Cenipa extrai dados de avião da Voepass na França para checar sistema de degelo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Investigadores do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira, foram à França para extrair dados de chips retirados de computadores do avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) e matou 62 pessoas.

O diretor do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, afirmou à reportagem que havia sete computadores dentro da aeronave que armazenavam dados sobre o voo. Eles não são construídos para resistir a impactos, mas os investigadores conseguiram recuperar os equipamentos retorcidos e retirar os chips.

“Nós já conseguimos extrair alguns dados […]. Eles vêm em forma binária, de 0 e 1, e nosso pessoal trouxe os manuais da França para decodificar e entender o que significam esses dados”, disse ele após audiência na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (10).

Os computadores citados por Moreno são equipamentos que armazenam dados e enviam parte deles à caixa-preta FDR (gravador de dados do voo, em português). Há, porém, informações adicionais desses computadores que podem ser relevantes à investigação.

Como somente os laboratórios da fabricante da aeronave têm capacidade de extrair os dados, os investigadores do Cenipa tiveram de ir à França nas últimas semanas para checar se os dados estavam preservados.

Moreno disse que a extração dos dados é importante porque a caixa-preta do avião não possui informações que confirmem se o sistema de degelo da aeronave funcionava ou não.

Como mostrou o relatório preliminar da investigação, o piloto Danilo Santos Romano disse no início do voo que o mecanismo de quebra de gelo não operava da forma correta. O Cenipa ainda não conseguiu confirmar a suspeita.

“O que temos hoje no backup protegido, que é o gravador da caixa-preta de voz, é somente a informação de que aquele botão de liga e desliga foi ligado, on ou off. Hoje, não conseguimos dizer se foi o próprio piloto que ligou e desligou ou se foi um problema mecânico”, disse o brigadeiro em audiência da Câmara.

“Se o sistema pneumático funcionou e qual foi a pressão: essas informações não estão gravadas dentro do FDR [caixa-preta]. Estamos ainda buscando informações desses computadores que não são projetados para resistir ao impacto. Conseguimos retirar os chips, estamos buscando essa informação”, afirmou.

O diretor do Cenipa afirmou que os investigadores tentam confirmar informações sobre a pressurização do sistema de degelo das asas com os dados dos chips extraídos na França. “Não temos certeza se [o dado] estará disponível nesses computadores”, disse Moreno.

O Cenipa divulgou na sexta-feira (6) o relatório preliminar sobre a queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP). O parecer não se dedicou a entender como ocorreu o acidente, mas teve como foco descobrir o que aconteceu com a aeronave.

O reporte preliminar é produzido em até 30 dias após o acidente, segundo normas da Força Aérea Brasileira. No caso do acidente da Voepass, a investigação inicial se concentrou na análise das duas caixas-pretas da aeronave –uma que grava a voz da tripulação, outra que armazena dados do avião durante o voo.

A gravação do áudio mostrou que, logo no início do voo, ainda na fase de subida, o primeiro alerta de formação de gelo foi emitido pela aeronave. O piloto Danilo Santos Romano acionou o sistema de degelo do avião, mas percebeu em seguida que os mecanismos não funcionavam da forma correta.

“Um tripulante disse, na gravação de voz, que havia problema no sistema de-icing (degelo) […] O comentário de que haveria falha no sistema de-icing é apenas por voz, não conseguimos confirmar no FDR [caixa-preta com os dados da aeronave]”, disse o brigadeiro Marcelo Moreno na sexta.

O diretor do Cenipa reforçou, porém, que a possível falha do sistema ainda não foi confirmada. É preciso checar outros dados da aeronave e analisar os destroços para conferir se houve problema no mecanismo.

A investigação inicial também mostrou que segundos antes do avião cair, o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva disse que havia “bastante gelo” na aeronave. O relato dele coincidiu com alertas de possível congelamento de partes da aeronave, de baixa velocidade e de degradação de performance.

As condições meteorológicas indicavam alto índice de formação de gelo no trajeto feito pela aeronave. “Era previsto gelo severo na rota e previsão de formação de gelo nos níveis de 12 mil pés a 21 mil pés”, disse o investigador-encarregado pelo caso, tenente-coronel Paulo Mendes Fróes. O avião voava a 17 mil pés.

A tripulação ligou o sistema de degelo por três vezes durante o voo, diante dos alarmes emitidos pela aeronave. A última vez que o mecanismo para quebra do gelo foi ligado pelo piloto Danilo Santos Romano ocorreu 5 segundos após o copiloto Humberto alertar sobre o acúmulo de gelo.

O Cenipa informou que a aeronave estava com todos os registros de manutenção atualizados, e o funcionamento dos componentes do avião haviam sido checados no dia do acidente.

CÉZAR FEITOZA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS