SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As tempestades que castigam o norte da China são as mais intensas em 140 anos, desde o início da série histórica, anunciaram autoridades nesta quarta (2). As chuvas intermitentes provocam mortes e deixam um rastro destruição, levando à mobilização de milhares de socorristas para operações de emergência.
As precipitações na região de Pequim começaram no sábado (29), com a chegada do tufão Doksuri. Em apenas 40 horas, a capital chinesa acumulou o índice pluviométrico esperado para todo o mês de julho.
Em quatro dias, foram 744,8 milímetros de chuvas. Trata-se do maior volume em mais de um século: o recorde anterior era de 1891, quando 609 milímetros foram registrados, segundo o Serviço Meteorológico de Pequim.
O tufão foi rebaixado a depressão tropical e as chuvas eram mais fracas nas últimas horas, porém continuam provocando estragos. Autoridades reiteram que os riscos de inundações e desastres geológicos permanecem. Na véspera, a imprensa estatal havia informado que ao menos 20 pessoas tinham morrido e 19 estavam desaparecidas na região os números não foram atualizados nesta quarta.
Uma das províncias mais atingidas é Hebei, a sudoeste da capital, onde autoridades declararam estado de emergência. Quase 800 mil pessoas tiveram de ser retiradas de suas casas na região, e a precipitação média desde sábado era de 355 milímetros, segundo os meteorologistas.
Mais de 130 mil pessoas, ou um sexto da população, tiveram de ser retiradas de Zhuozhou, em Hebei. O município tinha bairros inteiros alagados, e o canal estatal CCTV transmitiu imagens de dezenas de moradores ilhados. As inundações provocaram a interrupção do fornecimento de água e de energia elétrica. Quase 650 hectares de terras agrícolas foram destruídos.
O departamento de segurança pública local disse a cidade precisa com urgência de jangadas, coletes salva-vidas e suprimentos de emergência. Moradores disseram que as águas subiram até quatro metros, e cerca de 9 mil socorristas foram enviados ao município.
Ilhados, moradores de Zhuozhou recorreram às redes sociais para reclamar da demora do resgate. Funcionários de uma livraria online escreveram na plataforma WeChat que estavam presos no quarto andar do prédio da empresa, onde mais de quatro milhões de livros estavam armazenados.
Apesar da crise, o governo de Pequim suspendeu o alerta vermelho para inundações nesta quarta, depois que o “fluxo na maioria dos rios voltou a ficar abaixo do sinal de alarme”, segundo a agência estatal Xinhua. Na véspera, o líder chinês, Xi Jinping, pediu esforços para evitar outras mortes, mas buscou minimizar a situação, orientando autoridades locais a restaurar a rotina habitual o mais rápido possível.
A atenção se volta agora para as operações de resgate: centenas de socorristas da Cruz Vermelha foram enviados às áreas mais afetadas para desbloquear vias e ajudar nas operações de salvamento. Em visita ao distrito de Mentougou, um dos mais afetados na capital, o vice-primeiro-ministro Zhang Guoqing disse que “a prioridade era salvar vidas e lutar contra o tempo para encontrar desaparecidos e pessoas ilhadas”.
No distrito de Fangshan, também em Pequim, correspondentes da agência de AFP descreveram um parque completamente inundado. Toneladas de resíduos, arrastados pela água, estavam acumuladas perto de uma ponte.
O tufão Doksuri chegou à China na sexta (28), tendo passado antes pela ilha de Taiwan e pelas Filipinas. Ele foi um dos poucos tufões a atingir Pequim desde que os registros começaram a ser feitos, em 1951 um deles, em 1956, provocou precipitações de quase 300 mm.
Meteorologistas alertam que outro tufão, o Khanun, está prestes a atingir a densamente povoada costa chinesa. Segundo eles, a nova tempestade pode agravar os prejuízos causados pelo Doksuri.
Com ventos de até 234 quilômetros por hora, o Khanun foi considerado “muito poderoso” nesta quarta pela Agência Meteorológica do Japão. O tufão atingiu a região Okinawa, no sul japonês, e quase 200 mil casas ficaram sem energia. Um homem de 90 anos morreu depois que sua garagem desabou, provavelmente devido às rajadas de vento, segundo a imprensa local. Outras 35 pessoas ficaram feridas.
Espera-se que o tufão Khanun chegue à China no sábado (5). Por ora, quase 127 mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas em Pequim (com 22 milhões de habitantes) e 847 mil em Hebei (74 milhões de habitantes), segundo balanço atualizado. A imprensa estatal alertou na semana passada que aproximadamente 130 milhões de habitantes seriam afetados pelas chuvas intensas no norte do país.
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
A Ásia foi o continente mais afetado, contabilizando mais de 3.400 desastres nesse período, responsáveis por quase 1 milhão de mortes. Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima), diz que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi gerada por ações humanas.
Redação / Folhapress