CEO do ChatGPT critica inteligência artificial que simula amizade com pessoas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O executivo por trás do ChatGPT, Sam Altman, afirmou ter muitas desconfianças de modelos de inteligência artificial produzidos para mostrar simpatia com seres humanos. É o caso do Meta AI, da dona do Facebook, e da startup Character.AI, cofundada pelo brasileiro ex-Google Daniel de Freitas.

Essas duas tecnologias prometem colocar personalidades conhecidas em bate-papo online com os usuários. O portfólio da Character.AI inclui Taylor Swift, Napoleão Bonaparte, Tony Stark e o anjo caído Lúcifer. A Meta, por sua vez, tem personagens baseados no ex-marido de Gisele Bündchen, Tom Brady (também ex-jogador de futebol americano), no rapper Snoop Dogg e na modelo e influenciadora Kendall Jenner.

“Eu pessoalmente desconfio muito dessa visão de futuro em que as pessoas são muito próximas dos amigos feitos por IA e não tanto dos amigos humanos”, disse Altman na terça-feira (17) em evento de tecnologia promovido pelo jornal americano Wall Street Journal.

Ele, entretanto, reconheceu o direito de empresas empreenderem na área. “De um lado, avanços na área de personalização com IA são positivos, mas é importante distinguir interações com humanos e máquinas.”

“Tivemos muita intenção quando batizamos nosso produto de ChatGPT e não com o nome de uma pessoa. A OpenAI deixa claro que o cliente não fala com um ser humano”, acrescentou. GPT é uma sigla, em inglês, para transformador generativo pré-treinado, o nome técnico dado ao modelo por trás do robô gerador de textos.

No caso do modelo da dona do Facebook, Meta, os chats recebem nomes de personagens, moldados em torno de uma personalidade famosa. Snoop Dogg, por exemplo, inspira o Dungeon Master, que conversa com o usuário a respeito de um mundo medieval e faz rimas ao estilo do rapper.

O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, apresentou esse personagem no fim de setembro em evento da Meta. O tom descontraído definiu a conversa entre humano e máquina.

O modelo ainda está em fase de testes nos Estados Unidos e indisponível no Brasil. “No momento não há informações sobre a expansão para outros mercados”, diz a Meta à reportagem.

Também escalado para o evento do Wall Street Journal, o executivo responsável pelo Meta AI, Chris Cox, respondeu que a tecnologia deles tem um nome neutro. Sua apresentação foi logo depois da fala do chefe-executivo da criadora do ChatGPT, OpenAI. “Mas acho que há mais espaço para o lúdico e para a expressão.”

Os chatbots serão o futuro do entretenimento, para o cofundador e CEO da Character.AI, Noam Shazeer. Ele deixou o Google junto com o executivo brasileiro Daniel de Freitas para fundar a startup, hoje avaliada em R$ 25 bilhões, segundo estimativa da Bloomberg.

Desde o lançamento da versão de testes em setembro 2022, mais de 20 milhões de pessoas se inscreveram na plataforma. A revista Forbes a testou e disse que a tecnologia ainda era rudimentar.

Daniel de Freitas afirma, entretanto, que os personagens da Character.AI já bastam para distrair funcionários da startup do trabalho. Freitas incentiva seus empregados a jogar Ship AI, um jogo de aventura espacial baseado em texto narrado pelo chatbot da empresa.

Hoje, novos mercados de entretenimento como redes sociais e videogames movimentam muito mais dinheiro do que setores tradicionais como música, cinema, teatro e literatura. Isso é um sinal do poder desses produtos em reter a atenção do consumidor, o que atrai anunciantes, compradores e patrocínios.

Outros chatbots concorrentes do ChatGPT, como Pi e Claude, também foram treinados para mostrar mais elementos da conversa humana em suas respostas, mesmo que não sejam voltados ao entretenimento. O Pi, por exemplo, costuma instigar seu interlocutor com perguntas, numa estratégia retórica socrática.

Com menos investimento e num estágio mais rudimentar de desenvolvimento, outras plataformas prometem namorados(as) personificados com inteligência artificial. A experiência lembra a narrativa ficcional do filme “Her” (2013), do diretor Spike Jonze.

O chatbot de IA Replika, por exemplo, era capaz até junho de encenar falas eróticas. Quando a empresa responsável pela tecnologia proibiu essas respostas, usuários reclamaram que a inteligência artificial “havia sido lobotomizada”, de acordo com o site especializado Business Insider.

As pessoas tendem a enxergar humanidade nas plataformas de IA pela fluidez das sequências de palavras entregues pela tecnologia. Esse processo foi batizado de Efeito Eliza, em homenagem ao primeiro chatbot, criado ainda na década de 1960.

Os modelos de inteligência artificial como o ChatGPT, entretanto, funcionam como um papagaio estatístico: são treinados para chutar qual a próxima palavra mais provável para dar continuidade a um bloco de texto.

“São capazes de reproduzir a linguagem na qual foram treinados, mas não de pensar sobre o que estamos pedindo para eles fazerem”, disse em entrevista à Folha a professora do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Pattie Maes.

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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