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Casa de Peixão tinha lago artificial, pedalinhos e monte de oração

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma casa em um terreno de 800 metros quadrados, com saída aos fundos para um rio e um lago artificial. Acabamentos de mármore, academia, sauna e pedalinhos destoam das construções ao seu entorno, na favela Parada de Lucas, zona norte do Rio de Janeiro.

Assim era a residência usada, segundo a polícia, por Álvaro Malaquias, o Peixão, apontado como chefe do TCP (Terceiro Comando Puro), no Complexo de Israel. As três casas que seriam de propriedade do traficante começaram a ser demolidas nesta terça (11), em uma operação das polícias Civil e Militar contra o traficante. Ele segue foragido.

Os locais já eram alvo de operações desde 2023. Em julho daquele ano, policiais militares do 16º BPM (Olaria) foram ao local após intenso tiroteio. O Complexo de Israel, formado por cinco comunidades, é a base dos traficantes autointitulados evangélicos que, segundo investigações da polícia, utilizam do narcopentecostalismo para expansão territorial.

Os agentes também derrubaram estruturas com a estrela de Davi, símbolo utilizado pelo grupo criminoso para marcar território. Até o início da noite, os policiais prenderam quatro suspeitos, sendo um deles foragido da Justiça.

Em uma das residências, havia uma piscina com um painel de grafite escrito: “Feliz é a nação cujo Deus é o senhor”. A mesma imagem contava com uma representação da favela e, ao fundo, o Domo da Rocha, local sagrado em Jerusalém. Em primeiro plano, homens vestindo uniformes militares com a bandeira de Israel.

Em outra casa, apelidada de “resort do crime’, um lago artificial com carpas, pedalinhos e um monte que, segundo a polícia, seria um local de oração do traficante.

De acordo com a polícia, Malaquias chama sua quadrilha de Tropa de Arão, em alusão ao irmão de Moisés, profeta bíblico. Ainda na Bíblia, Arão foi o responsável pela construção de um bezerro de ouro para adoração e fez festas, sendo descrito como um profeta que cometia erros, mas tinha o coração voltado para Deus.

Em um dos quartos, havia um equipamento de sadomasoquismo; ao lado, Bíblias.

Em uma terceira casa, que lembra um sítio, há um lago artificial com pedalinhos de cisnes e grama sintética. Também há um campo de futebol, piscina, sauna e área para churrasco.

Ainda segundo as autoridades, as construções não possuem licença e cometiam crimes ambientais, como desvio do curso de água.

“É preciso dar um tratamento mais contundente contra os narcoterroristas que atiram contra a população para fazer cessar a operação policial”, declarou o delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil.

A segunda casa abriga uma academia com equipamentos modernos. Nela, os policiais já encontraram uma réplica da Arca da Aliança (na qual, segundo relato bíblico, os dez mandamentos foram guardados). No seu interior foram encontrados invólucros com terra. Segundo investigação, a terra seria solo de Israel dado de presente a aliados de Malaquias.

No Complexo de Israel há ainda uma rádio comunitária evangélica que toca louvores em caixas de som espalhadas por becos das comunidades. E, nos mesmos locais, avisos intimidam moradores.

Agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados também desmontaram uma empresa ilegal que oferecia o serviço de internet nas comunidades. Um homem apontado como responsável pelo estabelecimento foi preso em flagrante.

Segundo a polícia, Peixão seria o verdadeiro dono e controlador da empresa clandestina que gerava lucros milionários para a facção. O dinheiro, de acordo com a investigação, era usado para financiar as atividades criminosas do grupo, incluindo o tráfico de drogas e a expansão territorial.

No início da operação desta terça, houve registro de tiroteios relacionados à operação policial. Por causa disso, a avenida Brasil foi fechada nos dois sentidos para o tráfego de veículos, no final da madrugada. Motoristas precisaram sair dos veículos e se proteger ao lado das muretas da via.

A operação afetou também o transporte coletivo de ônibus e de trens urbanos.

O cenário se repetiu após a operação, no final da tarde, quando um novo tiroteio assustou na Linha Vermelha, que também corta comunidades do Complexo de Israel. Segundo a polícia, homens armados dispararam tiros contra um blindado da Polícia Militar, em represália à operação no Complexo de Israel nesta terça.

O Complexo de Israel foi criado em uma expansão territorial do TCP (Terceiro Comando Puro), a partir de 2016 e ganhou forma na pandemia. Conta com as favelas Cinco Bocas, Pica-Pau, Cidade Alta, Parada de Lucas e Vigário Geral. Também há influência nos bairros vizinhos, como Brás de Pina e Cordovil.

Um relatório de inteligência da Polícia Civil afirma que o Complexo de Israel expandiu seus territórios para 36 ruas consideradas antes somente residenciais, sem a presença do tráfico, na zona norte carioca. Nelas há remoção constante de barricadas.

Peixão é o primeiro líder do tráfico do Rio a ser investigado por terrorismo, conforme a Folha de S.Paulo noticiou em outubro.

“O crime de terrorismo tem relação também com questões políticas ou religiosas. No caso do Peixão, sabemos que ele impõe uma ditadura religiosa, ele não permite certos tipos de crenças ou religiões. Ele expulsa pessoas que possuem religiões afro, candomblé, espiritismo, enfim, tudo o que não tiver com a crença que ele acredita”, afirma o delegado Curi.

Com forte influência evangélica, Malaquias desenhou passagens bíblicas nas comunidades. Além disso, proibiu terreiros e imagens santas. No topo, colocou uma estrela de Davi de neon. Ele tem mandado de prisão por tráfico de drogas e associação ao tráfico.

BRUNA FANTTI / Folhapress

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