SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cartunista Ann Telnaes, do The Washington Post, se demitiu na última sexta (3) após o jornal americano não publicar uma charge sua em que retratava Jeff Bezos, dono do veículo e fundador da Amazon, ajoelhando-se e oferecendo um saco de dinheiro ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em um post na plataforma Substack, Telnaes afirmou que durante os anos de trabalho no Post sempre recebeu comentários sobre divergências a respeito de cartuns, mas nunca teve um desenho rejeitado por causa de quem escolheu como alvo. “Até agora”, disse a cartunista, que já venceu o Pulitzer de charge editorial em 2001.
“Houve casos em que esboços foram recusados ou revisões solicitadas, mas nunca por causa do ponto de vista inerente ao comentário do cartum. Isso muda o jogo. É perigoso para uma imprensa livre”, declarou.
Na charge negada, além de Bezos, estão retratados o fundador da Meta, Mark Zuckerberg; Sam Altman, diretor-executivo da OpenAI; Patrick Soon-Shiong, dono do The Los Angeles Times; e Mickey, o mascote da Disney, controladora da ABC News.
Segundo Telnaes, o desenho era uma crítica aos executivos bilionários de tecnologia e mídia que têm feito o possível para conquistar a simpatia de Trump.
Durante a corrida eleitoral americana, o Washington Post chegou a escrever um editorial apoiando a candidatura da democrata Kamala Harris, mas Bezos barrou a publicação e decidiu que não haveria manifestação de endosso.
Decisão similar teve o LA Times, de Soon-Shiong. Ele afirmou à época que a decisão era a menos polarizada em “meio a uma eleição tumultuosa”.
Em nota ao The New York Times, David Shipley, editor de opinião do Post, disse que respeitava Telnaes, mas discordava da sua interpretação dos fatos.
“Nem todo julgamento editorial é um reflexo de uma força maligna”, disse Shipley no comunicado. “Minha decisão foi guiada pelo fato de que acabávamos de publicar uma coluna sobre o mesmo tema do cartum e já tínhamos programado outra coluna –esta uma sátira– para publicação. O único viés foi contra a repetição.”
Redação / Folhapress