SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um ano, a região Sudeste teve aumento de 100,6% nos casos de dengue e 58% nas mortes causadas pela doença. A informação foi extraída do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde.
De 1º de janeiro a 27 de dezembro de 2023, houve 926.907 registros da doença e 599 mortes, contra 461.988 casos e 379 óbitos no mesmo período de 2022.
Com alta de 1.142,7% nos casos, Espírito Santo vive uma explosão as ocorrências da doença subiram de 11.088 em 2022 para 137.792 no ano passado. Os óbitos saltaram de 7 para 93.
Na opinião do infectologista Júlio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o Brasil terá uma epidemia de dengue em 2024.
O alerta ganhou reforço de outros especialistas ao longo do ano, também por causa do ressurgimento do sorotipo 3, que estava desaparecido há cerca de 15 anos.
“Tivemos um inverno atípico, quente, principalmente pelo efeito do El Niño, e com mais casos do que no inverno de 2022. A tendência é que para 2024 tenhamos um período sazonal que se inicia agora e vai até abril, maio, com um número de casos bastante elevado”, afirma.
“A região Sudeste, que está tendo um número muito expressivo de casos de dengue, nos preocupa muito, assim como o sul do Brasil, por exemplo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Antes, esses locais no Sul não tinham quase casos de dengue, principalmente por conta das condições climáticas. As mudanças climáticas, o aumento da temperatura em 2023, influenciada pelo El Niño, e também o aumento da temperatura global como um todo, favorecem a expansão do Aedes aegypti para outras regiões, como o sul do Brasil”, diz o especialista.
Em Minas Gerais, o número de casos chegou a 404.026, com alta de 352,1%, e 194 mortes, aumento de 198,4%. O Rio de Janeiro registrou um salto de 329,2% nas confirmações da doença, alcançando 47.625 ocorrências, e 70,5% nas mortes, que chegaram a 29.
Mesmo com os números expressivos, São Paulo é o único estado do Sudeste em queda de 350.444 casos em 2022 para 337.464, o equivalente a 3,7%. Em 2022, 290 pessoas morreram de dengue sete a mais que em 2023.
Segundo o Ministério da Saúde, é esperado aumento de casos na maior parte do Brasil, principalmente no Sul (especialmente no Paraná), Sudeste (Minas Gerais e Espírito Santo) e Centro-Oeste. O Nordeste deverá ficar abaixo do limiar epidêmico.
No Brasil, foram registrados 1.641.278 casos de dengue em 5.039 municípios. A taxa de incidência de dengue no país é de 808,26 por 100 mil habitantes. A doença matou 1.079 pessoas, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde. Outros 211 óbitos estão em investigação.
Se comparado com o mesmo período do ano anterior, o número de casos está 16,8% maior. Até 27 de dezembro, 2022 somou 1.404.940 ocorrências. Destas, 50.101 pessoas foram internadas e 1.054 morreram. A dengue atingiu 5.019 municípios brasileiros. Na época, o Ministério da Saúde investigava 64 mortes.
DENGUE CRESCE 27,2% NO SUL
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul juntos são responsáveis por 392.692 casos de dengue até 27 de dezembro de 2023, com 280 mortes. Em 2022, houve 308.711 casos e 267 óbitos.
Na região, somente o Rio Grande do Sul teve queda nas ocorrências 38.312 no ano passado contra 67.292 em 2022 e óbitos 54 ante 66 em 2022.
NORTE TEM AUMENTO DE 39,4%
De janeiro a 27 de dezembro de 2023, houve 50.305 casos de dengue e 45 mortes na região, de acordo com o painel do Ministério da Saúde.
Amapá e Acre tiveram aumento mais expressivo nos casos de dengue, na comparação de 2023 com 2022 310,5% e 134%, respectivamente.
DENGUE CAI NO NORDESTE E NO CENTRO-OESTE
No mesmo período, o Nordeste confirmou 106.658 casos, 56,2% a menos que no ano passado.
As mortes seguiram a mesma tendência, com queda de 41,5% no período redução de 130 para 76.
No Centro-Oeste do Brasil, os casos de dengue caíram 47,4%, de 340.411 para 178.950. Em relação aos óbitos, redução de 56,2% de 233 no ano passado para 102 em 2023.
A dengue possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais.
Com a identificação do sorotipo 4 da dengue no Rio de Janeiro desaparecido na cidade desde 2018, o Brasil tem hoje os quatro tipos de dengue em circulação ao mesmo tempo.
A circulação de vírus diferentes aumenta a possibilidade de casos graves da doença. Um sorotipo não confere imunidade para outro e isso é o que preocupa os especialistas. Por exemplo, as pessoas que contraírem o 3 e já tiveram o 1 ou 2 anteriormente podem desenvolver a forma grave, que necessita de internação ou coloca a vida em risco.
“O que nos preocupa muito é essas regiões onde a gente não tinha muitos casos de dengue no passado e agora apresenta muitos porque a população não foi exposta previamente. Além disso, nesses locais, os serviços de saúde não estão preparados para identificar os sinais de alerta que estão associados à maior gravidade da doença e tratar adequadamente”, finaliza Croda.
Os sintomas da dengue são febre alta (acima de 38°C); dor no corpo, nas articulações, atrás dos olhos e de cabeça; mal-estar, falta de apetite e manchas vermelhas no corpo. Ela não se confunde com gripe e Covid, porque não causa sintomas respiratórios e dor de garganta.
Os sinais de alerta para a gravidade são queda importante na pressão, sonolência, alteração no nível de consciência, hipotermia, dor abdominal intensa, vômitos e sangramento.
Estratégias para a vacinação contra a dengue serão definidas no início do ano
O Ministério da Saúde incorporou a vacina contra a dengue Qdenga, do laboratório Takeda ao SUS (Sistema Único de Saúde). O órgão ainda não divulgou as estratégias para a vacinação. Sabe-se que devido à capacidade restrita de fornecimento de doses por parte do laboratório, a vacina será voltada a público e regiões prioritárias, com maior incidência da doença.
A cidade de Dourados (MS) começou a distribuir nesta quarta-feira (3) as primeiras doses da vacina Qdenga. Assim que receberem o imunizante, UBSs do município poderão iniciar a vacinação.
A ação em Dourados é fruto de uma parceria entre a prefeitura e a farmacêutica.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress