Charlotte Rampling emociona em ‘A Matriarca’, sobre reconciliação familiar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio às paisagens bucólicas da Nova Zelândia, os desafios de consertar relações familiares são postos à prova em “A Matriarca”, filme com ares autobiográficos escrito e dirigido por Matthew Saville e estrelado pela veterana Charlotte Rampling, em cartaz nos cinemas.

Ruth, interpretada por Rampling, é uma fotógrafa de guerra aposentada. Ela se muda da Inglaterra para a Nova Zelândia, na casa do filho que não via há muitos anos, após uma fratura na perna que a impossibilita de andar.

Mãe e filho não criaram vínculos afetivos desde que ela o enviou para um internato ainda na infância, enquanto realizava seus sonhos profissionais.

“Ruth é uma pessoa que você consegue admirar porque ela é livre e muito independente. Ela toma o controle da vida em suas próprias mãos, mas talvez de uma maneira um pouco irresponsável no que diz respeito à sua família”, afirma Rampling.

As rachaduras criadas nessa relação familiar são o motor para a narrativa do filme, de modo que Ruth não é a única pessoa desconfortável com essa mudança repentina.

Enfrentando o luto após a morte da mãe, Sam, um jovem de 17 anos interpretado pelo neozelandês George Ferrier, vive uma fase solitária e autodestrutiva. Ao voltar para casa da escola interna onde estuda, ele descobre que terá que passar a conviver com a avó que nunca havia conhecido, além de ajudar a enfermeira Sarah, papel de Edith Poor, a cuidar da idosa.

A personalidade forte, e muitas vezes rude, da idosa combinada com seu vício em álcool amplificam os atritos iniciais entre avó e neto. Os dois parecem ter dificuldade em aceitar as diferenças e semelhanças que enxergam entre si.

Obrigados a conviver e a cuidar um do outro, a relação dos dois é construída pouco a pouco, em meio a sentimentos que vão da raiva à admiração.

Conforme Ruth fala de suas viagens, aventuras da juventude e experiências profissionais na guerra, o jovem passa a compreender melhor a mulher que sua avó se tornou. Ela também começa a entender melhor a realidade do neto quando adentra em sua vida na fazenda e conhece seus amigos.

Um dos grandes dilemas desta protagonista é ter que encarar, já na terceira idade, as consequências das escolhas que fez em seu passado, ao retomar o contato com pessoas que ela sempre evitou.

“Muitas vezes passamos por situações bastante disruptivas no relacionamento com nossas famílias, mas depois é bom poder fazer as pazes e encontrar maneiras de nos sentirmos melhores uns com os outros”, diz a atriz.

O longa é inspirado na juventude do próprio diretor, que também conheceu sua avó em condições semelhantes. Ele diz que buscou retratar nessa história alguns dos temas mais fortes com os quais somos confrontados durante a vida, como amor, morte, luto e vergonha.

De acordo com ele, apesar de tratar de temáticas pesadas, o filme aborda tais questões com leveza e bom humor. Sem se prender ao sentimentalismo, Saville busca contar uma história de amor familiar.

Segundo Rampling, o filme fala sobre voltar para espaços que nós sabemos que precisamos voltar, mesmo que encarar essa decisão seja desafiador. “Ruth está voltando para um lugar onde ela sabe que não é realmente aceita, porque abandonou sua família, mas sabe que, no fim das contas, precisa deles”, diz ela.

A atriz, que já foi indicada ao Oscar em 2016, por sua atuação no filme “45 Anos”, acredita que a beleza de “A Matriarca” está na possibilidade de o público se identificar com os personagens e com os atritos e reconexões comuns nas relações familiares.

“Essa é uma história muito simples, você talvez até saiba o que vai acontecer à medida que o filme vai passando, mas ela é contada com o coração. Estamos levando aos espectadores uma história que faz as pessoas sentirem certas coisas que são importantes de serem sentidas.”

Rampling, que também está no elenco de grandes produções, como “Duna: Parte 2”, diz preferir trabalhar em filmes independentes. Para ela, esse tipo de projeto tem um caráter mais intimista e possibilita uma conexão mais próxima com o público.

“Gosto desses filmes que não falam alto, com muita música, com muita narrativa, com muitas pessoas fazendo coisas, mas apenas silenciosamente fazem você sentir algo especial sobre a humanidade”, afirma.

ISAC GODINHO / Folhapress

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