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Campanha em Portugal se aproxima do fim com mal súbito de candidato e premiê de novo em alta

LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – “Che-ga! Che-ga! Che-ga!” Os eleitores gritavam o nome do partido de ultradireita de Portugal nesta terça-feira (13) em Tavira, no último comício antes das eleições marcadas para o próximo domingo. O líder da sigla, o advogado André Ventura, 42, subiu ao púlpito para fazer seu discurso. “Temos que acabar com este país onde andam a viv…” Não terminou a frase. Levou a mão ao coração e tombou sobre o púlpito onde se lia seu slogan “Salvar Portugal”. Seguranças subiram ao palco e o levaram para um hospital na vizinha Faro, onde passou a noite. Momentos antes do mal súbito, o candidato do Chega admitira que o atual premiê, Luís Montenegro, é o grande favorito nas eleições.

Na manhã de quarta-feira dia (14), André Ventura postou nas redes sociais uma foto fazendo joinha no leito do hospital: “Espero ter alta nas próximas horas. Quero agradecer-vos a todos o apoio, a amizade e as orações”. Minutos depois, foi liberado para continuar a campanha. O diagnóstico: refluxo esofágico.

Tavira e Faro ficam na região do Algarve, ao sul de Portugal, principal reduto do Chega. No dia anterior, segunda-feira (12), foi a vez de o próprio Montenegro visitar sua base eleitoral, a cidade de Espinho, onde tem residência. Um jornalista perguntou ao atual premiê sobre sua empresa, a Spinumviva, com sede a menos de 15 minutos do local onde o candidato conversava com eleitores. “Querem voltar a fazer as mesmas perguntas que faziam há dois, três meses?”, irritou-se o premiê. E continuou a caminhada.

A Spinumviva esteve no centro do episódio que levou à queda do governo de Montenegro há dois meses, quando novas eleições foram convocadas. O premiê foi acusado de conflito de interesses. Pertencente à família de Montenegro, prestava serviços de consultoria a clientes com interesses no governo, entre elas uma empresa de cassinos, que em Portugal são concessão pública.

Os dois episódios —o mal súbito de Ventura e o desdém de Montenegro— resumem a reta final da campanha eleitoral. Os adversários reconhecem o favoritismo do atual primeiro-ministro em tentar a recondução ao cargo. Grande parte desse favoritismo se deve ao fato de o episódio da Spinumviva ter perdido importância na campanha, mesmo relembrado constantemente por jornalistas e adversários.

Uma pesquisa eleitoral feita na semana passada pelo instituto Pitagórica mostra o premiê de centro-direita do Partido Social Democrata (PSD) com 34%, com 8 pontos de vantagem sobre seu principal oponente, Pedro Nuno Santos, do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e 18 à frente do terceiro colocado, o Chega, de André Ventura. O PSD concorre em coligação com o Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP) numa chapa denominada Aliança Democrática (AD). Um algoritmo agregador de pesquisas do jornal O Público dá vitória à AD em 85% de 10.001 simulações.

Pedro Nuno esteve em Espinho no mesmo dia de Montenegro, brandindo sua principal acusação de campanha —a de que a Aliança Democrática irá desmontar políticas de bem-estar social. Para reforçar seu argumento, apontou a provável coligação pós-eleitoral entre o Partido Social Democrata e a Iniciativa Liberal, sigla de direita que defende o enxugamento do Estado e que pontua em quarto lugar nas pesquisas.

Mais do que com a Spinumviva, os portugueses estão preocupados com temas da vida prática. Um deles é o custo da moradia. O aluguel de um apartamento de dois quartos num bairro de classe média de Lisboa pode passar dos € 2 mil, cerca de R$ 13 mil. Outro é a falta de médicos nos hospitais públicos. Estima-se que 5.000 trabalhadores da área de saúde tenham emigrado para outros países europeus em busca de melhores salários.

O tema da imigração, praticamente ausente em eleições anteriores, ganhou importância neste ano depois que o governo anunciou um plano de deportação de estrangeiros em plena campanha eleitoral. A medida deverá afetar pouco os brasileiros e bastante os cidadãos indianos, nepaleses, paquistaneses e bengalis. Em um de seus outdoors de campanha Montenegro lista “regular a imigração” entre seus feitos.

A deputada Mariana Mortágua, do partido Bloco de Esquerda, acusou Montenegro de levantar o tema para atrair eleitores do Chega, sigla que abriga correntes xenófobas, e pavimentar uma aliança futura. As pesquisas mostram que a direita como um todo terá mais votos do que a esquerda nas eleições —mas mesmo assim, em caso de vitória, não deve conseguir maioria absoluta sem o apoio do Chega.

Os números sugerem que, mesmo com o provável apoio dos deputados da Iniciativa Liberal, dificilmente Montenegro deixará de ser um governante minoritário caso ganhe mesmo as eleições. As projeções mostram que uma coligação entre a AD e a Iniciativa Liberal não chegaria a cem deputados, e são necessários 116 para obter maioria absoluta num parlamento com 230 cadeiras. Com o acréscimo dos deputados do Chega —segundo as pesquisas, em torno de 50— essa maioria seria folgada.

O atual primeiro-ministro, no entanto, promete honrar o slogan “não é não” que perpassou seu primeiro mandato. Ele reafirmou várias vezes, inclusive em entrevista à Folha, que jamais faria coligação com André Ventura, a quem acusa de ter “pendor destrutivo” e de “não ter maturidade nem decência para exercer funções governativas”.

A antipatia entre os líderes das duas maiores siglas à direita é recíproca. Ventura se coloca como opositor do establishment partidário e, num outdoor, chegou a comparar Montenegro a José Sócrates, ex-premiê socialista condenado na Justiça. No cartaz se lê o slogan: “50 anos de corrupção. É tempo de dizer Chega”. Na semana passada, Montenegro entrou na Justiça pedindo a retirada dos cartazes, sob o argumento de difamação. Seu pedido foi negado.

JOÃO GABRIEL / Folhapress

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