BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Caixa Econômica Federal entrou com uma nova ação contra Pedro Guimarães para cobrar a indenização paga pelo banco a um empregado que foi coagido pelo ex-presidente a comer pimenta, e ouviu comentários homofóbicos.
Em primeira instância, o banco havia sido condenado pela Justiça do Trabalho no ano passado a indenizar o funcionário em R$ 20 mil por danos morais. O episódio ocorreu em 2020 em um evento do programa Caixa Mais Brasil no Amazonas.
A denúncia narra que o executivo colocou pimenta no prato de funcionários durante um jantar e obrigou o grupo a comer. Para tentar disfarçar o gosto e conseguir terminar a refeição, um dos empregados pingou algumas gotas de limão sobre a porção. O então presidente do banco chamou o homem de “são-paulino” e “bambi”, termo homofóbico usado de forma pejorativa para se referir a torcedores do São Paulo.
A decisão da Caixa de acionar Guimarães pelo caso foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha.
Segundo o relato de testemunhas ao MPT (Ministério Público do Trabalho), era comum que Guimarães obrigasse os funcionários a comerem pimenta. Uma denúncia anônima foi registrada internamente em julho do ano passado, na qual uma mulher narra que o executivo colocou comida no prato dela e comeu.
“Muitos depoimentos revelam que o ex-presidente fazia brincadeiras constrangedoras aos funcionários, como jogar as pessoas no rio (a TESTEMUNHA 24 disse que um funcionário se afogou numa destas brincadeiras), colocar pimenta na comida das pessoas”, diz trecho da investigação feita pelo MPT.
“A TESTEMUNHA 24 disse que já presenciou as meninas ficarem várias vezes o dia inteiro sem comer por conta da pimenta que o ex-presidente colocava na comida delas nas viagens e a TESTEMUNHA 26 viu o ex-presidente colocando comida no prato de uma funcionária.”
Sob o comando de Rita Serrano, a Caixa tem cobrado Guimarães por meio da Justiça pelos prejuízos causados pelo ex-presidente. Em outra ação, a empresa também pede a devolução de seis aparelhos de celular modelo iPhone ou o pagamento de R$ 45 mil.
A defesa do executivo foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto. O advogado José Luis Oliveira Lima tem classificado as ações judiciais como “jogadas políticas” da atual direção do banco, para atacar sua “excelente gestão”.
A Caixa afirmou em nota que também vai ajuizar uma ação de improbidade administrativa pela atuação irregular em conselhos de empresas públicas ou privadas nas quais o banco tinha a prerrogativa de fazer a indicação. A Lei das Estatais limita a participação a dois conselhos, mas Guimarães atuava em 21.
“A Caixa esclarece que ingressou com pedido junto à Justiça Federal para ser admitida como assistente de acusação do Ministério Público na ação criminal ajuizada contra o ex-dirigente. O banco também ajuizou ação de ressarcimento dos valores a que foi condenada a pagar na Justiça do Trabalho por assédio moral praticado contra empregado”, disse o banco.
“Será ajuizada ainda ação de improbidade administrativa por conta de atuação irregular em conselhos de empresas nas quais o banco tinha a prerrogativa de fazer a indicação.”
Guimarães comandou a Caixa durante boa parte da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e só foi exonerado depois que denúncias de assédio sexual e moral vieram a público. O executivo é réu por assédio sexual e importunação sexual. O caso está sob sigilo.
Em nota, a empresa afirma que, além das medidas judiciais e correcionais, reforçou e implementou ações de combate às práticas de assédio sexual e moral. Uma das medidas elencadas é a vinculação da Corregedoria ao Conselho de Administração, e a recriação da vice-presidência de Pessoas.
“No último ano, foram penalizados, após processo disciplinar instaurado para apurar condutas relacionadas a assédio moral e/ou sexual, 34 empregados, dos quais 18 tiveram o contrato de trabalho rescindido, 7 foram suspensos, 6 foram advertidos e 3 foram excluídos e/ou isentados”, diz.
“Outra ação importante foi a implementação de política específica de prevenção e combate ao assédio moral e sexual e à discriminação, além de ações de aculturamento sobre o tema (como palestras, rodas de diálogo, certificações obrigatórias, criação de página com conteúdo informativo, dentre outros) para empregados e dirigentes”, completa.
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress