PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Com o pedido de doações de itens de vestuário, higiene e alimentação aumentando à medida que mais pessoas precisam deixar suas casas no Rio Grande do Sul, moradores da capital Porto Alegre estão se voluntariando em centros de triagem para ajudar a organizar o material doado. As enchentes históricas causaram100 mortes no estado até a noite desta quarta-feira (8).
No bairro Jardim Botânico, o 35 CTG, centro de tradições gaúchas mais antigo do estado, funciona como uma base para recebimento e repasse de roupas e alimentos aos mais necessitados.
No local chegam veículos trazendo sacolas com doações de todo tipo, além de pessoas que saem do shopping Bourbon Ipiranga, do outro lado da rua, para entregar seus donativos em mãos.
De acordo com a estudante Mariana Dawas Vieira, que atua como voluntária no CTG e já ajudou em outros pontos de coleta e abrigo da cidade, os voluntários organizam duas filas paralelas quando chegam os carregamentos de doações, em carros ou caminhões, e passam os produtos de mão em mão. “Assim evitamos um acumulado de pessoas indo e voltando, buscamos otimizar o tempo”, diz.
Dentro dos centros de triagem, os sacos de roupa são abertos e separados em diferentes categorias: roupas femininas; masculinas; infantis; roupas íntimas; e sapatos.
“Na maioria dos pontos de triagem conseguimos separar também por tamanho e idade aproximada”, conta. “Colocamos dentro de sacolas que são etiquetadas e enviadas para abrigos ou disponibilizados em pontos de coleta.”
Comida e produtos de higiene e limpeza, por sua vez, são separados e embalados em formatos de kits e cestas básicas.
Com a previsão de chegada de uma frente fria ao estado, uma prioridade para os próximos dias é a doação de agasalhos, cobertores, roupa de cama e colchões.
Segundo a voluntária Mariana, a maioria das roupas que chegam estão em boa qualidade, e não é comum encontrar peças rasgadas ou impróprias para o uso, embora ainda aconteça.
Uma dica valiosa, dizem os voluntários, é que os sapatos venham juntos, com um pé preso ao outro com cordas ou fitas, por exemplo, para evitar que os pares se percam.
Quanto ao envio das roupas já separadas por tamanho e gênero, por exemplo, a estudante diz que houve um avanço em relação aos primeiros dias, quando as peças chegavam, em geral, todas misturadas.
“No entanto, estamos vendo com mais frequência sacos em que já está escrito o que há dentro, e isso ajuda muito, pois menos pessoas são necessárias para fazer essa triagem e podem assim ajudar em outros pontos”, afirma.
O professor de inglês Carlos Fernandes está atuando no transporte de doações dentro do complexo de triagem na CEEE, um dos maiores em operação, no bairro Jardim do Salso. Ele conta que observa uma predominância de roupas femininas entre os itens doados e diz que o maior problema enfrentado é, de fato, a doação de calçados incompletos ou em más condições. “Tem muito sapato sem par, sapato destruído”, lamenta.
Fernandes conta que há um local separado dentro da unidade de triagem para o envio de roupas impróprias para uso. Apesar de volumoso, ele diz que o montante é pequeno em comparação às peças de boa qualidade.
Segundo ele, na tarde desta quarta-feira os itens mais necessários eram água, colchões e roupas de bebê.
No ginásio Geraldo Santana, no bairro Santo Antonio, é feita a etapa seguinte à triagem, quando os desabrigados recebem roupas limpas, alimentos e um kit de produtos de higiene.
De acordo com a Prefeitura de Porto Alegre, 11.340 pessoas passaram por atendimento em abrigos até a manhã desta quarta. A Defesa Civil municipal afirma que mais de 15 mil pessoas já foram resgatadas na capital desde o início das chuvas no estado, em 29 de abril.
CARLOS VILLELA / Folhapress