Cappelli diz que queda da taxa de juros é central para a retomada do setor

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O novo presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Ricardo Cappelli, disse à Folha de S.Paulo que a redução da taxa de juros no Brasil é central para a retomada do setor industrial.

Nomeado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, Cappelli avaliou que as críticas do mercado à nova política industrial foram “precipitadas”.

Ele reconheceu, no entanto, que o maior desafio, a partir de agora, será definir e quantificar de forma mais clara as metas do plano da NIB (Nova Indústria Brasil) do governo Lula.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se queixou a interlocutores do pacote de medidas voltadas ao setor industrial. Lula reclamou justamente que a proposta não continha pontos concretos, dando margem para as críticas de que se tratava de uma reedição de medidas antigas. O anúncio da NIB ocorreu na semana passada.

“Existem algumas questões centrais para a retomada da indústria e a primeira delas é a redução da taxa de juros. Já estamos num caminho descendente. E a expectativa é que ao longo do ano a taxa de juros caia mais”, afirmou.

A taxa Selic, os juros básicos da economia brasileira, está hoje em 11,25% ao ano, após o corte de 0,50 ponto percentual promovido na quarta-feira (31) pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. O comitê sinalizou que esse ritmo deve continuar. A expectativa de boa parte do mercado é que a Selic caia para o patamar de 9% no fim de 2024.

Na avaliação do novo presidente da ABDI, a taxa de câmbio hoje favorece as exportações, e o esforço do governo no momento é garantir crédito para as empresas.

“É só não ter uma variação muito grande do câmbio”, ressaltou ele, que começa a trabalhar na ABDI nesta quinta (1), antes mesmo da cerimônia de posse, que ainda não foi marcada.

Segundo Cappelli, a ABDI vai trabalhar com a equipe de Alckmin no Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) na “missão” de detalhamento das metas.

Cappelli já marcou um encontro, no Rio de Janeiro, com o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Aloisio Mercadante, para conversar sobre o plano.

O financiamento do BNDES é central na política anunciada por Alckmin, mas o banco de fomento acabou sendo alvo de críticas devido à preocupação de que a NIB reedite políticas que fracassaram no governo Dilma Rousseff (PT).

“Achei as críticas precipitadas porque é uma política que define os eixos gerais. A partir da ABDI, podemos apoiar na definição e detalhamento dessas metas por cada eixo estratégico e setor”, afirmou.

Cappelli ressaltou que os projetos do BNDES e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que participam do plano, têm contrapartidas, critérios rígidos e penalidades para eventual não cumprimento do que está previsto.

A nova política industrial do Brasil estabelece metas e diretrizes até 2033 a partir de seis missões, ligadas aos seguintes setores: agroindústria; complexo industrial de saúde; infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade; transformação digital; bioeconomia; e tecnologia de defesa.

As metas do programa não foram divulgadas no anúncio e ficarão sob análise interna no governo por 90 dias.

A ABDI foi criada em 2004 durante o primeiro mandato do presidente Lula. Apesar de ser ligada ao Mdic, tem autonomia administrativa e status social de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos. Sua função principal é estimular a transformação digital e a adoção e difusão de tecnologias e de novos modelos de negócios no setor produtivo, seja nas empresas, indústria ou serviços.

O convite para Cappelli assumir a ABDI foi feito pelo vice e aceito em reunião na tarde da quarta-feira. Cappelli, do mesmo partido de Alckmin, era o número dois do Ministério da Justiça sob a gestão do ex-ministro Flávio Dino, que vai deixar o cargo para ocupar uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).

Homem de confiança de Flávio Dino, Cappelli foi interventor federal na área de segurança do Distrito Federal após os ataques de 8 de janeiro aos três Poderes.

ADRIANA FERNANDES / Folhapress

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