Caminhada de mulheres lésbicas e bissexuais mistura política e arte

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Política e arte deram o tom da Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo neste sábado (1º). O ato que iniciou na praça da República, região central da cidade, mesclou discursos de lideranças de movimentos sociais e parlamentares, blocos de carnaval e shows em trio elétrico que se deslocou até o largo do Arouche.

A marcha acontece na véspera da Parada do Orgulho LGBT+, que desfila pela avenida Paulista a partir das 10h deste domingo (2).

“Marchamos contra o ódio e a intolerância”, disse a deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP), sob gritos de “presidenta”. “Mulheres lésbicas e bissexuais precisam estar na ordem do dia e estamos aqui reafirmando este compromisso. Não aceitamos mais meia cidadania, não aceitamos mais que nossos corpos tombem.”

Também participaram do evento Débora Lima, presidente do PSOL em São Paulo, Luana Alves, vereadora de São Paulo pelo PSOL, Débora Dias, covereadora do mandato coletivo Quilombo Periférico, e Carolina Iara, codeputada estadual da bancada feminista do PSOL.

“Convidamos diversos partidos para estar aqui”, diz Sheila Costa, uma das organizadoras da caminhada. “A ideia é que lésbicas votem mais em lésbicas para que tenham políticas públicas para este público.”

O evento atraiu mulheres de todas as idades. Entre elas, Angela Fontes, 72, e Willman da Rocha, 75, juntas há 29 anos.

“Fiquei 15 anos no armário, lia livros temáticos escondida, foi duro. Aqui é um dia de festa e de luta”, diz Angela.

A advogada Hanna Korich, 67, vem todo ano de Mairiporã (SP) para a marcha. “Sou judia, lésbica e ativista cultural”, conta ela, que teve uma editora e publicou dez livros de autoras lésbicas e bissexuais.

“É importante que lésbicas leiam para ter repertório para debater e sair da invisibilidade”, completa a advogada que afirma ficar emocionada em toda edição da caminhada.

O trajeto seguiu pelas avenidas Ipiranga, São Luís e São João até o largo do Arouche. Os blocos de carnaval Siriricando, Maria Sapatão e Siga Bem Caminhoneira animaram os “foliões”, que seguravam cartazes como “salve Dilma”, “viva a resistência da mulher palestina”, “crianças trans existem” e “orgulho de ser bissexual”.

Segurando a placa “mãe sapatão”, Marcela Tiboni faz coro pela maternidade lésbica. Dessa vez, conta ela, veio sem os filhos.

“Na última estava grávida dos gêmeos”, diz a influenciadora digital e escritora que advoga pela dupla amamentação. “A luta ainda está numa relação de assumir orientação, mas é importante lembrar que nossas famílias existem, a família tradicional brasileira é nossa também.”

Em sua segunda participação no evento, Letícia Chagas, 24, acredita que este é um lugar de fortalecimento. “Aqui no centro de São Paulo é onde nos sentimos a gente mesmo, a caminhada é um lugar de luta.”

Os discursos em cima do trio elétrico reforçam a “luta”, palavra que mais sai da boca do público, formado por mulheres lésbicas, bissexuais, trans e simpatizantes.

“Estamos enfrentando a extrema direita que quer aniquilar nossa existência, nossa afetividade, querem nos colocar de volta no armário”, discursou Luana Alves, vereadora do PSOL em São Paulo. “Lutamos por justiça porque a política de ódio tira vidas simbolicamente e concretamente”, completou.

Em sua 22ª edição, o evento deste ano pede justiça por Ana Caroline Sousa Campêlo, morta de maneira violenta no Maranhão, em 2023, aos 21 anos, e por Luana Barbosa, assassinada em uma abordagem policial violenta em Ribeirão Preto (SP) em 2016.

“Elas são exemplos da lesbofobia”, afirma Débora Dias, 26, covereadora do Quilombo Periférico e uma das organizadoras da caminhada.

“Pesquisadores têm tentado sistematizar as mortes e já sabemos que negras e pobres são as que morrem mais. Apesar da comoção nacional, as investigações são frágeis”, completa.

A caminhada tem apoio da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, que ofereceu trio elétrico e estrutura técnica.

“A Parada LGBT+ não dá conta das lésbicas, a caminhada levanta a pauta mais diretamente “, diz Sheila Costa.

GABRIELA CASEFF / Folhapress

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