PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Kelvin Hoefler considerou “muito boa, muito boa” sua apresentação nos Jogos Olímpicos de Paris. Prata em Tóquio, há três anos, o atleta de 31 fez mais uma final no skate street, obteve a sexta colocação e apontou que o formato de disputa adotado beneficia os mais jovens -o japonês Yuto Horigome, 25, levou o ouro, e a prata ficou com o norte-americano Jagger Eaton, 23.
“Acompanhar essa nova geração é difícil, né? Essa pegada da nova geração é aprender duas manobras e ganhar, sabe? Eu e o Nyjah [Huston, 29, lenda norte-americana da modalidade, que levou o bronze] temos uma bagagem de manobras muito grande. Essa nova geração aprende de uma forma só e não tem esse leque”, afirmou o pentacampeão mundial.
A bronca do brasileiro é com o formato de disputa. Cada atleta tem duas voltas de 45 segundos para fazer sua performance livremente pela pista, mas só a melhor delas é computada. Na sequência, há cinco tentativas de manobra única, e duas delas são contabilizadas. Ou seja, um skatista pode ter cinco execuções desastrosas e pôr no peito a medalha de ouro.
“É fato que, meu, o pessoal, erra, erra, erra, erra, erra e ganha. Acerta duas manobras e ganha. Acho que tem que ser mais legal para o público, o público tem que curtir mais. Como é no park, né? Os caras têm três voltas e vão dar as melhores voltas da vida, e é isso”, disse, lembrando que na modalidade park há três voltas de 45 segundos e só uma é descartada.
O modelo em Tóquio, onde Kelvin subiu ao pódio, tinha também três descartes nas cinco manobras únicas, mas nenhuma das duas voltas de 45 segundos era desconsiderada e a pista era maior. Segundo ele, há rumores de que haverá novas mudanças no formato, para melhor, e elas serão decisivas em sua escolha de tentar ou não participar dos Jogos de Los Angeles, em 2028.
Por ora, o paulista nem quer pensar muito nisso. Ele teve um ciclo desgastante no caminho para Paris, com lesões, e agora só pensa em descansar. Ao lembrar que sua mulher estava em casa, no sofá, cuidando dos cachorros da família, afirmou que a invejava e queria estar com ela, “bem tranquilo”.
“Eu não aguento mais, não aguento mais. Estou cansado, preciso de férias. Estou andando de skate, sei lá, faz uns 23 anos. E nunca tive férias. Preciso de umas férias, preciso descansar. Foi uma corrida olímpica bem difícil, a gente não sabia se viria até dois meses atrás, com competição de alto nível, uma correria”, afirmou.
Ele se mostrou aberto, após o período de relaxamento, a participar de mais competições no Brasil. Morador dos Estados Unidos desde 2010, o brasileiro vive hoje em Los Angeles, considerada a capital dos esportes radicais, e concentra boa parte de seu calendário na região do estado da Califórnia.
“Eu sou brasileiro, patriota para caramba, gosto do Brasil. Se fizerem um campeonato legal, eu vou. E se me chamarem! Se me chamarem. Porque, se não me chamarem eu não vou. Vou lá de intruso? Não, tem que convidar, pô”, afirmou, incomodado, porém sem deixar claro de quem estava reclamando.
“Alguns não [convidam], mas também não ligo. Estou lá fazendo minhas coisas, competindo na Street League, nos X-Games, que são importantes para mim, tenho também meus patrocinadores fora. Então, é isso. Estou feliz para caramba, segunda Olimpíada, final de novo. Estou felizão”, disse, encerrando a entrevista. “Foi? Foi? Valeu, pessoal.”
MARCOS GUEDES / Folhapress