SÃO LEOPOLDO, RS (FOLHAPRESS) – As buscas aos 125 desaparecidos em decorrência das enchentes no Rio Grande do Sul envolve trabalho técnico de geólogos em áreas de deslizamento e atuação do Corpo de Bombeiros com cachorros, helicópteros e barcos.
A dificuldade de acesso a áreas rurais em que famílias podem ter sido soterradas e a retomada da chuva com força no fim de semana prejudicam as buscas e devem atrasar a missão de achar as pessoas que sumiram desde o início das inundações no estado. Em alguns casos, corpos precisam passar por papiloscopia para serem identificados.
Voluntários que atuam no resgate em áreas alagadas também ajudam os órgãos oficiais. O empresário Tainan Ferrari, 34, afirma que combinou com bombeiros e que tem feito uma marcação com um x nas casas na qual acha que pode haver um corpo. “Em alguns locais, o cheiro é muito forte”, diz ele.
As chuvas, que voltaram com força nos últimos dias, porém, devem atrasar o esvaziamento da inundação nas cidades e também o ingresso nessas residências.
Em Roca Sales, que fica a 143 km de Porto Alegre, por exemplo, há uma situação complicada. O município tem 12 mil habitantes, mas um território muito extenso. São mais de 700 km de estrada de chão e muitas habitações rurais que, agora, estão inacessíveis.
Este é o caso de uma família composta por avô, avó, pai, mãe, filho e genro que mora em uma área em que houve um grande deslizamento e até o momento não foi encontrada. Os bombeiros gaúchos estão com reforço de colegas de Mato Grosso nas buscas.
As estradas que davam acesso ao local estão obstruídas e os profissionais têm chegado ao local por via aérea, aquática ou a pé. Geólogos voluntários também ajudam a estudar o terreno.
O helicóptero não consegue pousar na região e os bombeiros descem por cordas da aeronave para fazer as buscas. Outro grupo chegou ao local pelo rio Taquari. Da beira do rio, conseguiram uma carona com um produtor local que tinha um trator.
Além disso, uma terceira equipe fez o trajeto a pé. Até o momento, porém, nenhum corpo inteiro foi achado a equipe encontrou apenas um membro humano no local.
Com a retomada da chuva neste domingo (12), as buscas foram interrompidas, pois há grande risco de novo deslizamento, o que botaria em risco a vida de quem trabalha no resgate.
O chefe da equipe mato-grossense de bombeiros, major Anderson Rodrigo da Silva, atua no local e diz que o trabalho não é simples.
“A região é muito extensa, muito larga e tem muita matéria acumulada. É um terreno muito instável ainda, está descendo água, está descendo terra, têm muitas pedras gigantescas no topo que têm risco de descer. É uma região muito insegura, muito perigosa”, afirma.
O oficial de operações do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, capitão Emerson Ribeiro, afirma que as buscas no local foram interrompidas devido às chuvas e que a corporação estuda estratégias para a retomada. Uma delas é montar uma estrutura no local do deslizamento.
“Uma alternativa é a tropa ir com autossuficiência e montar um acampamento para permanecer trabalhando lá. Caso precisem de algo, seria levado por via aérea, mas para isso a gente precisa que o tempo colabore, que pare de chover para a gente operar com certa segurança”, afirma.
Esse tipo de operação ocorre principalmente no Vale do Taquari, em que fica Roca Sales, e em Bento Gonçalves e proximidades, distante cerca de 130 km de Porto Alegre. Isso porque, a região tem morros e muitas encostas, o que provoca deslizamentos e, em algumas situações, acabam por soterrar casas com moradores dentro.
Em outros municípios do estado, como em Porto Alegre e região metropolitana, as buscas por desaparecidos são predominantemente aquáticas, uma vez que nesses locais houve muitas inundações, mas não há montanhas nem um movimento de força dos rios que arrasta o que está pela frente.
As buscas nas áreas alagadas representam um desafio e também foi muito prejudicada pela insistência das chuvas. Muitas casas ainda estão totalmente submersas.
O ingresso em residências é dificultado por portões fechados e, em muitos casos, os bombeiros evitam ingressar no local, mesmo com indício de que pode haver um corpo, por ser considerada uma operação de risco.
Alguns fatores são ponderados pelos profissionais. Primeiro, a baixa chance de encontrar uma pessoa com vida, o que reduz a urgência. Segundo, o fato de não conhecerem o local, que pode ter carros boiando ou móveis cortantes.
Em ambos os casos, os cachorros treinados pelo Corpo de Bombeiros são fundamentais nas buscas. “O trabalho deles nos faz poupar energia, recursos e facilita nossa logística”, diz Emerson Ribeiro.
São os cães que direcionam praticamente todas as operações. “É uma das ferramentas mais importantes que temos. Eles têm uma capacidade de identificar as células olfativas várias vezes mais desenvolvidas que a dos seres humanos. Eles percebem uma mudança sutil no odor que, às vezes, está a quilômetros de distância e indicam a direção”.
Os cachorros passam por uma prova e precisam ter uma certificação do Comitê de Busca, Resgate e Salvamento com Cães antes de atuarem com os bombeiros.
Eles têm treinamento direcionados e cada um tem sua especialidade. Alguns servem para identificar pessoas vivas, outros corpos mortos e um terceiro grupo voltado para animais.
MATHEUS TEIXEIRA E PEDRO LADEIRA / Folhapress