Cerimônia do manto tupinambá é adiada em meio a conflito entre museu e indígenas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cerimônia de celebração do retorno do manto tupinambá ao Brasil foi adiada e ainda não tem uma nova data marcada pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro, que tem a tutela da relíquia indígena. O evento estava marcado para esta semana, de quinta (29) a sábado (31).

O adiamento acontece em meio a conflitos entre a administração do museu e lideranças tupinambás, que formam um grupo de trabalho responsável pela repatriação do manto, que aconteceu no início de julho.

Em nota, a assessoria de imprensa do museu informou está participando de reuniões para que a data seja definida. A instituição, ligada a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), nega que haja conflito entre as partes.

Mas no dia 19 o Conselho Indígena do Povo Tupinambá de Olivença (Cito) publicou um vídeo em sua página no Instagram no qual mostra um desentendimento entre o diretor do museu, Alexander Kellner, e os caciques, durante uma reunião na Bahia.

O gestor foi interrompido por indígenas após negar a afirmação de que o povo tupinambá teria sido informado sobre a chegada do manto, via WhatsApp, quatro dias depois da repatriação. Kellner teve o microfone tirado de suas mãos, conforme mostra o vídeo abaixo.

A cacica Jamopoty Tupinambá (Maria Valdelice Amaral de Jesus), de 62 anos, afirmou à reportagem que o acordo com os indígenas seria receber o manto ainda no aeroporto, mas que a chegada da peça aconteceu de forma sigilosa e só foi informada depois.

Em outra postagem na semana passada, o Cito mencionou “violência espiritual”, em meio a fotos da reunião com a direção do museu na aldeia tupinambá. “A violência espiritual é uma forma insidiosa e profunda de agressão, que atinge a essência do ser humano, sua alma e sua conexão com o sagrado. Diferente das formas físicas ou psicológicas de violência, a violência espiritual busca minar ou destruir a fé, as crenças, e a identidade espiritual de uma pessoa ou de uma comunidade”, afirma a postagem.

Por outro lado, o Museu Nacional diz que enviou a todos os integrantes do grupo de trabalho, inclusive aos indígenas, um email sobre a chegada do manto. A instituição afirma ainda que o comunicado foi impresso e mostrado aos tupinambás.

“A direção do Museu Nacional/UFRJ nega que haja qualquer conflito com lideranças indígenas do povo tupinambá. A interpretação do vídeo ao qual a Folha se refere não é correta e é apresentada totalmente fora de contexto”, diz o museu em uma nota de sua assessoria de imprensa.

“É importante reforçar que, em momento algum, o diretor do museu, Alexander Kellner, classificou qualquer integrante do povo tupinambá como mentiroso. Ele apenas esclareceu que não é verdade que os indígenas tenham sido informados pela direção do Museu Nacional, sobre a chegada do Manto Tupinambá, via mensagem pelo aplicativo WhatsApp.”

MANTO TUPINAMBÁ

O manto, uma peça de cerca de 1,20 metro de altura por 80 centímetros de largura, é considerado uma entidade sagrada pelos indígenas tupinambás. Ele teria sido levado à Europa por holandeses, por volta de 1644.

Confeccionado em sua maioria com penas de guarás, mas também com plumas de papagaios, araras-azuis e amarelas, a peça foi doada pelo Museu Nacional da Dinamarca, que detém desde 1689 outras quatro peças como essa.

Embora existam registrados 11 mantos espalhados pelo mundo, esta é a primeira vez que a peça fará parte do acervo de um museu brasileiro.

De acordo com a pesquisadora Amy Buono, professora de história da arte da Universidade de Chapman, nos Estados Unidos, além da peça que agora está sob posse do Brasil, todas as demais estão na Europa, conforme a lista abaixo:

Copenhague, no Museu Nacional da Dinamarca, tem 4 mantos;

Florença (Itália), no Museu de História Natural de Florença, tem 2 mantos;

Basileia (Suíça), no Museu das Culturas, tem 1 manto;

Bruxelas (Bélgica), no Museu Real de Arte e História, tem 1 manto;

Paris (França), no Museu das Artes e Civilizações da África, Ásia, Oceania e Américas, tem 1 manto;

Milão (Itália), na Biblioteca Ambrosiana, tem 1 manto.

JORGE ABREU / Folhapress

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