BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, está sendo aconselhado por importantes líderes políticos do centro a não cair na provocação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de bolsonaristas.
Essas lideranças, que dão sustentação à política econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda) no Congresso, avaliam que o chefe da autoridade monetária precisa defender a autonomia operacional da instituição, aprovada em 2021 e validada depois pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A aprovação da autonomia é considerada pelos aliados políticos de Campos Neto o seu principal legado à frente do BC, maior do que o popular Pix (sistema de pagamento instantâneo).
Como exemplo, um líder partidário relaciona o legado atribuído a Campos Neto ao de Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente da República disse que daqui a cem anos o registro associado a seu nome nos livros de história será o de “pai do Plano Real”, embora tenha adotado diferentes medidas positivas durante seu governo. FHC foi presidente da República entre 1995 e 2022 e era ainda ministro da Fazenda quando o plano foi lançado, em 1994.
Campos Neto voltou a ser alvo de um novo tiroteio nesta segunda-feira (17), disparado pelo presidente Lula, integrantes do governo e do PT. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), anunciou que apresentará uma ação contra Roberto Campos Neto para ele não se manifestar politicamente em eventos públicos.
O estopim da ofensiva foi a sua participação em jantar em sua homenagem organizado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), após receber Medalha do Mérito Legislativo da Alesp (Assembléia Legislativa de São Paulo).
A ofensiva foi coordenada na véspera da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) e começou pela manhã com o próprio Lula. Em entrevista à CBN o presidente da República criticou a taxa de juros, disse que Campos Neto “tem lado político” e “não demonstra nenhuma capacidade de autonomia”. O petista citou jantar que Tarcísio fez em homenagem ao chefe da autoridade monetária. Políticos aliados e integrantes do governo passaram o dia criticando Campos Neto e os juros altos.
“[Tarcísio] tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do Governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%”, disse Lula.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, foi a primeira vez que Lula tratou Tarcísio como potencial adversário na próxima eleição nacional, da qual admitiu participar para derrotar o que chamou de “trogloditas”.
Aliados de Campos Neto não enxergam como um problema a homenagem da Alesp e o jantar, mas alertaram o presidente do BC a não se deixar cair em armadilhas de bolsonaristas, que querem polarizar o debate. O risco é um aumento do desgaste nos seis meses que faltam até o final do seu mandato, em 31 de dezembro, comprometendo a autonomia.
Além do encontro desta quarta-feira (19) do Copom, ele vai comandar mais quatro reuniões: 30 e 31 de julho; 17 e 18 de setembro; 5 e 6 de novembro; 10 e 11 de dezembro. Até lá, o número de integrantes do colegiado indicados por Bolsonaro será maior do que as indicações do presidente Lula.
Em relação a Lula, a avaliação é que o presidente vai seguir na estratégia política contra Campos Neto, mas que daqui a quatro anos estará ele mesmo elogiando a autonomia, quando os indicados terão sido escolhas suas.
Na entrevista, Lula falou que o presidente do BC a ser indicado por ele será “maduro”, o que chamou a atenção no mercado e entre analistas para o fato de que o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, ter apenas 42 anos. A leitura majoritária, no entanto, é que foi um despiste de Lula e que Galípolo segue como favorito para o comando do BC.
ADRIANA FERNANDES E CAMILA MATTOSO / Folhapress