Redação – Contratado por 45 milhões de euros (R$ 164 milhões, na cotação da época), Vinicius Junior levou algum tempo para desabrochar no Real Madrid, aonde chegou em 2018. Criticado pela dificuldade nas finalizações e sem a confiança do técnico Zinédine Zidane, abriu as asas apenas a partir da chegada de Carlo Ancelotti, em 2021.
Alar o menino de São Gonçalo, hoje com 22 anos, será outra vez o desafio do italiano, em novo terreno. Não havendo imprevistos, o treinador vai assumir no ano que vem a seleção brasileira, com cuja camisa o jovem fluminense ainda não exibiu o futebol que apresenta na Espanha.
Como o acerto é verbal, sem anúncio oficial, Ancelotti ainda não falou abertamente sobre seus planos. Não é segredo, porém, a admiração que tem pelo atacante. Na visão do treinador europeu, o sucesso verde-amarelo passará pelos ágeis pés do garoto.
“Ele tem a técnica brasileira, mas é muito forte fisicamente, faz a diferença nos minutos finais do jogo. E ainda tem espaço para crescer. É muito sério e um dos melhores do mundo nos próximos dez anos”, afirmou.
O técnico de 64 anos vê em Vinicius a capacidade de ser o grande nome de uma equipe, algo que ele ainda não precisou ser. Junior saiu adolescente do Flamengo. No Real Madrid, tem a companhia de Modric e tinha a de Benzema. Na seleção, como boa parte de sua geração, nutre reverência por Neymar.
Este é, desde 2010, basicamente, o dono do time. Nenhum treinador ousou questionar essa posição, nem mesmo nos momentos de mais flagrante imaturidade do craque. E nenhum companheiro jamais se posicionou como postulante ao trono -Richarlison tatuou o rosto do camisa 10 em suas costas.
Mas Neymar está com 31 anos e chegou a declarar que a Copa do Mundo de 2022 seria a sua última. Os problemas físicos são recorrentes -está parado desde fevereiro, quando teve lesão nos ligamentos do tornozelo direito. E, pela primeira vez em mais de uma década, não é claramente o melhor jogador brasileiro.
Parece estabelecido o cenário para Vinicius sair de sua sombra.
Há também no Real Madrid espaço para abrir asas. Modric ainda é Modric, mas completará 38 anos em setembro. Benzema partiu rumo à Arábia Saudita. E Ancelotti ficará no clube por mais um ano antes de assumir o Brasil. O que, de alguma maneira, pode até ajudar a desenvolver Junior como o cara da seleção.
Esse, claro, não será o único desafio do italiano. Primeiro estrangeiro a dirigir a formação verde-amarela em mais de meio século, ele terá de lidar com alguma rejeição decorrente disso. Pesquisa Datafolha realizada em dezembro apontou que 48% dos brasileiros eram contra um treinador de fora (margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
Mas o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, viu o momento ideal para fazer a aposta. Ancelotti é um profissional de currículo robusto, com quatro títulos da Liga dos Campeões à beira do gramado, e conta com o respeito dos jogadores de futebol de mais alto nível -Kaká, por exemplo, trata-o como o melhor comandante que teve.
Carlo também demonstra habilidade para lidar com atletas de nome e destreza com a imprensa, o que ajudará a minimizar a rejeição. Com caretas e bom humor, responde a perguntas abstratas com frases como: “Se meu avô tivesse rodas, seria um carro”.
Do ponto de vista técnico, Ancelotti lidará com um time sem um jogador cerebral como Modric. Se não faltam atacantes velozes e hábeis -no próprio Real, além de Vinicius Junior, ele conta com Rodrygo-, há uma carência na organização e na armação. As laterais têm sido problemáticas.
Comandante interino desde a saída de Tite, ao fim do Mundial do ano passado, Ramon Menezes procurou oxigenar o grupo e usou vários dos atletas que havia dirigido na equipe nacional sub-20. Os resultados em campo não foram os melhores: em três jogos, vitória apenas sobre a frágil Guiné (4 a 1), com derrotas para os também africanos Marrocos (2 a 1) e Senegal (4 a 2).
Os próximos compromissos serão em setembro, já válidos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. A disputa daqui a três anos, na América do Norte, será, na prática, o único termômetro na avaliação do comandante. O europeu espera ser o primeiro técnico a fazer o Brasil bater um europeu no mata-mata do principal campeonato do planeta desde 2002.
Carlo Ancelotti quer também o mesmo resultado obtido pela seleção em 2002. Para isso, precisará de Vinicius Junior.