usa alguns dos maiores hits da carreira de Britney em uma trama fantasiosa, segue lotado.

Na peça, as princesas dos contos de fadas mais populares descobrem, com a ajuda da “fada madrinha” Betty Friedan, autora do clássico feminista “A Mística Feminina”, de 1963, que o príncipe encantado é o mesmo em todas as histórias.

Confrontado por Branca de Neve e Cinderela, o príncipe da Broadway faz uma das melhores versões de “Oops!… I Did It Again”, título do segundo álbum da carreira solo de Britney Spears, ex-atriz mirim do programa “Mickey Mouse Club”, do canal Disney, contratada por uma gravadora aos 15 anos por causa do alcance e da afinação de sua voz, além de sua ética profissional, rara em uma artista tão nova.

Tinha tudo para dar certo. E deu, por um tempo.

TETÉ RIBEIRO / Folhapress

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