SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Até o dia 1º de dezembro, o estado de São Paulo registrou 2.167 casos de chikungunya e 12 óbitos. No mesmo período do ano passado, houve 893 confirmações, mas sem óbitos. No estado, o aumento chega a 142,6%.
Na capital paulista, até 23 de novembro, foram 25 casos contra 13 no mesmo período de 2022 alta de 92%. Não houve mortes.
Os sintomas da doença são febre alta (acima de 38°C), dores intensas nas articulações, dor nas costas, na garganta, na cabeça e atrás dos olhos, erupção avermelhada na pele, náuseas e vômitos, calafrios, diarreia e dor abdominal.
A doença tem três fases: de 5 a 14 dias (aguda ou febril), até três meses (pós-aguda) e mais de 90 dias (crônica).
Segundo Ralcyon Teixeira, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o vírus da chikungunya tem preferência por replicar dentro das articulações, o que causa artrite e consequentemente uma dor que pode persistir por anos em mais de 50% dos casos, de acordo com especialistas.
“A chikungunya é uma doença temerosa em relação à dengue, porque há o risco maior de sequelas, e a fase aguda é intensa e incapacitante. A dor crônica é muito ruim sob todos os sentidos social, trabalho ela inflama as articulações mais do que a dengue. Você passa a ter uma dor que te acompanha. Vai precisar de tratamento e de acompanhamento médico”, afirma Teixeira.
O diagnóstico clínico da arbovirose, como são chamadas as doenças transmitidas por mosquitos, é confirmado através da sorologia ou do teste de biologia molecular. É importante que o exame seja feito após o sexto dia, a contar do início dos sintomas.
A chikungunya é transmitida pelo Aedes aegypti, também responsável pelos casos de dengue e zika. Eliminar os criadouros do mosquito é uma estratégia fundamental no controle da sua proliferação e prevenção das doenças que transmite.
“Também devemos sensibilizar parte dos profissionais de saúde para começar a pensar um pouco mais na doença, naqueles quadros que vêm como suspeita de dengue, mas o paciente tem muita dor articular. É preciso fazer os diagnósticos diferenciais para ver a circulação do vírus. O alerta é importante, porque é um vírus que não estamos acostumados a registrar no estado de São Paulo”, finaliza Teixeira.
CHIKUNGUNYA VAI AUMENTAR EM 2024, SEGUNDO ESPECIALISTAS
Para a infectologista Melissa Falcão, membro do Comitê de Arboviroses da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o crescimento da chikungunya é preocupante não só em São Paulo, mas no Brasil. A doença é desconhecida em pelo menos cerca de 50% dos municípios do país, o que dificulta o diagnóstico dos profissionais de saúde.
A expectativa é de um aumento de casos em 2024, com grande chance de aumento nas cidades onde já é endêmica, e se espalhar para as que ainda não possuem registro. O alerta vale para São Paulo e outras grandes metrópoles.
“A chikungunya costuma ser explosiva, com um alto número de casos. A doença possui uma taxa de ataque de cerca de 30%”, afirma Falcão.
Segundo a médica, a disseminação é rápida e um pouco diferente, se comparada à dengue, principalmente por não atingir todo um estado de uma só vez. “Ela começa em uma, duas cidades. Depois, volta com uma segunda onda mais intensa nessas mesmas cidades e se espalha para outras”, explica a infectologista.
A única maneira de combater de forma eficaz as arboviroses é eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti.
“Individualmente, podemos lembrar do uso do repelente ao acordar, pois o Aedes tem seu período de atividade no início da manhã e no final da tarde, e controlar a proliferação do mosquito dentro de casa e do trabalho”, orienta Falcão, lembrando também de não deixar água parada.
Uma possível mudança no perfil da chikungunya traz um alerta para 2024, afirma o infectologista Kleber Luz, coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI e consultor para arboviroses da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial de Saúde) nas Américas. Foi o caso do Paraguai onde, a partir de dezembro de 2022, ocorreram cerca de 200 mil casos e 300 mortes.
“Ainda não se sabe o que aconteceu e os estudos não apontam para uma mutação do vírus. Sem atendimento médico adequado, o paciente pode morrer nos primeiros cinco dias da doença”, explica.
Com o aumento dos casos de dengue no país no último ano, os especialistas também levantam a preocupação de aumento de casos de chikungunya no Brasil. A reportagem solicitou os dados referentes ao período de janeiro a 1º de dezembro de 2022 e 2023 de chikungunya, mas não obteve resposta do Ministério da Saúde até o fechamento deste texto.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress