Chang’e 6 pousa no lado afastado da Lua para colher amostras

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A missão chinesa Chang’e 6 realizou com sucesso na noite deste sábado (1º) sua alunissagem na cratera Apollo, tornando-se a segunda espaçonave a pousar no hemisfério afastado da Lua.

A primeira também foi a chinesa Chang’e 4, que em 2018 inaugurou a exploração in situ da face lunar que jamais é vista da superfície terrestre. Mas a nova missão se assemelha mais à Chang’e 5, que em 2020 realizou o primeiro retorno robótico de amostras lunares do século 21.

A Chang’e 6 é praticamente uma réplica de sua predecessora imediata, porém voltada à exploração do lado afastado lunar. Sua operação é mais complexa, porque não há linha de contato direto com a Terra, tornando necessário um satélite de retransmissão.

O pouso ocorreu cerca de 40 minutos antes do esperado, às 20h23 (de Brasília), e iniciou a fase mais ativa da missão, que envolverá cerca de 48 horas para checagem de equipamento e o uso de um braço robótico e uma perfuratriz para extrair cerca de dois quilos de rochas lunares que serão então carregados no veículo de ascensão, que os levará à órbita lunar, onde ele se encontrará com uma nave-mãe, responsável por trazer as amostras de volta à Terra.

Caso tudo dê certo, os cientistas chineses devem ter as amostras de volta em 25 de junho. E eles estão ansiosos por estudá-las, a fim de desvendar o que faz o lado afastado lunar ser tão diferente da face que fica sempre voltada para a Terra.

Igualmente ansiosos estarão os parceiros internacionais que se envolveram na missão. Além dos experimentos chineses embarcados, há um medidor de íons desenvolvido na Suécia e um detector de radônio fornecido pela França que devem operar na superfície lunar. Um retrorrefletor italiano –instrumento passivo que ajuda a medir a distância entre espaçonaves e a superfície lunar– completa o pacote de cargas úteis estrangeiras.

Um quarto país também participa da missão, o Paquistão, mas apenas a partir da órbita –um pequeno satélite universitário chamado Icube-Q foi colocado para girar ao redor da Lua junto com o orbitador da Chang’e 6, apenas quatro dias após o lançamento da missão, em 3 de maio, e cumpriu todos os objetivos previstos, que envolviam fotografar a Chang’e 6, a Terra e a Lua, além de colher dados de magnetismo lunar (a Lua não tem um campo magnético criado por um geodínamo interno, como o da Terra, mas há rochas magnetizadas presentes em sua crosta).

A cooperação internacional prosseguirá após o fim da missão. Num primeiro momento, amostras colhidas pela Chang’e 6 serão disponibilizadas para estudo por instituições chinesas, mas depois elas serão também disponibilizadas a cientistas de outros países. Até mesmo a Nasa terá uma chance, a julgar pelo que aconteceu com as amostras colhidas pela Chang’e 5.

A despeito de haver uma lei imposta pelo Congresso dos EUA que proíbe cooperação bilateral com a China em assuntos espaciais, o governo americano abriu uma exceção e autorizou pesquisadores da agência a solicitarem amostras.

Os dois países estão numa corrida para retomar a exploração lunar tripulada, com objetivos de estabelecerem uma base no polo sul. Ambos trabalham no momento com missões robóticas, os chineses focados no tradicional modelo de voos conduzidos por uma agência espacial estatal, e a Nasa buscando parceiros na iniciativa privada para fornecer serviço de transporte de cargas úteis até a Lua. A primeira missão comercial de pouso lunar da história, por sinal, aconteceu em fevereiro deste ano, conduzida pela empresa Intuitive Machines, de Houston. Pelo menos mais duas devem acontecer ainda em 2024.

Quanto ao programa tripulado, a Nasa espera voltar à órbita lunar com astronautas em 2025, com a missão Artemis 2, e levá-los à superfície no ano seguinte, com a Artemis 3. Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que essa missão possa acontecer, e provavelmente vai atrasar. Já os chineses ambicionam ter uma alunissagem tripulada até 2030.

SALVADOR NOGUEIRA / Folhapress

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