Caetano Veloso se despede da Londres de Transa com show mais introspectivo do Festival de Verão

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Foi Salvador, capital do Estado onde nasceu, a cidade escolhida por Caetano Veloso para se despedir da Londres de “Transa”, álbum de 1972 criado a partir de seus anos de exílio —e que ele revisitou na íntegra e em poucos shows em 2023.

A apresentação, a última a entrar no lineup da 25ª edição do Festival de Verão Salvador, foi responsável pela parte mais contemplativa do evento, que já havia visto momentos poderosos acontecerem ao som da música de BaianaSystem com Carlinhos Brown no sábado (27) e Daniela Mercury, que cantou com Margareth Menezes e o Ilê Aiyê neste mesmo domingo (28), por exemplo.

A atmosfera criada a partir de canções como “It’s a Long Way”, “London London” e “You Don’t Know Me” —primeira do show e do disco que é um dos mais celebrados de Caetano— foi especial por ser na Bahia do artista e única porque capturou um público que passou o dia dançando e cantando para deixá-lo quase que em total silêncio, com interações pontuais.

Um desses casos foram os gritos no momento em que o músico canta os versos “Com fé em Deus / Eu não vou morrer tão cedo” de “Araçá Azul” e todos os aplausos entre as canções escritas por ele nos momentos antes, durante e após o período que passou em Londres que apareceram no setlist.

Outro foi ao longo do bloco em que Caetano convidou ao palco Jards Macalé, Tutty Moreno e Áureo de Sousa, que gravaram o álbum com ele. Moacyr Albuquerque, o quarto elemento que participou do disco, morreu em 2000.

Os músicos começaram repetindo “You Don’t Know Me” e passando por “Mal Secreto” e “Sem Samba Não Dá”. Foi o momento menos experimental do show, absorvido com a mesma atenção de antes pela maior parte do público, que acompanhava as músicas cantando —especialmente em “Mora na Filosofia” e “Nine Out of Ten”.

A sensação é a de que ouvir todas as faixas de “Transa” na Bahia dá uma compreensão maior das palavras escritas por Caetano no exílio. Sonoramente, com o experimentalismo de suas músicas, ajuda a escancarar ainda mais essa mesma distância do lugar de onde veio, quente e acolhedor.

Depois de repetir o trecho de “Nine Out of Ten”, em que canta que está vivo, muito vivo, o artista —vestido de vermelho e preto, as cores da capa do álbum clássico— atravessou a passarela do palco para se despedir sob fortes aplausos do público do Festival de Verão.

LAURA LEWER / Folhapress

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