Cheiro de lágrimas, rosas, grama e chuva guiam obras de mostra de Karola Braga

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Karola Braga, artista conhecida por sua pesquisa olfativa, cujas obras conduzem o público por experiências corpóreas e emocionais ligadas a cheiros, está em cartaz com a mostra “Inalação” na galeria Luis Maluf, em São Paulo. Entre os trabalhos, há pinturas e até um mictório por onde corre água de rosas.

A obra em questão é “Fonte”, que faz uma referência ao canônico urinol de Marcel Duchamp. Mas, ao adaptar um mictório para que corra nele água de rosas, Braga revisita a experiência histórica do século 17, quando se iniciaram práticas de dispersar perfumes em fontes para encobrir o cheiro de urina. A artista “ressignifica o objeto como um receptáculo para os sentidos e não apenas um lugar de dejetos”, segundo o curador Marcello Dantas.

Ela pesquisa ainda a atribuição de significados aos cheiros e como eles foram moldando com o tempo as práticas sociais e culturais.

Nas pinturas, a artista retrata vaginas e explora a ideia de que o cheiro do órgão feminino deve ser mascarado com uma gama de produtos de higiene. Para Braga, a pressão para dominar e regular esses odores “reflete uma sociedade que vê a sexualidade feminina como algo ameaçador e descontrolado”.

Na obra “Lágrimas”, três receptáculos com líquidos aromáticos evocam emoções diferentes. Com fórmulas químicas variadas, as lágrimas convidam o visitante a sentir e interpretar cada aroma. Karola Braga pesquisou a composição de seus próprios fluidos em momentos de tristeza profunda, alegria eufórica e melancolia. A partir das análises, criou interpretações olfativas para cada uma das emoções —a lágrima que representa a alegria é adocicada, enquanto a melancolia tem um cheiro que lembra a terra molhada.

Os visitantes podem ainda explorar narizes de resina espalhados pela galeria, feitos com molde do rosto da própria artista. Eles contêm aromas como capim santo, grama e chuva.

A primeira individual da artista ocorre logo após sua participação na terceira edição da mostra Desert X AlUla, conhecida como a bienal do deserto, na Arábia Saudita. No evento, realizado no início do ano, ela apresentou “Sfumato”, uma obra que evoca a land art —movimento artístico do final dos anos 1960 que partia de intervenções na natureza— com cheiros na paisagem.

A obra fazia uma leitura do período quando aquela região constituía a antiga rota do incenso e era parada das caravanas de comerciantes de especiarias aromáticas. Os incensos continham fragrâncias de olíbano e mirra, com valor histórico na região.

Questionada sobre a continuidade de sua pesquisa, Braga diz que há muito a experimentar. “Os cheiros são pouco explorados no contexto artístico e têm uma complexidade que me fascina. Os desafios de apresentar isso como objeto artístico me estimulam muito.” A exposição pode ser visitada na Galeria de Arte Luis Maluf até 24 de julho.

INALAÇÃO

– Quando Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 24 de julho

– Onde Luis Maluf Galeria de Arte – r. Peixoto Gomide, 1887, São Paulo

– Preço Grátis

– Classificação 18 anos

ANA BEATRIZ GARCIA / Folhapress

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