Casos de virose lotam unidades de saúde em Guarujá, no litoral de SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O município de Guarujá, no litoral sul de São Paulo, tem registrado aumento de casos de virose no início deste ano. A atendente de restaurante Clemice Tavares, 55, começou com sintomas nesta quinta-feira (2). Os dois filhos também adoeceram e estão acamados em casa. Um deles, que viajou para a cidade para passar a virada de ano ao lado da família, começou a se sentir mal após um banho de mar, no dia 31.

“Meu filho disse que está muito mal. Ele acha que o problema é com a água. Onde eu moro tomamos água direto de uma bica, mas é bem limpinha. Hoje, vamos começar a comprar no mercado”, afirmou. Tavares conversou com a reportagem enquanto aguardava atendimento na UPA Rodoviária, em Vicente de Carvalho, em Guarujá. Ela relatou enjoo, mal-estar, ânsia de vômito, tontura, sensação de fraqueza e dor no corpo. Os filhos têm os mesmos sintomas.

A reportagem foi a cidade no início da manhã desta sexta (3) e visitou três unidades de saúde: UPAs Rodoviária e Enseada (públicas) e Pronto Atendimento Ana Costa (privado). Os serviços estão com o movimento acima do normal para a época, e o tempo de espera ultrapassa duas horas. Clemice Tavares já estava na unidade havia quase três horas e não sabia quando seria atendida. Na UPA Rodoviária, a reportagem flagrou uma família desistindo do atendimento ao ver a unidade lotada.

Na UPA Enseada, a autônoma Amanda Rodrigues, 23, procurava um serviço de saúde pela terceira vez desde o dia 26 de dezembro. Ela chegou ao local às 6h desta sexta, com dor no estômago, de cabeça e vômito. Foi atendida às 9h e liberada. “Vou começar a ficar em casa, porque não adianta nada. Não tenho condições de trabalhar e perdi esses dias”.

Rodrigues mora em Guarujá, mas não foi a praia e nem bebeu água filtrada, somente industrializada. A paciente reclamou da invasão dos turistas. “As unidades de saúde daqui não suportam nem a população local, que dirá quem vem de fora. Percebi pessoas com DDD 11, 21, 19 fazendo cadastro e sendo atendidas”, disse.

Na mesma UPA, o auxiliar de limpeza Francisco de Melo Vale, 51, aguardava atendimento médico havia mais de uma hora quando conversou com a reportagem. Ele estava com dor no corpo e diarreia. Os sintomas vieram fracos no dia 1º de janeiro. Nesta sexta, sentiu piora no quadro e precisou de ajuda médica. Os seus colegas de trabalho, localizado na praia de Astúrias, também haviam adoecido.

Quem observava a praia da Enseada nesta sexta, por volta das 15h, até esquecia a ameaça do surto de virose. Orla e mar lotados. A reportagem encontrou turistas que não sabiam da situação vivida no município nos últimos dias.

A autônoma Isabely Cristina, 24, se banhava sentada à beira mar. A paulistana soube do surto pela equipe da Folha. “Cheguei ontem [2] e a minha cunhada até falou da virose, mas não sabia que era um surto. Achei que era uma coisinha simples.” Independentemente dos casos de virose, Isabely estava com a volta programada para a capital paulista ainda nesta sexta.

No dia 1º de janeiro, as duas filhas da advogada Érica Ferrari, 46, apresentaram vômito, diarreia, dor no corpo e de cabeça, e coriza. A família, paulistana, está em Guarujá desde 26 de dezembro. As crianças permaneceram com os sintomas durante um dia e meio. Como o pai é médico, as meninas foram medicadas e melhoraram. Uma delas acompanhava a mãe no mar. “Como elas já pegaram e estão bem, não vão pegar de novo”, disse a advogada.

Segundo Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, a reinfecçäo é possível, porque a imunidade que este tipo de infecção induz não é forte e nem duradoura. A recomendação para quem teve virose e se recuperou é manter os cuidados.

A reportagem também perguntou ao médico se é seguro aproveitar a praia. Araújo disse que é preciso analisar o conjunto de situações. “Não é só praia, tem o entorno, o que você consome. É um cuidado com a higiene das mãos, dos objetos e utensílios usados para consumir, como lata de refrigerante ou de cerveja; não consumir gelo de ambulantes. O grande problema que eu vejo é que o litoral de São Paulo tem muitas ligações clandestinas de saneamento e há uma sobrecarga grande de pessoas. O volume de dejetos lançados ao mar é grande”, explica.

O infectologista também alerta sobre o banho de mar. “Não é totalmente seguro. Se você se infectar terá diarreia. Não é uma doença de grande complexidade, as pessoas não precisam ter medo, mas, caso se infectarem, terão dias de desconforto, diarreia, vômito, o que vai demandar mudança na dieta e bastante hidratação. Tirando crianças desnutridas, doentes e muito pequenas e idosos com reserva corpórea pequena, é uma doença de baixa gravidade”, diz.

Em nota, a Prefeitura de Guarujá diz que houve aumento de 42% de queixas relacionadas a quadros de virose nos pronto-atendimentos. Em dezembro, foram 2.064 atendimentos contra 1.457, em novembro. Não há dados separados de quantos desses registros se referem ao período das festas de fim de ano.

Em razão dessa alta, a prefeitura informa que estendeu o horário de três unidades de saúde no período de 28 de dezembro a 5 de janeiro, em caráter de plantão. Elas estão funcionando das 7h às 22h. Já as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e prontos-socorros funcionam 24 horas.

Além de Guarujá, turistas e moradores de Santos e Praia Grande, na Baixada Santista, e de São Sebastião, no litoral norte, também se queixam de sintomas gastrointestinais como náusea, vômito, dor abdominal e diarreia.

O Governo de São Paulo orienta os municípios do litoral sobre medidas preventivas a serem adotadas para evitar casos de doença de transmissão alimentar (DTA) no verão, quando há grande concentração de turistas por causa das festas de fim de ano e férias escolares. O acompanhamento é realizado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e Secretaria da Saúde.

De acordo com o Boletim de Balneabilidade da Cetesb, divulgado nesta quinta (2), das 175 praias monitoradas no litoral paulista, 38 (22%) apresentam condições impróprias para banho.

Essa classificação é baseada em densidades de bactérias fecais, medidas em amostras coletadas ao longo de cinco semanas consecutivas.

A Sabesp também participa do monitoramento e esclarece que não há nenhuma ocorrência que tenha alterado a qualidade da água fornecida na Baixada Santista. A situação segue em acompanhamento. Qualquer pessoa que perceber alterações deve comunicar a companhia imediatamente por meio dos canais oficiais.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, os municípios com aumento de ocorrências de diarreia aguda estão sendo orientados a realizarem investigação epidemiológica e a coleta de fezes dentro de cinco dias do início dos sintomas. Essa coleta, priorizada no período inicial, é fundamental para detectar o patógeno causador do surto.

A pasta destaca a importância de cuidados preventivos para prevenir doenças transmitidas por água e alimentos, especialmente em períodos com altas temperaturas. A população deve redobrar cuidados de higiene e ficar atenta às condições sanitárias de bares e restaurantes.

*

ORIENTAÇÕES PARA EVITAR CONTAMINAÇÃO NA PRAIA

• Evite alimentos mal cozidos

• Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados

• Leve seus próprios lanches em passeios

• Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques

• Lave as mãos antes de se alimentar

• Tenha atenção redobrada com comidas em restaurantes do tipo self-service

• Beba sempre água filtrada

PATRÍCIA PASQUINI E ALLISON SALES / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS