SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Centenas de peixes apareceram mortos na beira do mar da praia do Gonzaga, bairro nobre de Santos, no litoral paulista, na quarta-feira (8). A prefeitura acionou órgãos ambientais para entender a origem do problema.
“A situação leva a crer que se tratou de um grande descarte de pesca de arrasto”, diz o biólogo marinho Eric Comin, 45. Comum na região, e legalizada, esse tipo de captura consiste no uso de rede lançada na água e transportada por embarcações.
“Percebi por imagens que circulam sobre isso de que eram inúmeras sardinhas, cujo valor de mercado não é alto. Quem pescou pode não ter tido interesse e, por isso, jogou”, disse Comin.
Ele, que também é mergulhador, conta que já presenciou descartes de peixes em alto mar, mas não tão numerosos assim. “Nesse caso recente uma parte viva certamente retornou ao ambiente natural. A outra foi parar na praia”.
Mestrando em biodiversidade e ecologia marinha pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde trabalha no LabecMar (Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha), Comin afirma que, estatisticamente, para cada quilo de camarão pescado há outros nove quilos de espécies diversas que acabam mortas -e sem aproveitamento comercial após a pesca.
Não foi a primeira vez que algo semelhante ocorreu na orla de Santos, que tem 7 km de extensão. Em fevereiro de 2014, na praia do Embaré (canal 5), peixes mortos na faixa de areia foram encontrados por banhistas. Em março de 2022, diversos peixes mortos foram retirados de dentro do canal 2 santista.
‘Prática recorrente’
Sobre o episódio desta semana, a Prefeitura de Santos informou que, ainda na quarta-feira, a Seinfra (Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos) iniciou a limpeza da área. Um trator foi usado para a remoção dos peixes mortos e o serviço, já finalizado.
Moradora vizinha do local, Carolina Santos, 43, constatou que, nesta quinta (9), que não mais havia peixes mortos próximos à praia.
Procurada pela reportagem, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) declarou que, “ao tomar conhecimento do fato, acionou a Semam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) para providências”.
A Prefeitura de Santos confirmou que uma equipe da Semam esteve no local e que, por sua vez, “acionou o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e a Polícia Ambiental, órgãos competentes pela fiscalização e investigação deste tipo de ocorrência”.
A assessoria do Ibama respondeu que o órgão “não foi acionado oficialmente sobre o caso”, mas que sua equipe “tomou conhecimento sobre o assunto”.
Acrescentou, ainda, que “a hipótese principal é que se trata de descarte de fauna proveniente da atividade de pesca, conhecido como fauna acompanhante, que ocorre devido ao baixo valor comercial desses animais e à falta de interesse dos pescadores em utilizá-los”.
O Ibama também comentou que “essa prática é recorrente quase todos os anos, especialmente nesta época, quando os ventos marinhos mudam para o quadrante sul, levando esses descartes do mar para a terra” e que “até o momento, não foi identificado dano ambiental significativo que impedisse o acesso e o uso da praia”.
A Polícia Ambiental esclareceu que faz fiscalização ostensiva de embarcações e seus apetrechos para evitar irregularidades durante a prática da pesca –e que, em casos de aparecimento de peixes já mortos, a providência é a recolha pela própria prefeitura, o que já ocorreu.
Novamente procurada, a assessoria da Prefeitura de Santos acrescentou que “a comunicação por parte da prefeitura foi feita por telefone tanto com o Ibama quanto com a Polícia Ambiental” e que “ambos os órgãos responderam que já estavam cientes da ocorrência”.
JOÃO PEDRO FEZA / Folhapress