SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Até hoje nenhum programa de pós stricto sensu a distância foi aprovado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), apesar de a entidade permitir a possibilidade da oferta desses cursos desde 2019. Das 29 propostas recebidas, 15 foram negadas e 14 estão sob análise.
Mestrado, doutorado e o chamado mestrado profissional, todos destinados ao aprofundamento de pesquisa científica numa área de estudo, dependem da apresentação de um trabalho, chamado de tese, para sua conclusão.
Segundo a Capes, a aprovação depende, primeiro, de uma avaliação da equipe técnica da entidade. Depois, o pedido segue para apreciação das comissões das áreas de avaliação para, então, ser debatido pelo Conselho Técnico Científico do Ensino Superior.
Por ser detalhado, o processo faz com que o tempo de espera para a aprovação de um curso seja longo. Sobre isso, a Capes diz ter criado grupo de trabalho para melhorar e modernizar regulamentos e portarias e agilizar a aprovação, sem que se perca a qualidade na pós-graduação.
Miriam Rodrigues, superintendente do Centro de Educação a Distância do Mackenzie, conta que a instituição pretende oferecer as pós stricto sensu a distância no futuro, mas ainda não fez nenhum pedido específico à Capes.
Já os cursos lato sensu não precisam de aval da entidade, desde que sejam oferecidos por instituições reconhecidas pelo MEC e atendam a requisitos mínimos, como presença de 50% de mestres e doutores no corpo docente e ao menos 360 horas de aulas.
Esses cursos caracterizam-se como especializações e oferecem ao aluno a chance de aprimorar conhecimento adquirido na graduação para aplicá-lo no mercado de trabalho. Nesses casos, não é obrigatória a apresentação de uma tese. As instituições são livres para escolher o método de avaliação desde 2018.
Formada em administração, Priscila de Siqueira, 40, é aluna de pós no curso de inteligência digital e novos ambientes comunicacionais, da Universidade Anhembi Morumbi. O que mais a atraiu em um curso a distância foi a praticidade.
“Moro em uma região mais afastada de São Paulo. Um curso como esse me permite estudar sem ter de me locomover até uma sala de aula. É muito flexível também. Já aconteceu de eu ter viagem marcada e poder ir sem perder nenhuma aula, já que podia assistir mesmo estando longe, ou assistir às gravações depois.”
Miriam, do Mackenzie, diz que, para universidades e alunos, o principal objetivo do ensino a distância é democratizar o acesso a um curso de especialização.
“Muitos alunos não são de São Paulo ou não poderiam frequentar aulas presenciais. Por isso, foi importante a criação de cursos com a mesma qualidade, mas que podem ser feitos de qualquer lugar.”
Outro fator atrativo é o preço. No Mackenzie, um programa presencial de pós-graduação em direito civil, oferecido no campus de Higienópolis, em São Paulo, custa R$ 1.476 por mês. Já a versão online tem mensalidades de R$ 706.
Sobre a variação de preço, Miriam afirma que é outra forma de facilitar o acesso a uma especialização.
“Os custos de um curso presencial são mais altos por diversas razões, como deslocamento dos professores e a manutenção de salas com números limitados de alunos, o que não é necessário no EAD.”
O mesmo afirma Daniela Tessele, coordenadora do núcleo de pós-graduação da Universidade Anhembi Morumbi. Segundo ela, é natural e relevante que o valor seja menor num curso remoto, desde que a qualidade se mantenha.
“O mais importante é ter a noção de que o remoto precisa ser mais fácil, mas não mais simples. Material e conteúdo precisam ter a mesma profundidade que os oferecidos num curso presencial”, afirma.
Siqueira, aluna da Anhembi Morumbi, diz que, no início, teve medo de que o modelo remoto prejudicasse fatores que considerava necessários em uma pós-graduação, como o contato com colegas e professores.
“Uma das coisas mais importantes é o contato com pessoas e a troca de experiência. Achei que não teria isso online, mas aulas síncronas e as conversas com mentores e professores cumprem totalmente esse papel”, afirma ela.
GUILHERME CALDAS / Folhapress