SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um comunicado conjunto divulgado na segunda (31), Burkina Faso e Mali advertiram que qualquer intervenção militar no Níger, na tentativa de restabelecer o presidente deposto Mohamed Bazoum, seria como uma “declaração de guerra” contra as duas nações africanas comandadas por juntas militares.
Na declaração, dada após ameaça de uso de força por líderes da África Ocidental em cúpula na Nigéria, os militares dizem que qualquer ação contra o Níger levaria à saída de Burkina Faso e Mali da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e à adoção de “medidas de legítima defesa”.
A junta militar que tomou o poder no Níger depôs Bazoum no último dia 26 sob a alegação de que a segurança do país africano, assolado por grupos jihadistas, estava comprometida. Os militares também fecharam as fronteiras nacionais e declararam toque de recolher em um anúncio feito na TV.
Na segunda, o grupo prendeu dois ministros do governo, aprofundando assim o golpe. Os ministros Sani Mahamadou (Petróleo) e Ousseini Hadizatou (Mineração) foram detidos em condições não esclarecidas, segundo o Partido para a Democracia e Socialismo do Níger (PNDS, na sigla em francês), de Bazoum.
As prisões aumentaram a tensão no país, em ebulição após protestos violentos, imposição de sanções e ameaças de intervenção externa. Em nota, a sigla do presidente deposto instou a população a proteger a democracia e afirmou que as detenções confirmam a natureza “repressiva e ditatorial” da junta militar.
Enquanto isso, nações europeias começam a retirar seus cidadãos do Níger, uma ex-colônia francesa Paris anunciou que começará a retirar seus cidadãos e de outros países nesta terça-feira (1º).
“Diante da deterioração da situação de segurança e aproveitando a calma relativa em Niamei, estamos preparando uma operação de retirada por via aérea”, afirmou a embaixada francesa em mensagem.
A junta militar acusou o governo deposto de autorizar a França a realizar ataques para tentar libertar Bazoum e restabelecer a Presidência. Ato contínuo, milhares de pessoas protestaram no domingo (30) em frente à embaixada do país europeu na capital nigerina em apoio ao golpe militar.
Pedras foram atiradas contra a representação diplomática durante o ato, que ainda contou com queima de bandeiras da França e gritos contra o país europeu. Um manifestante ouvido pela agência Reuters disse que o protesto é uma forma de expressar “descontentamento com a interferência francesa no Níger”.
A França calcula que quase 600 cidadãos do país estão no país. O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também anunciou um voo especial para cidadãos do país que desejam sair de lá.
País semidesértico que registrou quatro golpes de Estado desde sua independência, em 1960, o Níger é considerado uma das nações mais pobres e instáveis do mundo, apesar das grandes reservas de urânio.
Bazoum chegou ao poder em 2021, após vencer as eleições que marcaram a primeira transição pacífica de poder no país. Mas seu mandato já estava marcado por duas tentativas de golpe antes das ocorrências da semana passada, quando foi detido na residência oficial por membros da Guarda Presidencial.
O comandante da guarda, o general Abdurahaman Tiani, declarou-se o novo líder do país, apesar das críticas da Cedeao, da União Africana, da ONU, assim como de França, Estados Unidos e União Europeia.
O golpe acionou os alarmes nos países ocidentais que lutam para conter uma insurgência jihadista nesta região. O movimento, que teve início no norte do Mali em 2012, avançou para Níger e Burkina Faso três anos depois e agora ameaça as fronteiras de várias nações frágeis no Golfo da Guiné.
A violência extremista provocou um número indeterminado de vítimas civis, soldados e policiais em toda a região. Em Burkina Faso, 2,2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.
Redação / Folhapress