BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – As buscas pelos dois detentos que fugiram da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, completam duas semanas nesta terça-feira (27). Desde então, já foram cinco pessoas presas ao longo das investigações da fuga dos dois detentos.
Os fugitivos são Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu; e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho –segundo as investigações, eles são ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
Os dois detentos haviam sido transferidos do Acre para o presídio em Mossoró, cidade localizada a 281 quilômetros de Natal (RN), após uma rebelião que deixou cinco pessoas mortas em julho do ano passado.
COMO FOI A FUGA, SEGUNDO A INVESTIGAÇÃO?
A fuga, fato inédito em presídios federais, ocorreu na madrugada do dia 14 deste mês e expôs o governo de Lula (PT) a uma crise justamente em um tema explorado por adversários políticos, a segurança pública.
Os investigadores identificaram que os dois fugitivos usaram uma barra de ferro, retirada da estrutura da própria cela, para escavar um buraco no vão da luminária. Com a abertura do espaço, os presos conseguiram escapar.
Os detentos teriam conseguido a barra de ferro, de cerca de 50 centímetros, descascando parte da cela que já estava comprometida, devido a infiltração e falta de manutenção.
Com o buraco na luminária, os dois chegaram ao local da manutenção do presídio, onde estão máquinas, tubulações e toda a fiação.
De lá, a dupla conseguiu alcançar o teto. Também não havia nenhuma laje de concreto ou sistema de proteção.
Os fugitivos encontraram ferramentas que estavam sendo usadas na reforma do presídio. Com um alicate para cortar arame, conseguiram passar pela grade que impedia o acesso ao lado externo do presídio.
QUEM FOI PRESO ATÉ AGORA?
A polícia trabalha com a hipótese de que os fugitivos receberam ajuda após sair do presídio. Dois dos detidos foram presos em flagrante com armas e drogas, enquanto um terceiro tinha um mandado de prisão em seu nome e foi preso pela Polícia Federal em Quixabeirinha, em Mossoró. As primeiras três prisões ocorreram entre quarta-feira (21) e quinta-feira (22).
Já o mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, 38, dono do terreno onde os dois fugitivos ficaram escondidos por quase oito dias, foi preso na segunda-feira (27). Segundo investigadores, ele recebeu cerca de R$ 5.000 para que os fugitivos ficassem no local.
Foi preso também o irmão de um dos fugitivos durante a procura. De acordo com as autoridades, o homem tem condenação por roubo e participação em organização criminosa e estava com mandado de prisão em aberto.
QUAL É O EFETIVO ENVOLVIDO NAS BUSCAS?
Cerca de 600 policiais foram envolvidos nas operações, incluindo cem integrantes da Força Nacional. Helicópteros e drones foram usados nas buscas. Investigadores acreditam que os fugitivos ainda estejam no Rio Grande do Norte, as buscas se concentram na divisa do estado com o Ceará.
A área de ação envolve cavernas e matas, locais com grande incidência de animais peçonhentos e chuvas frequentes, o que tem desafiado as equipes. A região de Mossoró conta com mais de 300 cavernas e grutas mapeadas, que podem acomodar apenas uma pessoa e até serem aptas a ampla exploração.
POR ONDE OS FUGITIVOS TERIAM PASSADO?
Os dois presos fugiram do sistema prisional na madrugada do último dia 14, Quarta-Feira de Cinzas, e teriam furtado roupas e alimentos no período da noite na comunidade Rancho da Caça.
Os dois detentos foram vistos pela primeira vez após a fuga na noite de quinta-feira (15). Eles fizeram uma família refém na sexta (16) na zona rural de Mossoró, tendo levado dois celulares e carregadores.
Em seguida, eles teriam ido para o terreno do mecânico mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, onde teriam ficado até sexta-feira (23) na zona rural de Baraúna, última cidade até a divisa com o Ceará. Houve registro de uma tentativa de invasão numa casa na zona rural de Baraúna no domingo (25).
QUAL É O IMPACTO DAS BUSCAS NA COMUNIDADE?
As buscas pelos fugitivos continuam afetando a rotina nas comunidades rurais. Por orientação de policiais, desde que os detentos escaparam da prisão os moradores se recolhem ao anoitecer.
A população relata que a polícia está fazendo visitas domiciliares e entregando cartazes com as imagens dos fugitivos acompanhadas de números de telefone para denúncias. A polícia oferece recompensa de R$ 15 mil para cada fugitivo.
Além disso, as autoridades pedem que a população mantenha as casas trancadas no período da noite.
O QUE MUDOU NOS PRESÍDIOS FEDERAIS?
O governo federal começou a instalar três barras de ferro na parte interna onde ficam as luminárias em todas as celas e vivências do presídio de Mossoró para reforçar a segurança. Além disso, foi dada autorização para a instalação de grades no chamado shaft, espaço voltado à manutenção do presídio que fica ao lado das celas e que foi acessado pelos fugitivos.
Além das revistas diárias em todas as celas, pátios e parlatórios, o documento também indica melhorias nas estruturas de iluminação no interior das celas e instalação de refletores, lâmpadas e luminárias em locais de baixa luminosidade e em outros pontos estratégicos de todos os presídios federais.
O ofício também lista a qualificação do sistema de videomonitoramento, e o mapeamento de grades nos espaços verticais destinados a dutos, tubulações, sistemas de ventilação e elétrico, nos locais sem laje.
Além das medidas estruturais, o ofício solicita reforço do efetivo de policiais penais nas cinco sedes e rondas externas para complementar os serviços de vigilância.
A adoção das medidas mitigadoras contempla, ainda, inspeções prediais in loco das estruturas de segurança contra incêndios, instalações hidráulicas e sanitárias, elétricas de baixa e média tensão, sistema de ventilação e refrigeração e estação de tratamento de esgoto, com posterior realização de laudo técnico. Também foi prometida a construção de muralhas em todos os presídios.
RAQUEL LOPES / Folhapress