Caixa se recusou a informar data de saída de Occhi e só oficializou mudança após contato da Folha de S.Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Caixa Cartões Pré-Pagos, subsidiária do banco estatal, oficializou a saída do ex-ministro Gilberto Occhi do conselho de administração da empresa depois de ser procurada pela reportagem para comentar um possível conflito de interesses envolvendo o ex-ministro, que é aliado da cúpula do PP.

Occhi ocupava o posto enquanto negociava, com sucesso, a contratação pela Caixa de uma empresa da qual ele é funcionário, a Cactvs, para operar uma modalidade de microcrédito rural no Norte e no Nordeste.

Nas últimas semanas, a Caixa dizia que Occhi havia deixado o conselho de sua subsidiária, mas não informava a data em que a mudança havia sido feita. Documentos registrados pela empresa na Junta Comercial de São Paulo mostram que a saída oficial daquele cargo ocorreu em 26 de fevereiro.

O primeiro contato da reportagem com a Caixa para a reportagem sobre a contratação da Cactvs ocorreu em 10 de fevereiro. Occhi foi procurado pessoalmente em 18 de fevereiro.

Em 25 de fevereiro a reportagem foi informada de que Occhi teria deixado o conselho da Caixa Cartões Pré-Pagos ainda naquele mês, mas sem apontar uma data precisa. O pedido sobre a data foi reiterado mais uma vez e não houve resposta por parte da Caixa e nem de Occhi.

Occhi foi indicado pelo banco para o conselho em dezembro de 2023. Na data, o presidente do banco já era Carlos Antônio Vieira Fernandes, alçado ao cargo em novembro daquele ano em uma tentativa do presidente Lula de obter apoio do Centrão no Congresso Nacional.

O documento mais recente da Caixa Cartões Pré-Pagos na Junta Comercial do Estado de São Paulo foi juntado aos registros da companhia na última terça-feira (25). Trata-se de um relato de uma assembleia para tomar conhecimento da renúncia de Occhi como conselheiro.

O atual presidente da Caixa foi indicado para o cargo em 2023 por um grupo de partidos liderado pelo PP, com articulação do então presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL). Ele também é próximo de Occhi, com quem trabalhou em diversas ocasiões.

O presidente da Caixa foi secretário-executivo de Occhi em dois ministérios. No das Cidades, ocupado por Occhi entre março de 2014 e janeiro de 2015, e na Integração Nacional, onde Occhi ficou entre janeiro de 2015 e abril de 2016. Em ambos os casos, Occhi foi uma escolha do PP.

Depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em junho de 2016, Occhi foi escolhido para a presidência da Caixa, novamente pelas mãos do partido de Arthur Lira.

A Caixa tem o direito de indicar metade dos membros do conselho da Funcef (Fundação dos Economiários Federais), entidade que administra a previdência privada dos funcionários da Caixa. Em setembro de 2016, o escolhido foi Fernandes.

Em 2019, com a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro, a dobradinha entre Occhi e Fernandes foi suspensa. O atual presidente da Caixa foi para o BRB (Banco de Brasília) e Occhi para a iniciativa privada.

Hoje, Occhi é assessor técnico da Cactvs, credenciada pela Caixa para operar o microcrédito rural do banco em dezembro de 2024.

LUCAS MARCHESINI / Folhapress

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