Candidatos veem CNU como alternativa ao preconceito no mercado de trabalho

SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A possibilidade de enfrentar uma seleção sem preconceitos atraiu candidatos ao CNU (Concurso Nacional Unificado), maior certame do tipo no país, cujas provas acontecem neste domingo (18).

“Sou publicitário e sinto a questão de ser preto influenciar no mercado de trabalho. Já trabalhei em grandes empresas e via que era preterido em cargos de gestão pela cor da pele”, afirmou Samuel Machado, 35, em um local de prova na zona norte do Rio de Janeiro.

“No concurso público, todos são iguais e é uma oportunidade de conseguir um cargo pela nossa capacidade, sem provar nada além.”

Além da raça, candidatos também citam gênero, idade e origem como características que não pesam na balança na seleção de novos servidores públicos.

O CNU vem sendo chamado de “Enem dos Concursos” não só por ser a primeira seleção unificada em nível nacional, mas também por abrir portas no funcionalismo público como fez o Exame Nacional do Ensino Médio para o ensino superior.

Com mais de 2,1 milhões de inscritos para 6.640 vagas no serviço público, a prova acontece em 228 cidades, incluindo todas as capitais, somando 3.647 locais de aplicação e 72.041 salas.

A diversidade foi um dos pilares buscados no momento da formulação do certame, afirmou a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, no momento de apresentação do CNU.

“O concurso é um processo importantíssimo de reconstrução do Estado brasileiro, de forma a aumentar a capilaridade e chegar a locais onde nunca houve prova de concurso público federal. A democratização do Estado, com maior diversidade, e garantir um Estado que seja mais a cara da população brasileira”, disse a chefe do MGI (Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos) à época.

Hoje, um dos fatores mais limitantes para o ingresso ou mobilidade no mercado de trabalho, a idade avançada foi citada por Domingos Alves, 57, como um trunfo para quem busca um espaço no serviço público.

“Você olha para os lados aqui e vê muita cabeça branca, gente prateada”, diz o engenheiro civil. Ele intenciona o cargo de auditor fiscal do trabalho -o de maior salário no CNU (de quase de R$ 23 mil).

Ele destaca a exigência de anos de estudo para alcançar o cargo, algo que aparece nos números. Jovens da geração Z, nascidos entre 1995 e 2010, representam apenas 6,7% do total de servidores públicos, segundo dados do painel estatístico de pessoal do MGI.

O CNU também atraiu jovens pela amplitude de vagas. Nicole Oliveira, 21, se inscreveu no bloco 4 assim que se formou na faculdade, em ciências sociais. A expectativa para passar, porém, é baixa: “Não estudei muito, mas já estou aqui. Por que não tentar?”

O esforço pela diversidade se reflete nos dados de inscritos no certame. Mulheres são a maioria dos candidatos, somando 1,2 milhão (56%), e os homens são 938,9 mil (44%).

“A proporção de mulheres é maior do que de homens e hoje, no setor público, é quase o inverso disso. É interessante essa inscrição para fechar um pouco o ‘gap'”, disse a ministra Esther Dweck.

Ainda que seja essa a expectativa, outros concursos, como o do TCU (Tribunal de Contas da União), apontam que o perfil dominante dos aprovados é de homens com idade de 32 anos, de classe média e que conseguiram se dedicar aos estudos por dois ou três anos. Os dados não revelam raça.

Quando o conteúdo programático dos editais foi divulgado, muitos cursinhos viram com bons olhos a pluralidade temática por promover o nivelamento de candidatos de primeira viagem a “concurseiros profissionais”, aqueles que estão habituados à rotina de estudos para certames.

A avaliação é de que, como boa parte dos temas são inéditos e não há uma prova anterior para comparação, a vantagem competitiva de quem já se prepara para concursos há mais tempo foi reduzida.

“A capacidade de planejamento, organização e absorção de conhecimento nessa reta final vai ser um diferencial”, afirmou Wagner Damazio, diretor pedagógico do curso preparatório Estratégia Concursos.

“O CNU permite que novos interessados no serviço público consigam brigar de igual para igual com os concurseiros profissionais, contanto que haja empenho e organização.”

TAMARA NASSIF E BRUNA FANTTI / Folhapress

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