LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, BA (UOL/FOLHAPRESS) – Nada de motorhomes ou equipes de apoio. Os pilotos da categoria “Self”, de motos, do Rally do Sertões vivem a competição de maneira mais rústica e têm apenas os próprios rivais como colegas durante a competição.
SEM MORDOMIAS
Os pilotos da categoria dormem em barracas. Elas ficam colocadas dentro de um “cercadinho” fechado apenas para os membros da Self e ficam expostas ao sol, vento e chuva em cada uma das cidades que recebem o Sertões em 2024. Os atletas de outras modalidades têm mais conforto e contam com motorhomes durante as viagens e competições.
Mecânicos além de pilotos. Enfrentar as estradas de terra e as longas quilometragens de cada etapa não são os únicos desafios dos competidores da Self. Sem o apoio de equipes, eles próprios precisam consertar as próprias motos e fazer os reparos necessários após cada uma das etapas. Os veículos não podem ficar embaixo de uma tenda, o que faz com que os pilotos façam os reparos debaixo do sol ou somente à noite.
O máximo que cada um dos atletas pode receber é a orientação de um especialista. Qualquer passo além disso significa a desclassificação. O transporte de ferramentas e barracas é o único serviço que não depende somente dos pilotos e conta com auxílio de uma equipe de apoio que trabalha para todos, sem privilégios.
“A gente não pode receber ajuda externa, sob pena de desclassificação. Nós podemos receber até a orientação, temos um orientador técnico dentro da estrutura dos Sertões que fala: ‘você pode fazer isso, faz aquilo’, mas ele não pode colocar a mão, tem que ser só os pilotos”, afirma Marco Antônio Pereira, piloto da categoria Self.
Sem equipes, os rivais viram um time só. O resultado é o que menos importa para os membros da categoria, segundo Marco Antônio.
“Os pilotos podem se ajudar, que é o que acontece na maioria das vezes. Um piloto acaba de mexer na moto dele e vai ajudar o próximo. [Espírito esportivo] É o mais bacana que tem na categoria. Além da questão de voltar às origens, essa família que todo ano é formada aqui na Self é muito bacana. O cara se inscreve para vir na Self porque ele sabe dos desafios que vai encontrar aqui. Acho que isso já conecta com todo mundo. É difícil não ter uma conexão muito intensa.”
CATEGORIA EM RISCO
A categoria Self surgiu em 2020, ficou sem competir em 2023, mas voltou em 2024. O propósito foi reviver os tempos antigos do Sertões, quando a estrutura era mais simples e sem muito conforto para todos os competidores de cada modalidade.
Marco Antônio é tricampeão da categoria e o principal entusiasta. Ele, no entanto, pretende parar de participar do Sertões em 2026, quando completará 20 edições disputadas somando todas as modalidades diferentes. Na visão dele, se não houver um novo responsável por carregar o legado, a Self corre o risco de ser extinta.
Eu acho que sempre tem que ter uma pessoa que gosta muito da categoria para defender e para tomar frente. Se eu não tivesse assumido essa responsabilidade, ela não continuaria. O risco é iminente. Quando eu parar de fazer a gestão dela, alguém tem que assumir. Eu vou ter que ter a obrigação de fazer alguém, algum amigo, dar continuidade a esse trabalho, porque eu acho que corre o risco dela terminar.
A categoria começou a edição deste ano com sete pilotos, mas agora são somente seis. Rummenigge Souza se lesionou durante a competição e deixou de competir.
A Self, além dos pilotos, é uma categoria promovida pelo Instituto Sertões. A ideia para as próximas edições é conseguir se enquadrar na Lei de Incentivo ao Esporte para melhorar a estrutura.
RALLY DO SERTÕES ENTRA NA RETA FINAL
O Rally do Sertões está em sua reta final. A competição deixará Luís Eduardo Magalhães (BA) nesta quinta-feira (29) e parte rumo à Formosa (GO), ficando na cidade goiana até sexta-feira (30). O campeonato termina no sábado (31), em Brasília.
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O repórter viaja a convite do Rally do Sertões
RENAN LISKAI / Folhapress