Celso Rocha de Barros diz na Flip que STF ajudou a salvar o futuro da democracia

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O sociólogo Celso de Rocha Barros diz que a mão firme contra tentativas de um novo golpe no Brasil são válidas, porque se for deixar para agir depois que o fato já foi consumado, “aí vão 50 anos só para tentar uma Comissão da Verdade”.

Colunista da Folha e autor de “PT, Uma História”, ele esteve neste domingo (26) na última mesa da Casa Folha na Flip, em papo conduzido pela jornalista Patrícia Campos Mello.

Não que o STF (Supremo Tribunal Federal) não cometa excessos, o que tem que ser combatido, mas no contexto de escalada antidemocrática puxada pelo bolsonarismo, qual seria a opção? “Acho que [a corte] ajudou salvar a democracia, a gente tem que bater palma para aqueles malucos mesmo.” O público obedece e aplaude.

Para Barros, punir arroubos golpistas é um sinal importante. “Tem que deixar claro que, se for brincar de golpe, você tá ferrado.”

Ele lembra que já em meados de 2021 defendeu prender Bolsonaro. Estende a cortesia para todos os filhos políticos políticos, bem como para Bia Kicis (PL-DF) e grande elenco bolsonarista. “Tem que ter 20 cassações seguidas de cadeia, tem que ter general em cana.”

A radicalização que vem na garupa do bolsonarismo é pior para a direita, segundo o sociólogo. Sugere imaginar algo similar na esquerda, se uns 20% do campo fosse um Sendero Luminoso da vida, a guerrilha peruana extremista.

Barros leva a sério o que vê como paulatino enfraquecimento da Presidência da República.

Primeiro traça uma cronologia: o trauma da ditadura varguista ajudou ajudou a urdir, em 1946, uma Constituição que esvaziava o controle do Executivo federal. A taxa de aprovação de projetos vindos dessa esfera caiu bastante. “O pessoal colocou um monte de limite no poder do presidente.”

Aí vieram o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros e o golpe militar de 1964. “Em 1988, tomaram cuidado de fazer a Presidência ter instrumentos para governar”, afirma. E o presidencialismo de coalizão, conceito cunhado por Sérgio Abranches para definir governos obrigados a negociar com um Congresso ultrafragmentado, funciona muito melhor do que a gente pensa.

Até a crise política bater a porta do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), seguida do impeachment, de um governo anêmico de Michel Temer e da eleição de Jair Bolsonaro (PL). O Congresso, segundo Barros, vê presidentes fracos, sem ter como exercer o devido poder, e pensa: “Vou pegar esse poder pra mim”.

Entram brechas atrás de brechas para ampliar a força do Legislativo. “Pegaram um pedação do orçamento e jogaram para aquelas emendas.”

O futuro é incerto. “A gente não sabe se alguém vai conseguir governar com essa nova regra. A quantidade de coisas que Lula tem que fazer com o Congresso para aprovar apenas uma fase da Reforma Tributária, acho insustentável.”

O poder de barganha tende a aumentar. O governo, diz, “já entregou a Caixa Econômica para os caras”, e não tem outras 50 Caixas para ceder mais cargos ao grupo. “Os caras queriam o Ministério da Saúde.”

Por ora, afirma o autor, a lógica é “me dá cargos se não não aprovo seu projeto”, mas pode rapidamente pular para “me dá cargos ou faço um impeachment”.

E a direita deveria se preocupar também, porque eventualmente vai eleger um presidente dela e ficar igualmente refém do bloco chamado de centrão.

O sociólogo foi questionado sobre o papel da primeira-dama no governo do marido. Acha que sua colega de ofício, com histórico de militância na esquerda, serve várias vezes de bode expiatório para o que vai mal na gestão petista. “Suspeito fortemente que tenha gente colocando na conta da Janja outras coisas.”

Para ele, é legítimo ela buscar carreira política, só “não pode atropelar a comunicação do governo”. “Às vezes acho que ela vai um pouco longe ao tomar posições que o governo ainda não tomou. Mas acho que é questão de aprendizado.”

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress

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