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Canadenses vão às urnas de olho em ameaças de Trump, inflação e criminalidade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Canadá vai às urnas nesta segunda-feira (28), e o resultado do pleito provavelmente deixará claro para o mundo o que causa mais preocupação aos cerca de 40 milhões de canadenses hoje: ansiedades tradicionais do eleitorado de países desenvolvidos, como inflação e criminalidade, ou Donald Trump?

Se a resposta for as ameaças do presidente dos Estados Unidos de anexar seu vizinho ao norte e cobrar pesadas tarifas de um de seus maiores parceiros comerciais, o vitorioso deve ser o primeiro-ministro Mark Carney, do Partido Liberal: sua campanha tem se apoiado fortemente na oposição ao presidente americano e às suas constantes insinuações de que fará do Canadá o novo estado dos EUA.

Por outro lado, se esses medos derem lugar em importância a questões mais tradicionais, como a escalada da inflação e uma onda de criminalidade, deve triunfar Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador e cuja mensagem aos eleitores é a de que o país “não pode arcar” com mais um governo liberal “de alta nos preços e crime”, como disse à imprensa em evento de campanha na quinta (24).

No início da disputa eleitoral, marcada pela renúncia do então primeiro-ministro Justin Trudeau após quase uma década à frente do país, o Partido Liberal saltou à frente e manteve uma liderança confortável nas pesquisas eleitorais —analistas disseram que a resposta firme de Trudeau a Trump em seus últimos dias no cargo, quando o premiê conseguiu evitar a imposição de tarifas de 25% sobre mercadorias canadenses, beneficiou a imagem de seu partido na opinião do eleitorado.

Não por acaso, Carney tem feito do enfrentamento a Trump seu principal mote de campanha e tentado pintar o rival como uma pessoa “sem um plano” para lidar com o presidente americano. Na sexta (25), um dos últimos dias da campanha, o primeiro-ministro disse que “a velha relação que tínhamos com os EUA acabou, e as falas [de Trump] são um lembrete de que precisamos traçar um novo caminho”.

“Ao contrário de Pierre Poilievre, eu tenho experiência com orçamentos, com economia. Já lidei com crises antes. E agora, o que precisamos é de experiência, e não de experimentos”, disse Carney, que também tem utilizado a diferença de idade e de currículo dos dois principais candidatos como trunfo.

O premiê de 60 anos tem mais de uma década de experiência à frente dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido -o canadense se tornou o primeiro não-britânico da história a conduzir a política monetária do país europeu quando trabalhou como governador do Banco da Inglaterra de 2013 a 2020, lidando com o brexit e com o início da pandemia de Covid-19.

Poilievre, por sua vez, tem 45 anos de idade e nunca ocupou um cargo de grande expressão na política canadense, tendo sido ministro do Emprego e Desenvolvimento Social por um curto período no governo do conservador Stephen Harper em 2015. Ele está à frente do Partido Conservador desde 2022, e sua aposta na oposição, como na campanha eleitoral, é a de culpar o Partido Liberal pela alta no custo de vida, causado, segundo o conservador, por gastos descontrolados e aumento de impostos.

Poilievre promete diminuir o tamanho do Estado canadense, cortar impostos e combater uma crise habitacional que também é frequentemente citada como uma preocupação do eleitorado. Também promete “a maior repressão ao crime na história do Canadá”, com medidas como a prisão perpétua para criminosos violentos reincidentes.

Ao mesmo tempo, o conservador tenta se distanciar de Trump, dizendo que o Canadá “jamais será um estado dos EUA” e reafirmando sua concordância com temas que têm o apoio da maioria dos canadenses, como o aborto legalizado e o casamento LGBTQIA+.

Nos últimos dias, a distância entre os liberais e o Partido Conservador, que obteve cerca de um terço dos votos na última eleição, vem diminuindo. Um levantamento conduzido pela emissora CTV News e publicado na última quinta mostrou que o Partido Liberal de Carney marca 42% das intenções de voto, enquanto os conservadores de Poilievre têm 39%. Em uma pesquisa divulgada um dia antes, os liberais estavam cinco pontos percentuais à frente -agora, a diferença é de pouco mais de três pontos.

Para explicar isso, cientistas políticos apontam que Poilievre tem sido bem-sucedido em priorizar questões econômicas. Carney também enfrentou um pequeno escândalo recentemente depois de a imprensa revelar que ele omitiu detalhes da sua ligação com Trump no dia 28 de março.

Na época, Carney disse que o presidente americano respeitou a soberania do Canadá durante a conversa. Uma reportagem da Radio-Canada, entretanto, revelou nesta quinta que Trump repetiu na ligação o desejo de que o país se torne um estado americano, detalhe omitido por Carney. A revelação estremeceu a imagem do primeiro-ministro como um líder forte que enfrentará o republicano.

“Mark Carney foi pego em uma mentira”, disse Poilievre em um evento de campanha nesta sexta, aproveitando a vulnerabilidade do adversário. “Se ele mentiu sobre isso, pode ter certeza que ele está mentindo sobre a inflação, o aumento de impostos e a crise habitacional. Não podemos confiar em nada do que ele diz.”

Seja como for, se o Partido Liberal conquistar o quarto mandato consecutivo, é provável que tenha que fazer alianças com partidos nanicos -o Canadá tem um sistema parlamentarista, um dos poucos das Américas, e o primeiro-ministro precisa de maioria no Legislativo para governar.

Carney, entretanto, diz que não fará alianças com o partido Bloc Québécois (BC), sigla formada por separatistas de Québec, a província de língua francesa no leste do país. O BC busca um referendo de independência como condição para sustentar qualquer governo no Parlamento.

VICTOR LACOMBE / Folhapress

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