Caça Gripen produzido no Brasil se prepara para decolar em 2025

GAVIÃO PEIXOTO, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro caça supersônico construído no Brasil, o modelo sueco Saab Gripen produzido na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP), deverá voar pela primeira vez e ser entregue para a Força Aérea em 2025.

Nesta quarta (5), foi iniciado o principal estágio da montagem do caça na fábrica, que fica 300 km a noroeste de São Paulo, no qual são instalados 35 km de cabos em 300 metros de dutos no corpo do avião. Na sequência, são instalados componentes aviônicos e a unidade de partida autônoma.

Em agosto, ele deverá ser receber seu motor, de fabricação americana, e no primeiro semestre do ano que vem será finalizado para testes de voo. A entrega para a FAB (Força Aérea Brasileira) está prevista para o fim de 2025.

O avião, um modelo E para um piloto, já teve unificadas as quatro partes de sua estrutura, três delas vindas da Suécia e o cone da cauda, da fábrica da Saab em São Bernardo do Campo (SP).

Essa etapa durou um ano, desde a abertura da linha de produção, em maio. Esse primeiro avião deverá consumir cerca de 9.000 horas de trabalho em mais de dois anos, mas, a partir do momento em que a produção engata, o tempo fica menor.

“É uma conquista significativa”, diz o gerente-geral da Saab em Gavião Peixoto, Hans Sjöblom. Foram treinados na Suécia 350 profissionais da Embraer, segundo o vice-presidente de Operações da divisão de defesa da empresa brasileira, Walter Pinto Jr.

“O avião tem real conteúdo nacional, é feito por brasileiros”, disse Luiz Hernandez, o diretor de cooperação industrial da fabricante sueca no Brasil.

Na fábrica no interior paulista, três das estações de produção do avião estão operando. No momento, um segundo modelo terá a montagem final iniciada em julho e um terceiro já tem suas partes vindas da Europa prontas para serem desembaladas.

Segundo o acordo de compra de 36 aviões, 15 deles serão fabricados no Brasil, com a Embraer liderando um grupo de empresas locais que participam do desenvolvimento do Gripen de nova geração, tanto o E para um piloto quanto o F, para dois.

A fabricação é a culminação de um processo de uma década: o governo Dilma Rousseff (PT), que havia selecionado o avião após uma longa novela cheia de lances geopolíticos e intrigas em dezembro de 2013, assinou a compra em outubro de 2014.

Mais um ano se passou até a finalização do acerto financeiro para o financiamento, pela agência exportadora do governo do país nórdico, da aquisição de 36 aviões por 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 20,1 bilhões hoje).

Uma das condições da FAB para a escolha do caça era a transferência tecnológica, o que ajuda, ao lado de engasgos orçamentários e do fato de se tratar do desenvolvimento de um caça novo, a explicar a demora do programa, que prometia em 2014 a entrega de todos os aviões até o ano passado —até aqui, apenas oito unidades voam no país.

Isso levou a Saab à parceria com a Embraer e outras empresas menores do setor aeronáutico e a criação do polo de Gavião Peixoto, onde a fabricante paulista já tinha uma fábrica e pista de pouso.

Em 2016, foi aberto um centro de desenvolvimento do projeto no local, somando cerca de 130 funcionários das duas empresas.

Em 2020, após a chegada do primeiro Gripen ao país, foi aberto um centro de ensaios de voo, com simuladores tanto da cabine quanto dos sistemas do avião, o chamado S-Rig.

O modelo seguirá sendo testado até o fim do programa de certificação da aeronave, provavelmente daqui a dois anos. Recentemente, passou por operação em clima quente, úmido no Pará e seco em Goiás.

“No Pará pudemos voar a velocidade supersônica a baixa altitude, junto à costa, e havia muita umidade dificultando a visibilidade. Foi um ótimo teste”, disse o chefe do centro de ensaios da Saab, Martin Lijonhufvud.

Ele afirmou que os testes de reabastecimento em voo do modelo deverão ocorrer em 2025 e 2026, com os KC-390 da Embraer a serviço da FAB. Testes de integração de armas também estão previstos.

Ele disse ainda que “algumas questões”, em português problemas, foram identificados, mas que a campanha foi bem-sucedida. Quando o caça de testes acabar seu trabalho, será entregue à FAB.

Já há sete aviões operacionais, que deverão fazer sua estreia em ação num exercício multinacional em setembro. Todos são do modelo E, igual aos que serão produzidos no Brasil, e mais uma unidade deverá chegar no fim do ano. Eles ainda não têm armamentos integrados.

Apesar de a Embraer ter participado ativamente do desenho da versão de dois lugares, a complexidade de produção e a falta de escala, já que o Brasil só encomendou 8 deles, levou sua fabricação para a sede da Saab em Linköping.

AVIÃO PROCURA MERCADO

O Gripen tem enfrentado dificuldade no mercado mundial. Apesar de sua versão atual ser considerada topo de linha da chamada quarta geração, sem características furtivas ao radar, ele perdeu espaço significativo na Europa com a invasão do americano F-35.

A Guerra da Ucrânia abriu uma feira militar no continente, e o avião dos EUA tem se tornado padrão da Otan, a aliança militar à qual a Suécia aderiu no começo deste ano.

A fabricante diz que a nova geração terá vida útil de talvez 40 anos, e Estocolmo encomendou 60 aviões do modelo E até aqui —número que deverá subir, para substituir os 96 que opera da geração anterior, a C/D.

Um respiro veio em fevereiro, quando a Hungria levantou a objeção à entrada dos suecos na Otan e anunciou a compra de Gripen C/D para substiuir sua atual frota dos mesmos modelos, de 14 aeronaves. Mas mercados na Ásia e na América Latina, no caso a Colômbia, estão na mira.

O Brasil, por sua vez, trabalha em um negócio casado com a Suécia no qual compraria mais 14 Gripen para sua frota e venderá 2 aviões de transporte KC-390 da Embraer. O arranjo foi revelado pela Folha em setembro do ano passado, e está em compasso de espera.

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O jornalista viajou a convite da Saab

IGOR GIELOW / Folhapress

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