SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chefe de uma controversa organização criada para distribuir ajuda humanitária na Faixa de Gaza com o apoio de Estados Unidos e Israel renunciou inesperadamente neste domingo (25), um dia antes de o grupo iniciar suas operações no território palestino.
O agora ex-diretor da Fundação Humanitária de Gaza, Jake Wood, disse ter abandonado o cargo que ocupou por dois meses porque a organização não conseguiria aderir aos “princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência”.
A justificativa ecoa críticas de outros grupos humanitários e da ONU, que se recusaram a participar de um esquema que pode “desrespeitar o direito internacional”, segundo afirmou na semana passada o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
A organização registrada na Suíça depende de quatro grandes centros de distribuição no sul de Gaza número insuficiente para alcançar os mais de 2 milhões de pessoas em risco de fome no território palestino, de acordo com críticos. Segundo funcionários humanitários, esses centros determinariam se as famílias atendidas têm envolvimento com o Hamas por meio de tecnologia de reconhecimento facial.
A prática contraria resoluções da Assembleia-Geral da ONU segundo as quais a ajuda humanitária deve se guiar apenas pela necessidade das pessoas afetadas, sem qualquer distinção religiosa, política ou ideológica.
Além disso, os grupos afirmam que o novo sistema compromete o princípio de que a ajuda deve ser supervisionada por uma parte neutra. Israel, por sua vez, diz que não estará envolvido na distribuição da ajuda, embora tenha endossado o plano e afirmado que vai fornecer segurança.
A despeito das inúmeras críticas, a fundação disse que começaria as entregas nesta segunda (26) com o objetivo de alcançar um milhão de palestinos até o final da semana. “Planejamos expandir rapidamente para atender toda a população nas próximas semanas”, afirmou a entidade em um comunicado.
O Hamas condenou o novo sistema, dizendo que ele “substituiria a ordem pelo caos, imporia uma política de fome planejada aos civis palestinos e usaria alimentos como arma durante a guerra”. Israel diz que o sistema visa separar a ajuda do grupo terrorista, que diz proteger comboios de gangues de saqueadores armados.
Independentemente da guerra de versões, o imbróglio joga na incerteza a distribuição da pouca ajuda que entrou no território palestino após quase 80 dias de bloqueio de Tel Aviv.
Sob intensa pressão internacional, autoridades israelenses permitiram, na semana passada, a entrada de algumas centenas de caminhões com alimentos para a população. O número, porém, está aquém do que registrado diariamente mesmo antes da guerra, quando hospitais e armazéns de alimentos não haviam sido bombardeados.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou nesta segunda que a maioria dos estoques de equipamentos médicos em Gaza se esgotou, enquanto 42% dos medicamentos básicos, incluindo analgésicos, estão em falta.
O número de mortos em Gaza desde o início da guerra, em outubro de 2023, já ultrapassa 53 mil, segundo autoridades locais a maioria seria formada por civis. Desde março, quando o Estado judeu rompeu um cessar-fogo de dois meses, a cifra voltou a crescer rapidamente.
A extensão das mortes nas últimas semanas fez até mesmo a Alemanha, aliada que costuma ser comedida em críticas a Israel, criticar Tel Aviv. “Prejudicar a população civil em tal extensão, como tem ocorrido cada vez mais nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas”, disse o premiê Friedrich Merz à rádio pública alemã WDR.
Já a União Europeia aprovou, na semana passada, a revisão de um acordo de associação com Israel. O chefe da diplomacia da Espanha, José Manuel Albares, declarou no domingo que a comunidade internacional deveria pensar em sanções contra a nação para interromper a guerra em Gaza. A declaração ocorreu durante uma reunião em Madri com representantes de nações árabes e europeias, além do Brasil.
Apesar da crescente pressão internacional, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse na semana passada que Israel controlaria toda a Faixa de Gaza. Segundo o Hamas, Tel Aviv assumiu o controle de cerca de 77% do território por meio de forças terrestres ou ordens de evacuação e bombardeios que mantêm os moradores longe de suas casas.
Redação / Folhapress
