BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O centrão intensificou a pressão para que o presidente Lula (PT) faça uma reforma ministerial mais ampla, em vez de trocar apenas a ministra Daniela Carneiro (Turismo), que é alvo da União Brasil.
Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reforçam que, para Lula conseguir ampliar a base parlamentar, é necessário abrir espaço no governo para partidos como PP e Republicanos e que seja entregue um ministério de elevado orçamento.
Esse movimento ocorre em meio às negociações para aprovar os projetos que tratam da retomada do chamado voto de qualidade no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) e do novo arcabouço fiscal, tidos como prioritários para o Ministério da Fazenda.
Sem uma base fiel, o governo enfrenta dificuldades para aprovar as duas matérias no plenário.
Em outra frente, líderes da União Brasil reforçaram nesta quarta-feira (5) ao governo que desejam comandar a Embratur, no Turismo, para se sentirem contemplados. Lula, porém, resiste a ceder.
Essas negociações colaboraram para adiar a troca efetiva de Daniela pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA). Nesta quinta (6), Daniela reuniu-se com Lula, ao lado do marido, Waguinho (Republicanos), que é prefeito de Belford Roxo, e o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais).
Num primeiro momento, o ministro Paulo Pimenta (Secom) afirmou que ela não entregou carta de demissão, mas depois ponderou que Daniela deixou o cargo à disposição de Lula e que sabe que será trocada no comando da pasta.
A informação de que a ministra não havia sido demitida gerou reação da União Brasil e levou Padilha a afirmar em nota, à noite, que marcará uma data para se reunir com líderes do partido e receber oficialmente a indicação de Sabino para comandar a pasta, como forma de acalmar os parlamentares.
Há expectativa de que o encontro ocorra ainda nesta sexta-feira (7).
Segundo integrantes do Planalto, Lula também queria aguardar o líder da União Brasil no Senado, Davi Alcolumbre (AP), que retornou de viagem a Brasília na noite desta quinta, para consolidar a indicação de Sabino.
Daniela chegou a convidar servidores do Turismo para uma reunião às 17h, mas, após ganhar uma sobrevida, cancelou o encontro, em que deveria fazer um balanço de despedida da pasta.
Integrantes da União Brasil esperavam que a troca de Daniela por Sabino ocorresse nesta quinta, em meio a votações importantes da Câmara. A nova demanda pela Embratur, no entanto, fez o Planalto segurar mais um pouco a troca da ministra, que ocorreria ainda no mês passado.
Líderes do grupo de partidos ressaltam que, do ponto de vista de votos, não faria diferença a troca de Daniela por Sabino. Eles já miram ministérios maiores, como Desenvolvimento Social, depois que Lula decidiu manter a pasta da Saúde blindada, e o Ministério do Esporte.
Parlamentares dizem que a primeira pasta poderia ser do PP, que indicaria alguém de fora do partido para comandá-la, já a segunda seria do Republicanos. Também é cobiçado o comando da Funasa (Fundação Nacional da Saúde).
A expectativa de integrantes do centrão é que Lula possa fazer trocas mais amplas na Esplanada em agosto, após o recesso parlamentar.
Ao ser questionado sobre o tema em entrevista nesta semana, Lira se esquivou de tomar posição e voltou a dizer que não fez pedidos sobre comandos de ministérios ao governo federal.
Ele afirmou que tem apreço pelos dois políticos e que cabe ao governo fazer suas escolhas políticas sobre como formar sua base de apoio. “Não me meti, é uma escolha do governo. Não posso avaliar se uma simples troca vai melhorar ou piorar.”
O centrão, liderado por Lira, não se deu por satisfeito com uma mudança pontual na Esplanada. O orçamento do Turismo é baixo e, sem a Embratur, o potencial de atuação do novo ministro fica limitado.
Ainda na quarta, o líder da União Brasil, Elmar Nascimento (BA), avisou ao ministro Padilha que o partido gostaria de assumir o Turismo desde que também pudesse comandar a estatal, que hoje é comandada por Marcelo Freixo (PT-RJ), aliado próximo de Lula.
Aliados de Lula defendem que as trocas sejam realizadas em conjunto para diminuir eventuais críticas junto à sociedade sobre o espaço cedido ao centrão. Dizem ainda que isso contemplaria de uma vez só mais de um partido, evitando ruídos com legendas que ficassem de fora num primeiro momento.
Segundo relatos, as negociações para destravar as votações do projeto do Carf e do arcabouço no plenário da Casa passam pela costura de uma reforma ministerial mais ampla.
O Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família, tem R$ 276 bilhões de orçamento mais do que Saúde e Educação. Como a Folha mostrou, o ministro Wellington Dias tem acumulado críticas dentro do Palácio do Planalto e também no Congresso Nacional.
Apesar de o presidente ter feito gestos para a atual titular dos Esportes, Ana Moser entrou na mira de parlamentares após o petista ter sancionado a Lei Geral do Esporte com uma série de vetos. Isso porque deputados afirmaram que não foram consultados sobre essas mudanças.
Para o comando da pasta dos Esportes é citado o nome do deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), próximo de Lira. Para o do Desenvolvimento Social, parlamentares defendem uma indicação do líder do PP na Casa, André Fufuca (MA).
Lula também resiste a trocar Wellington Dias (Desenvolvimento Social). Ele é um dos petistas mais próximos ao presidente.
JULIA CHAIB, THIAGO RESENDE E VICTORIA AZEVEDO / Folhapress