VAIRES-SUR-MARNE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O tcheco Martin Fuksa estabeleceu a melhor marca olímpica da história da prova C1 1.000 m da canoagem de velocidade. Liderou a final de ponta a ponta no Estádio Náutico de Vaires-sur-Marne, disparou à frente da concorrência, assegurou o ouro e deixou os demais atletas disputando as outras duas medalhas. Então, viu um carnaval brasileiro nos arredores de Paris.
Havia muitos torcedores de amarelo nas arquibancadas na arena montada para os Jogos Olímpicos. Eles celebraram bastante a ótima recuperação de Isaquias Queiroz, que pulou da quinta para a segunda colocação nos 250 metros finais do percurso de um quilômetro. No pódio, o baiano olhou para o público e chorou.
“Eu vi a arquibancada lotada de brasileiros e pensei: Cara, vieram me ver?. Imaginava que teria um ali, outro aqui. Então, foi realmente uma emoção muito grande, porque realmente vi o carinho que todo brasileiro tem por mim. Poder ganhar esta medalha e fazer valer a pena para quem saiu do Brasil, de outro país, para me ver, é muito gratificante”, afirmou.
O atleta, em seguida, interrompeu a entrevista que concedia ao lado da área de competição. Pediu desculpa aos jornalistas e foi até a parte de trás da arquibancada. Uma pequena multidão de brasileiros o aguardava e o recebeu com uma paródia do funk “Um Tapinha Não Dói”, transformado em “Isaquias Queiroz”.
“Fui retribuir o carinho de toda a torcida brasileira. Fiquei emocionado, não tem como não ficar. A canoagem no Brasil não tem tanta tradição ainda, estamos construindo esse lugar. Então, fiquei muito feliz com a oportunidade de remar ali e ver todo o mundo torcendo, gritando meu nome. Isso incentiva demais”, disse.
“Craziness”, observou em inglês um dos funcionários que tentava conter a “doideira” brasileira. “É, isto é o Brasil”, emendou em português um voluntário brasileiro dos Jogos. Foi necessário um esforço coletivo para retirar Queiroz da balbúrdia e levá-lo à entrevista oficial com os três medalhistas, parte do protocolo das competições.
Não houve, inicialmente, perguntas ao campeão Martin Fuksa ou ao dono do bronze, o moldovo Serghei Tarnovschi. Enquanto Queiroz reconstruía passo a passo sua trajetória rumo à prata, Fuksa se divertia com a situação e brincava com Tarnovschi. Dominada por jornalistas brasileiros, a entrevista teve até pergunta sobre a estratégia do baiano na bateria semifinal.
Então, um repórter da OBS, o serviço oficial de transmissão dos Jogos Olímpicos, sentiu-se obrigado a formular uma questão para Martin e outra para Serghei. Finalizada a sessão, Isaquias ainda foi cercado para imagens e últimas declarações, o que bloqueou a saída da sala. Fuksa riu mais uma vez, aguardou e, enfim, partiu discretamente com uma medalha de ouro no pescoço.
MARCOS GUEDES / Folhapress