Charge em agência estatal da Venezuela faz túnel ligando Itamaraty aos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A agência de notícias estatal da Venezuela divulgou, neste domingo (4), uma charge na qual retrata o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, conectado à embaixada dos Estados Unidos, em mais um ataque do regime ao Itamaraty.

Na imagem, publicada nas redes sociais da Agência Venezuela News, o Tio Sam, personagem-símbolo da nação norte-americana, cava um túnel entre os dois prédios, sugerindo uma ligação obscura entre Brasil e EUA ou uma manipulação do Itamaraty por Washington.

A ditadura de Nicolás Maduro insiste nessa acusação desde que o Brasil vetou a entrada de Caracas no Brics durante a cúpula do grupo em Kazan, na Rússia, há quase duas semanas.

Em 24 de outubro, um dia após a divulgação da lista de convidados a entrar no bloco, na qual a Venezuela não foi incluída, o alvo foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A charge em questão retratava um senhor de feições parecidas com as do petista no cavalo de troia. A alegoria é usada para denunciar algum tipo de manipulação —no caso, Lula estaria disfarçado de aliado da Venezuela enquanto age de acordo com os interesses americanos, como os guerreiros gregos teriam feito ao se esconderam em um cavalo de madeira dado de presente aos troianos, de acordo com a mitologia.

Desde então, outras quatro charges atacando Lula foram publicadas.

Na primeira, ele sai de um armário vestindo um terno estampado com as cores da bandeira dos EUA. Na segunda, ele observa, com o chapéu do Tio Sam, Maduro e Vladimir Putin, presidente da Rússia, se cumprimentando —o ditador foi de última hora a Kazan para participar da cúpula, na tentativa de reverter o veto.

Na terceira, Lula é retratado como um cachorro saindo de uma caixa de transportes para pets deixada por uma pessoa que veste uma manga com as cores da bandeira dos EUA. Na charge, o presidente se encontra com outros dois líderes, também representados como cachorros —Javier Milei, da Argentina, e Gabriel Boric, do Chile. Em pontas opostas do espectro ideológico (o argentino é ultraliberal, e o chileno, de esquerda), ambos são críticos do regime de Maduro.

A associação de símbolos americanos a críticos é uma constante na propaganda da ditadura venezuelana. Das 34 últimas charges publicadas pela agência, por exemplo, em 12 aparecia alguma referência aos EUA.

Nas últimas semanas foram retratados como representantes de interesses americanos a líder opositora María Corina Machado e a conselheira do Carter Center para a América Latina, Jennie Lincoln —a organização afirma que, com base nas atas eleitorais divulgadas pela oposição após as últimas eleições, em julho, o adversário de Maduro, Edmundo González, venceu. Já o regime reivindica a vitória do ditador, sem apresentar os documentos.

A novidade dos últimos dias é que a artilharia se voltou contra o governo Lula, visto até o início do ano como um aliado do regime. O escândalo que se desenhou após as inúmeras denúncias de irregularidades durante as eleições em 2024 dificultou a sustentação da aliança.

Na derrocada da relação, até mesmo o assessor especial de Lula para assuntos exteriores, Celso Amorim, virou um “mensageiro do imperialismo norte-americano”. Notório entusiasta do que vem sendo chamado de Sul Global —expressão comumente usada para países em desenvolvimento—, o ex-chanceler brasileiro é um dos fundadores do Brics.

O Itamaraty tem escolhido não reagir aos ataques.

DANIELA ARCANJO / Folhapress

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