Carnaval de rua de São Paulo teve 118 desfiles cancelados

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de São Paulo registrou 118 cancelamentos de desfiles de blocos de Carnaval até esta quarta-feira (31). Dificuldade de captar patrocínios e falta de diálogo com a gestão municipal estão entre as principais causas citadas pelos organizadores. Os avisos foram publicados no Diário Oficial desde o fim do ano passado.

Na lista de desistências, estão blocos que costumam levar uma multidão às ruas, como o bloco Meu Santo É Pop, Domingo Ela Não Vai e Bloco da Preta

“Não conseguimos verba suficiente, mesmo com as festas que organizamos durante o ano”, diz o fundador do bloco Meu Santo É Pop, Jorge Minoru.

No Carnaval passado, ele conta que o desfile atraiu 50 mil pessoas no centro de São Paulo. “Conversamos com algumas marcas, mas não conseguimos fechar. Blocos LGBT têm mais dificuldade em captar patrocínios”, diz.

“Em 40 dias de captação, não conseguimos nada. Abrimos uma vaquinha, mas não conseguimos arrecadar o suficiente”, diz Rafael Arena do bloco A Madonna Tá Aqui. “Todo ano as pessoas vão fantasiadas de Madonna, já tinha gente se preparando. O prejuízo emocional é muito grande”, diz ele que reuniu cerca de 5.000 foliões no ano passado.

Neste ano, 590 blocos se inscreveram para participar da festa popular.

Entre os cancelamentos, estão também blocos que reduziram o número de desfiles e optaram por sair apenas um dia. “Cancelamos por falta de patrocínio, pelo horário do final do cortejo que seremos obrigados a finalizar às 18h e também pela violência policial, tivemos um exemplo o ano passado”, diz Marcos Ribeiro, do Bloco do Fuá, que desistiu de sair no pré-Carnaval e irá organizar no sábado (3) um cortejo, menor do que no ano passado.

Os organizadores do Carnaval paulistano apontam como entrave neste ano a demora para a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em definir o patrocinador oficial. O resultado da licitação foi anunciado em 16 de janeiro, menos de um mês para o início dos desfiles. “A conversa com o poder público fica mais difícil a cada ano, e os desfiles têm que terminar cada vez mais cedo”, diz Alberto Pereira Júnior, fundador do Domingo Ela Não Vai. Neste ano, a prefeitura definiu a dispersão dos blocos até as 17h.

Todo ano, as marcas aguardam essa definição da municipalidade para determinar a estratégia de marketing em relação aos blocos individualmente. Pessoas que fazem o Carnaval afirmam que a cervejaria Ambev, que pulverizava verba aos blocos todos os anos, reduziu os repasses neste ano. Além do atraso, os organizadores citam maior orçamento da marca direcionado neste ano aos kits distribuídos aos ambulantes, que serão 20 mil neste ano, 5.000 a mais do que no ano passado.

Em nota, a Ambev afirmou que segue como a principal apoiadora da festa. Em São Paulo, a companhia irá patrocinar os blocos Bicho Maluco Beleza, Monobloco, Bangalafumenga e Sargento Pimenta.

Procurada, a gestão Nunes não comentou as críticas à demora sobre a definição do patrocínio oficial e disse que os R$ 26,6 milhões negociados são direcionados para a estrutura da festa. Neste ano, a municipalidade irá distribuir verba total de R$ 2,5 milhões a cem blocos, selecionados por uma comissão.

Outra reclamação dos produtores é o limite de horário imposto pela prefeitura para a dispersão dos desfiles, que devem finalizar até as 17h sob risco de multa.

Além das marcas de cerveja que tradicionalmente patrocinam o Carnaval de rua em São Paulo, neste ano, uma plataforma de busca de profissionais do sexo e um site de apostas online assediaram os organizadores de blocos para oferecer verba em troca de exposição das marcas.

A Fatal Model, site de conteúdo adulto, afirmou que irá patrocinar ao menos dois blocos de rua, o Vou de Táxi e o Não Serve o Mestre. “Anunciar durante esse período é atingir uma audiência massiva, com diferentes faixas etárias e segmentos demográficos, num período em que a sociedade em geral está mais aberta à pluralidade e à quebra de preconceitos e padrões”, disse a empresa em nota.

O objetivo, diz, é reforçar a importância “do respeito aos acompanhantes e também o respeito aos diversos corpos, a pluralidade”. Para isso, a empresa planeja a campanha “# RespeitoÉRegra”.

Alguns blocos, porém, recusaram as novas investidas por não compactuarem com seus valores. Esse foi o motivo de um eles ter recusado proposta de patrocínio de R$ 150 mil de um site de apostas.

Outro bloco de médio porte recusou patrocínio de um site do segmento adulto que divulga perfis de cam girls -mulheres que exibem o corpo na internet em troca de dinheiro. A empresa ofereceu R$ 100 mil em troca de dez abadás para que os convidados da marca acompanhassem o desfile dentro da corda, onde ficam os organizadores. A venda e a distribuição de abadás são proibidas no Carnaval de São Paulo.

Um dos maiores blocos da cidade, o Acadêmicos do Baixo Augusta, também foi abordado por empresas dos mesmos segmentos, mas diz ter recusado os patrocínios por esses não condizerem com a filosofia do bloco.

MARIANA ZYLBERKAN E ISABELLA MENON / Folhapress

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