CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A duas semanas do segundo turno, Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB) ainda tentam desviar dos desgastes que se acumulam desde o primeiro turno da disputa à Prefeitura de Curitiba e passaram a ser mais explorados agora, dando combustível às campanhas.
Na campanha de Cristina, o peso maior é o seu candidato a vice-prefeito, Jairo Aparecido Ferreira Filho (PMB), que se apresenta como advogado e empresário e é alvo de processos judiciais movidos por pessoas que alegam terem perdido dinheiro em negócios com ele.
A reportagem consultou os processos e, embora os casos tramitem na área cível, advogados das vítimas também relatam suspeitas de delitos criminais, como estelionato, apropriação indébita e “pirâmide financeira”.
Um dos processos tramita desde fevereiro de 2023 na 3ª Vara Cível de São Bernardo do Campo (SP) e foi protocolado por uma aposentada de 67 anos. Ela sustenta ter investido R$ 400 mil para que Jairo devolvesse a ela rendimentos de 2,5% ao mês. Mas, segundo ela, isso aconteceu por apenas quatro meses.
A ação é cível, mas o advogado da aposentada sugere na petição que há também delitos penais no caso, como estelionato e apropriação indébita. Afirma que sua cliente foi vítima de um “grave golpe” e pede indenização moral. O caso ainda aguarda um desfecho.
Outro processo foi movido quase na mesma época por outra mulher, que faz relato semelhante.
Em dezembro de 2021, ela investiu R$ 185 mil em um contrato com a empresa Leilão Money. A empresa, com Jairo entre os sócios, prometeu rendimentos de 2% ao mês. A partir de maio de 2022, contudo, deixou de pagar o combinado.
“Há sérios indícios de que se trata de verdadeiro esquema de pirâmide financeira, pois dificilmente, no mundo dos negócios lícitos, uma empresa teria sustentabilidade financeira para proporcionar rentabilidade de 70% a 100%, conforme se depreende do site da parte ré”, diz a petição. O processo, ainda sem desfecho, tramita na 25ª Vara Cível de Brasília.
Outro processo, movido pela mesma mulher, está na 4ª Vara Cível de Brasília. Em março de 2024, Jairo e seu sócio na Leilão Money foram condenados a ressarci-la em R$ 90 mil. Jairo recorreu, mas, em agosto, a 7ª Turma Cível, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, negou o recurso.
A mulher fez um pagamento antecipado de R$ 90 mil para o aluguel de um veículo por três anos, com a promessa de devolução do valor integral no final do contrato. Ela recebeu um carro alugado em nome da Leilão Money, ficando como condutora adicional, mas, quase três meses depois, em março de 2022, o automóvel foi recolhido pela locadora por inadimplência.
Antes dos processos de São Paulo e Brasília, o hoje candidato a vice já tinha ao menos uma dívida no Paraná com um homem que alega ter injetado R$ 75 mil em um negócio com Jairo, através de uma empresa chamada Clubens.
Em julho deste ano, o homem levou o caso à 22ª Vara Cível de Curitiba, mostrando que o hoje candidato a vice reconheceu a dívida no início de 2019, mas não concluiu o pagamento.
No mês seguinte, contudo, ele desistiu do processo. A reportagem fez contato com a advogada do homem nesta segunda-feira (14), mas ela não quis se manifestar, alegando sigilo profissional.
A Folha tentou entrevistar Jairo na sexta-feira (11), mas sua assessoria indicou a advogada da campanha, Tainara Prado Laber, para falar sobre o assunto.
Segundo ela, os R$ 400 mil da aposentada seriam um empréstimo que Jairo obteve em razão de problemas financeiros. “Ele é mentor de empresas, e esse trabalho dele sofreu grande prejuízo na pandemia. E aí ele procurou uma pessoa para emprestar dinheiro”, diz a advogada.
Sobre os dois negócios envolvendo a Leilão Money, Jairo diz que eles foram firmados pelo sócio, e que ele não teve qualquer responsabilidade. Na Receita Federal, consta que a empresa foi aberta em 2016 e teve atividade encerrada em 19 de abril deste ano.
A campanha de Pimentel, por sua vez, também enfrenta desgastes. O maior deles envolve a Prefeitura de Curitiba e uma suposta coação de funcionários públicos para que houvesse colaboração financeira à campanha.
Áudios vazados na última semana da campanha do primeiro turno mostraram um superintendente da prefeitura dizendo a servidores que eles precisavam comprar convites do jantar em apoio a Pimentel, que isso “já veio determinado” e “não tem como negociar”.
O superintendente não falou com a imprensa e foi exonerado após a repercussão do caso. A prefeitura tratou o episódio como fato isolado, e a campanha de Pimentel negou qualquer participação, repudiando a atitude. O caso está sendo investigado na Justiça Eleitoral.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress