LONDRES, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – O arcebispo da Cantuária, Justin Welby, renunciou ao cargo de chefe da Igreja Anglicana nesta terça-feira (12). O anúncio foi feito dias depois que um relatório criticou a atuação do religioso no que é considerado o pior caso de abuso infantil dentro da instituição.
A renúncia “é do interesse da Igreja da Inglaterra, que eu profundamente amo e que tive a honra de servir”, afirmou Welby. Ainda não está claro quando ele deixará de fato o cargo.
Ele declarou esperar “que essa decisão mostre o quanto a Igreja da Inglaterra entende que precisa de mudanças” e falou em “profundo comprometimento em criar uma igreja mais segura”.
Aos 68 anos, Welby era o líder da igreja oficial do Reino Unido desde 2013. O arcebispo é o responsável, por exemplo, por coroar os monarcas ingleses e celebrar casamentos e funerais da família real. Welby esteve presente no casamento do príncipe Harry, em 2017, no enterro da rainha Elizabeth 2ª, em 2022, e na coroação do rei Charles 3º, em 2023.
A Igreja Anglicana tem 85 milhões de fiéis em 165 países, de acordo com a própria arquidiocese da Cantuária.
Welby vinha sofrendo duras críticas dentro da instituição pela maneira como lidou com as denúncias de abuso sexual, psicológico e físico contra John Smyth, por décadas diretor de uma organização cristã chamada Iwerne Trust. Um abaixo-assinado pedindo a renúncia de Welby chegou a 8.000 assinaturas de membros do sínodo geral, órgão legislativo da Igreja Anglicana.
Um relatório publicado na semana passada por uma comissão independente revisou o caso de John Smyth, religioso que chefiava um acampamento de verão e que foi acusado de abusar de mais de cem meninos no Reino Unido e depois em países da África dos anos 1970 a meados dos anos 2010.
O documento afirma que a Igreja Anglicana acobertou “abusos abomináveis” e implicou diretamente o arcebispo da Cantuária, afirmando que ele havia tomado conhecimento dos abusos ainda nos anos 1980.
A investigação também afirma que Welby e Smyth estiveram juntos em vários acampamentos cristãos de 1975 a 1979. O arcebispo sempre afirmou que ficou sabendo dos casos apenas em 2013, momento em que as denúncias ganharam força.
O suposto abusador morreu em 2018, aos 77 anos, na Cidade do Cabo (África do Sul). O caso estava sendo investigado pela polícia britânica à época, o que significa que Smyth nunca foi punido pelos atos.
Segundo o relatório publicado no dia 7 de novembro deste ano, ele foi realocado pela igreja para a África depois que membros de alto escalão já sabiam sobre as denúncias contra ele.
Em declaração na semana passada, o arcebispo reafirmou não ter conhecimento das acusações antes de 2013, mas disse que “o relatório é claro [ao afirmar] que eu falhei depois que as acusações vieram à tona em não promover uma investigação energética dessa terrível tragédia”.
Welby também pede desculpas por não ter se encontrado com as vítimas até 2020. O escândalo veio a público em 2017, com uma reportagem do canal de televisão britânico Channel 4.
Antes de ser escolhido para chefiar a Igreja Anglicana, Welby foi bispo da região de Durham, no noroeste da Inglaterra, durante pouco mais de um ano e executivo da indústria de petróleo. A escolha de um novo arcebispo da Cantuária pode demorar meses.
ALGELA BOLDRINI / Folhapress